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27/12/2006 18h35
Depois do Natal...
Boa noite!
Aqui no Rio, por conta do horário de verão, ainda é tardezinha, e sopra uma brisa agradável, depois de um dia de sol e calor intenso. Uma certa preguiça bate na gente, mas não posso deixar o corpo dominar, uma vez que a labuta não perdoa os ociosos.
Depois do Natal, tenho essa tendência a uma manemolência inexplicável, talvez fruto de libações gastronômicas natalinas ou, quem sabe, pela proximidade do fim do ano, e uma certa relutância em trocar o certo pelo duvidoso.
Sempre tive dificuldade de deixar, de despedir, de me soltar das pessoas, objetos, lugares, enfim, daquilo que já conheço e sei as qualidades e defeitos, que posso administrar com segurança. E assim, o fim do ano (conhecido) é prenúncio de algo novo (desconhecido), mesmo que somente no calendário.
Gosto de pensar no que já vivi, fazer balanços, mil planos, projetos de vida. No entanto, só me prometo aquilo que realmente estou determinada a cumprir, para evitar frustrações e dissabores.
Tudo o que me prometi para 2006 foi cumprido e me encheu de alegria. Estou naquela fase de dar um passo de cada vez e entender que cada um foi uma vitória. Nada de confundir com A.A. Somente M.A.E. (Mulheres Anônimas Erguidas). E dá a maior felicidade ver a vida “tijolo por tijolo num desenho mágico”.
E aí vai pintando um novo ano, de novas promessas, novas conquistas, novas batalhas. Incógnita (como se cada novo dia não o fosse)!
A vida é mesmo um eterno começar e recomeçar. Um morrer e renascer constante. Um aprendizado diuturno. E é delicioso que assim o seja!
E nós, mulheres, somos abençoadas nesse sentido, porque a própria vida e natureza ciclam por fases, como a lua, as marés e nossos humores, sangüíneos ou não.
O dia nasce e morre, o mar enche e esvazia, a lua nasce e mingua, e nós enchemos o útero e sangramos para esvaziá-lo, quando não o locupletamos de vida nova. E cada uma dessas fases, desses ciclos, é um desafio. Deste modo, somos guerreiras por natureza, inconstantes de nascença, doadoras por estigma, gerenciadoras por dom, maravilhosas, pois que multifacetadas.
Somos movidas a desafios. Temos mangas auto-regeneradoras, pois quanto mais as arregaçamos, mais temos para arregaçar.
Então, Sr 2007, que o Sr venha de cara limpa, de coração aberto e com muita coragem, porque estarei (estaremos) de prontidão para encará-lo como mais um desafio desconhecido, mais um enigma a ser decifrado.
Que venha de mansinho, trazendo o cheiro fresco de juventude e a abundância necessária para saciar minha (nossa) sede de conquistas e plenitude.
Que venha macho, cheio de vigor e energia, para consumar a entrega do espírito refeito em luz e alegria.
Que venha simples, porém festivo, que a esperança é a última que morre, mas faz graça com o sol e a lua, carregada de brilhos e respingos de amor.
Feliz despedida de 2006!
Feliz recepção para 2007!
Publicado por Lílian Maial em 27/12/2006 às 18h35
25/12/2006 17h10
O Seqüestro Relâmpago de Papai Noel
E aí, como foi seu Natal?
Alegria, festa, família reunida, mesa farta, troca de presentes, crianças com tendências estrábicas (um olho grudados na janela, outro na árvore), bebida, discurso... muito bom, né?
Dia seguinte de casa bagunçada, com cheiro de comida típica, papéis de embrulho de presentes pelo chão, misturados a farelos de comida e respingos de bebida... faz parte!
E a preguiça de arrumar tudo de novo?
Mas o corpo vai voltando ao normal e a fome avisa que logo, logo tem mais.
Mas nessa noite, em especial, houve um fato que me chamou a atenção: no apartamento em frente ao meu, mora uma família que todo ano recebe os parentes, e lá vem sempre um Papai Noel, que chega por volta da meia-noite, com o tradicional saco abarrotado de presentes e aquele passinho de Papai Noel velhinho e gorducho, com um sorriso entre formal e aconchegante, e o já tradicional cumprimento (Ho! Ho! Ho!).
Esse ano ele voltou do mesmo jeito, só que escapou a todos um pequeno detalhe: as crianças crescem de um ano para o outro, e ficam mais espertas e ligadas no mundo que as cerca.
Assim, ao se despedir, Papai Noel não percebeu que um dos meninos ficou impressionado e curioso de tudo a respeito dele, como as vestes, de onde vinham tantos presentes e o lidar com o tempo daquele velhinho quase inválido. Como poderia visitar todas as crianças do mundo em alguns miunutos, se mal podia andar naquele apartamento?
Desse modo, Papai Noel desceu pelo elevador (não havia chaminés), e ninguém atinou que o menino foi para a janela e viu Papai Noel sair pela rua.
Em seguida, um carro se aproximou do "bom velhinho" e este entrou no banco de trás. O menino arregalou os olhos, em pânico, e gritou tão alto que toda a rua ouviu:
- "Olha lá, o Papai Noel está tendo um seqüestro relâmpago! Seqüestraram Papai Noel!"
Imediatamente fez-se silêncio na rua, e todos olharam o carro se distanciando, para o horror daquele garotinho.
Não sei bem o que disseram para ele, pois fecharam as janelas por causa do ar refrigerado, mas a situação me fez refletir no que se passa na cabecinha de crianças que convivem num misto de realidade e fantasia, e até que ponto a realidade deveria ser um pouquinho maquiada, ou a fantasia ser um tiquinho menos surreal.
O que sei é que o menino passou por momentos de angústia, por ver seu querido ídolo - a figura da bondade e altruísmo - sofrer uma violência urbana, sem que um adulto sequer interviesse em seu favor.
A decepção e o pavor estavam estampados naqueles olhinhos aflitos, e meu coração se apertou por não poder explicar a invulnerabilidade de Papai Noel diante de qualquer dano ou ameaça, assim como a do bem que ocupa o coração dos homens que não se deixam dominar pelo caminho da escuridão.
Naquele instante, o menino precisava da certeza e da segurança de que nada poderia atingir Papai Noel, assim como nada pode derrubar as convicções dos caminhos do amor.
Talvez bastasse um abraço, ou apenas a confirmação de que tudo estava bem.
Assim, ele precisava entender que não haveria pedidos de resgate, ou orelhas enviadas por SEDEX, muito menos fotos de renas amordaçadas, nem tampouco a notícia de que os próprios duendes - ajudantes do Papai Noel - haviam armado o seqüestro do "Bom Velhinho".
Crianças do mundo, acalmai-vos! Nada pode destruir Papai Noel! Nada pode abalar a fé no bem e no amor!
Ele está mais vivo que nunca e passa bem, e no próximo Natal virá mais forte, mais atlético e mais generoso, conferir a esperança daqueles que acreditam nele e no que ele representa.
FELIZ NATAL!
Publicado por Lílian Maial em 25/12/2006 às 17h10
24/12/2006 11h30
É Véspera de Natal!
Pois é, é véspera de Natal!
Num Domingo comum, teria ido à praia, mesmo com o tempo meio lusco-fusco, mas carioca tem pacto sagrado com o sol, então sabemos que, mais cedo ou mais tarde, ele aparece.
Teria tomado meu café da manhã na padaria ao lado do clube, onde fazem o melhor pãozinho na chapa que já provei, de frente para o mar; teria feito sauna, quem sabe uma massagam relaxante, e voltaria para casa bronzeada, cansada, extremamente feliz.
Mas véspera de Natal é complicado, a começar pelo sol, que parece temer mostrar todo o seu esplendor em terras tropicais, e ofuscar o brilho da outra festa, que não a dos pássaros e flores, que não a da glória da vida que se perpetua a cada dia, quer os homens queiram, quer não (ao menos por enquanto).
E também essa obrigação de ceia, de família, de coisa imaculada, que não dura mais que parcas 24 horas, mas que tem todo um ritual atávico.
E ái do pobre coitado que tente driblar a cerimônia!
Eu, por exemplo, esse ano fiz tudo diferente dos anos anteriores, e acabei meio que sem ter o que fazer, vendo todo mundo fazendo alguma coisa.
Fiz meu supermercado com uma antecedência larga, mas hoje me deu vontade de ir lá, me meter naquela muvuca, não sei bem a razão.
Fiz minhas comprinhas de shopping também com prazo bastante folgado, e hoje estou com a sensação esquisita de que estou perdendo alguma coisa por não estar lá.
Cozinhei os pratos típicos da ceia todos ontem, deixei tudo prontinho, e hoje me invadiu uma estanha sensação de que profanei alguma coisa sagrada.
E agora, que não tenho supermercado para fazer, não tenho compras de última hora e nem estou encalorada e engordurada na cozinha, estou aqui na frente do micro, como se fosse uma desocupada, olhando todo mundo amaldiçoando o calor e o ter que fazer tudo isso no mesmo dia, e me pego numa nostalgia, numa situação ridícula de não ter com quem compartilhar o meu doce e precavido ócio de hoje.
O sol apareceu, mas não fui à praia, porque todos os amigos estavam ocupados com a ceia, e praia sozinha é um porre!
Estou com aquela cara de ressaca, sem ter sequer ainda aberto uma garrafa de vinho. Minha avó diria que é "cara de tacho furado embaixo".
Mas enfim, é Natal! E não há lugar para esses sentimentos individuais. É momento (gostemos ou não, queiramos ou não) de se repensar coisas, valores, diferenças, e se buscar soluções, todas regadas a esperança de safra nacional de excelente qualidade.
Então toca o telefone, e uma voz amiga me traz de volta à realidade, de que não estamos realmente sozinhos. Podemos até ter essa solidão ímpar, essa solidão lá de dentro, daquele cantinho do coração que ninguém conhece, nem mesmo nossa mãe, ou nosso cônjuge, ou nosso melhor amigo. Contudo, essa solidão é só nossa, é algo entre a tortura e o prazer, que mergulhamos em determinados momentos, como uma fuga, um porto seguro, entre a realidade e a fantasia, o amparo e o desespero.
Aí toca o telefone e eu já volto para o micro com outra sensação, e já retomo a escrita com novos olhares, e sai de dentro aquele fio de esperança, que me mostra que só depende de mim me erguer e fazer desse mais um Feliz Natal!
Beijos a todos os amigos e leitores, e que neste dia, e em todos os outros, possamos ter a certeza e a lucidez de que está em nossas mãos e em nossa vontade modificar nossas atitudes, nosso ponto de vista e, pq não, o mundo todo!
Feliz Natal!
Lílian Maial
Ah! Tô de saída para a praia, apenas para um mergulhinho de nada, e já volto para arrumar a mesa.
Publicado por Lílian Maial em 24/12/2006 às 11h30
23/12/2006 16h37
Já não se faz mais Papai Noel como antigamente!
Hoje é o último dia para os \"atrasildos\" de plantão fazerem suas compras de Natal, supermercado e essas coisinhas de última hora. Não tem jeito: entra ano e sai ano e o povo sempre deixa para o último dia para fazer tudo.
Se vc pensa em ir ao supermercado hoje, trate de levar uma cadeira de praia para a fila, um saco de paciência e um sorriso amarelo nos lábios, pois é capaz de ainda ser entrevistado por algum canal de TV, como um "típico brasileiro que deixa tudo para a última hora", e sair na telinha com aquela cara de bundão.
Se vc não comprou ainda seus presentes, prepare-se para encontrar somente aqueles mais caros, ou aqueles que ninguém quer receber, nem do pior inimigo.
Nem pense em pijamas, gravatas, meias, cuecas (para os homens), ou chinelinhos, sabonetinhos, caderninhos de telefone e CDs de mau gosto (para mulheres). Já basta o que recebeu do amigo oculto do trabalho e quer repassar com urgência!
É engraçado esse negócio de Natal. Vc se vê numa ciranda de coisas absurdas, mas não se livra de fazer parte dela. A começar pela tradição das comidas que nada têm a ver com nosso clima, seguindo pela refeição servida tarde da noite (que todos sabem fazer um mal terrível), terminando com a bebedeira de vinho, ponche e o que mais tiver, com uma inexorável dor de cabeça no dia seguinte.
Antes, porém, há todo um ritual de visitação a lojas e mais lojas, numa tentativa de ser o mais original possível no quesito "inutilidades" de presente para aquelas pessoas que não se pode deixar de presentear, pq tb vão dar um presente tão inútil quanto.
Sem falar na corrida ao supermercado, na roupa nova e nas intermináveis horas à beira do forno e fogão, preparando os assados e complementos por mais de 24 horas, para a degustação da família, que sempre terá pelo menos um membro que vai sair falando mal de alguma coisa.
Mas isso é Natal, minha gente! E o espírito natalino se alastra feito praga pelo mês de dezembro, com a disseminação de enfeites, luzes, musiquinhas, árvores de terras estrangeiras (já viram alguém comprar imitação de jacarandá?), gorros com pompons, frutas secas e gordurosas.
Quem não tem um enfeitezinho de Natal, uma luzinha e não prepara uma comidinha especial nesse dia?
E aí vemos que o Natal é realmente uma festa importada, globalizada e "hipocritizada", pois o comércio se vale da comemoração da suposta data de nascimento de um ícone religioso (dotado de altruísmo e idéias de respeito e valorização da fraternidade), para lançar o consumismo, a disputa, além de enfatizar as diferenças sociais.
Um dia sonhei com um Natal brasileiro, comemorado na praia, com muita água de coco, banana, abacaxi, peixe na telha e suco de frutas, com a ceia em pleno meio-dia, com uma imensa toalha estendida, onde as famílias se uniriam ao ar livre, e dividiriam seu "pão" e seu "vinho" com aqueles que nada levaram.
Tocaria somente música popular brasileira, e nossos enfeites seriam de pássaros e flores da nossa terra, carregados nas tintas verdes e amarelas, e todos se dariam as mãos, felizes por compartilharem do verdadeiro amor.
Estava no meio desse sonho lindo, quando o relógio apitou, avisando que o termômetro do peru havia subido, e acordei no meio de rabanadas, nozes, castanhas e indefectíveis bolinhos de bacalhau.
Jingle Bells, baby, enquanto pode, porque em breve, com o aquecimento global, o Natal será uma remota lembrança de um velhote extinto, que usava roupas super quentes, porque um dia já houve clima frio e neve na Terra.
Num futuro próximo, Papai Noel usará apenas o gorro, a barba e as meias e, ao invés de sair sorrindo e gargalhando com a renas, será acordado por lambidas de algum cão vagabundo, depois de cair exausto e completamente bêbado, de tanta cerveja pra agüentar o calor.
Enquanto isso não vem, deixemo-nos impregnar pelo sonoro Ho! Ho! Ho!
E um FELIZ NATAL a todos vocês!
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Publicado por Lílian Maial em 23/12/2006 às 16h37
21/12/2006 17h34
NATAL É TEMPO DE AMOR OU SOLIDÃO?
®Lílian Maial
Com a aproximação do Natal, as lojas cheias, as varandas enfeitadas, o clima de festa, a tendência é se pensar em união, família, ceia, amigos. Sempre fui muito festeira, e o Natal é a ocasião ideal para quem gosta de bagunça, de alegria, de casa cheia. De uns anos para cá, porém, venho acumulando perdas significativas dos meus amados, e o Natal vem ficando, a cada ano, mais desfalcado.
Curto muito os preparativos, as compras, a lista apertada de cada ano, a economia obrigatória, mas na véspera e no dia mesmo, me invade uma nostalgia, uma saudade, uma nuvem de tristeza que insiste em ocultar o sol da alegria.
Hoje me peguei pensando em como deve ser terrivelmente triste e solitário o Natal de quem ficou viúvo, ou de quem perdeu um filho, ou de quem viajou para o estrangeiro sozinho, ou de quem se aposentou e perdeu a convivência neurótico-deliciosa com colegas de trabalho, usuários de ônibus e metrô, e até das chefias mal-humoradas.
Imagino o Natal de quem sabe ser o seu último, ou de quem sabe ser o último junto à pessoa amada.
Calculo a solidão e a sensação de amputação e desamparo de quem acabou de se separar e ainda não reconstruiu um outro lar, ainda atordoado com a súbita mudança.
Penso nos Natais dos presidiários e suas famílias, nos dos órfãos, nos dos que vivem em instituições, nos dos hospitalizados, dos desabrigados.
Sei que Natal deveria representar o nascimento de Jesus, mas todos sabemos que é bem mais que isso, que existe todo um “merchandising” ao redor da data, estimulado pelo comércio e pela mídia, arrastando a sociedade nessa rede de consumo e obrigação de ser feliz.
Invariavelmente, no Natal, eu luto contra esse sentimento de saudade, mas ele me vence. E é uma saudade estranha, uma saudade de infância, uma saudade de sabores que nunca mais consegui reproduzir, uma saudade dos que já se foram e daqueles que nunca hei de conhecer. Uma saudade do que poderia ter sido minha vida e do que não foi. Uma saudade das tantas outras “eu” que não viveram, para dar lugar a esta que aqui está. Não que esta não merecesse ter-se sobressaído, mas as escolhas implicam em perdas, e é a saudade dessas perdas que me assombram no Natal.
No fundo, penso que o Natal me chame à atenção, mais que o aniversário, quanto à passagem do tempo. É quando os nossos mortos se acumulam à mesa da ceia e em nossos corações, até no simples gesto de cortar o peru, ou de distribuir os presentes sob a árvore.
Ou talvez, quem sabe, toda essa tristeza seja por ver que até o Roberto Carlos da minha infância envelheceu, e que já não provoca o delírio de outrora.
Não sei, só sei que o Natal não é só tempo de amor não, é tempo também de solidão. Uma solidão que pode acontecer em meio a uma multidão. Solidão dos outros de nós mesmos.
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Publicado por Lílian Maial em 21/12/2006 às 17h34
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