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03/01/2007 15h54
As Chuvas Apagam as Chamas?
Passamos um final de ano às voltas com o terror, com o receio de sair às ruas, com um misto de medo, indignação, alívio e vergonha.
Vem o Reveillon, com uma pseudo-segurança redobrada, número reduzido de turistas internos e externos (que a mídia sutilmente disfarçou).
Muda o governo estadual, é reempossado o governo federal, e cai uma insolente chuva desde então, que parece não querer deixar os céus do Rio, como que para ajudar a apagar as chamas do pânico e da maldade.
Ou seria para lavar as consciências dos que "nada podem fazer"? Quem sabe, para impedir que os que poderiam fazer alguma coisa encontrem outros que também fariam, se a chuva não atrapalhasse?
Enfim, nessa madrugada mais um ônibus incendiado em Belfort Roxo, dessa vez, felizmente, sem vítimas imediatas. Sim, vítimas imediatas, carbonizadas, mas mesmo assim com vítimas da opressão, da imposição, do cerceamente do direito de ir e vir livremente.
Saímos de um regime ditatorial dos anos 60 e 70, para um regime de medo e fobia social, para um regime de liberdade exagerada, sem regras, onde os direitos do outro não são respeitados, onde o outro é achacado, imprensado na parede, trancafiado em grades residenciais.
Saímos berrando pela liberdade, pintamos a cara, fizemos o maior estradalhaço, conseguimos as diretas, mas agora maquiamos a realidade, e vivemos com medo dela.
No outro artigo, falei na reforma legislativa, e houve quem questionasse que o Brasil já tem muitas leis, que não são cumpridas. Pois é exatamente esse o ponto: o excesso de leis torna o sistema falho, pois, a cada nova lei, há sempre o risco de interpretações dúbias e brechas, favorecendo a ilegalidade e quem a defenda.
Há que se reformar a legislação, mas não criando novas leis, ao contrário, enxugando as já existentes, reduzindo o calhamaço de palavras rebuscadas, para uma meia dúzia de páginas bemn escritas, porém de acesso fácil a qualquer cidadão.
E cada uma dessas leis com uma fiscalização eficiente, eficaz e efetiva.
Nada de inúmeros parágrafos, adendos, emendas! Precisamos de um pequeno manual de regras simples de conduta em sociedade. E ponto. A exceção é exceção, e não pode ser tratada como rotina.
De que adianta um Código Penal imenso, se os bandidos saem da cadeia, após cometerem crimes hediondos, por "bom comportamento"?
Como pode um homem condenado a 444 anos sair após 10 ou 15 anos de pena? E as vidas que esse indivíduo ceifou?
Assim, tanto faz matar um ou um milhão... A pena é a mesma!
E por saberem disso, os criminosos, uma vez envolvidos num único crime, passam a assumir a postura de liberação geral, ou seja, já que já é assassino mesmo, tanto faz ser de um ou de uma centena, que não faz a menor diferença para a lei.
Então, meus caros leitores, reflitam sobre isso e sobre o significado de tudo, sobre as interpretações várias que existem por aí, e sobre o que nos espera, caso não tomemos alguma postura imediata, alguma atitude de repúdio, alguma posição de exigirmos nossos direitos de viver em paz.
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Publicado por Lílian Maial em 03/01/2007 às 15h54
01/01/2007 16h21
A RESSACA DO DIA PRIMEIRO – VERSÃO 2007
® Lílian Maial
Hoje é o primeiro dia do ano de 2007, e eu me deixei acordar tarde, aproveitar a preguiça, um pouco diferentemente dos anos anteriores.
O ano de 2005 foi um dos mais difíceis da minha vida, e o de 2006 foi uma espécie de reestruturação, de arrumação da casa.
Assim, para a passagem de 2006 para 2007 não programei festas, ou casa cheia ou visitas, ou praia, mas a calma e a paz do lar, junto aos entes mais chegados, sem grandes extravagâncias, mas com muita alegria, carinho e luz.
Abrimos uma garrafa de champanhe à meia-noite, observamos os fogos de artifício colorindo o céu nublado e chuvoso, nos cumprimentamos com muito amor, recebemos alguns telefonemas e demos tantos outros, para aqueles que fazem parte de nossas vidas, porém distantes fisicamente.
Dormimos tarde, pois ainda fomos arrumar tudo e ver um filme na televisão.
Por isso, me permiti levantar mais tarde, ficar de preguicinha na cama, principalmente porque percebi que o dia amanhecera ainda com uma chuvinha fina e refrescante, convidando ao aconchego dos travesseiros: a velha manhã de ressaca!
Parece que o sol está de recesso nesse final de ano, aqui no Rio de Janeiro, deixando a chuva fazer as honras da casa um pouquinho, já que ele sempre rouba a cena.
Como não havia exagerado no champanhe, não estava com aquele velho gosto de cabo-de-guarda-chuva na boca, ao contrário, estava disposta, descansada, renovada!
Caminhei pela casa e encontrei minha mãezinha, já bem esperta, guardando louça lavada na véspera, com carinha feliz. Fizemos um gostoso café da manhã, e aproveitamos para colocar os assuntos em dia. Muito bom tomar meu desjejum com a minha mãe, depois de tanto tempo (ela é teimosa e prefere não morar perto dos filhos)!
Juntas, fomos beijar as crianças, que ainda dormiam satisfeitas em suas caminhas, e pudemos constatar que 2007 já começava bem, com nossos maiores tesouros ao nosso alcance.
Meu filho caçula pouco depois se levantou, ainda com carinha de quem não estava bem acordado, e presenteou-nos com um abraço gostoso e impagável.
As ruas estavam desertas, muitos vizinhos viajando, mas o movimento voltava aos poucos, como um lento despertar para a vida.
De repente, sem se saber bem a razão, veio esse sentimento repetitivo todos os anos, de sensação de despedida, de adeus a um ano que se foi, mesmo sendo apenas uma tola passagem de calendário, mas com um simbolismo cultural universal.
Um ano de árdua reconstrução, trabalho intenso, ordenação das prioridades, reestruturação.
Um ano de luta, cujos frutos estavam previstos para 2007.
Ao pensar dessa forma, a sensação foi se dissipando, e uma alegria de adolescente que se lança numa empreitada de aventura se apodera do meu espírito, e afasta qualquer tristeza insistente.
Não! Definitivamente não é momento de tristezas ou sentimentos negativos. Não para mim! Não para quem segurou a onda nesses últimos dois anos, uma barra muito difícil e pesada, não só por mim, mas por ver as dificuldades e descaminhos daqueles que também amo.
Eu mereço mais, mereço alegrias, compensações e a colheita do que plantei em fases turbulentas e de estiagem.
Sei que 2007 é o ano em que ultrapassarei as barreiras que me impus, os limites que me supus e os sacrifícios inevitáveis.
Então tenho mais é que me regozijar com os brindes, as felicitações e a graça de estar viva, com meus queridos e com a minha força e a maior dádiva de todas, que é a liberdade.
Havia feito muitas promessas nos anos anteriores, e me desdobrei ao máximo para cumpri-las. Este ano, nada prometi, a não ser me manter no caminho que escolhi, e me esforçar para não perder o pique e o rumo daquilo que consegui realmente cumprir.
Para o ano que se inicia, além da gratidão por tudo o que me aconteceu de positivo - e até pelo negativo (que é assim que se aprende a valorizar o que realmente tem importância – meu lado Pollyana) – guardarei o silêncio da espera.
Talvez nada de mais me aconteça, porém não me imporei novos sacrifícios além do absolutamente necessário.
Deixarei a vida me levar um pouco, como um capitão que já traçou a rota, já passou pela tormenta, e espera ver terra em breve.
Ainda não passei a minha agenda a limpo. É uma coisa chata, mas fundamental. E todo ano, nessa mesma ocasião, encontro aqueles nomes que eu deveria ter visto mais, aqueles que deveria esquecer, e alguns que sei que me esqueceram. Faz parte.
Mas ainda não a passei a limpo.
Decidi não mexer nisso nesse início de ano e nesse começar de férias.
Esse ano, resolvi fazer tudo diferente dos anos anteriores e vou relaxar.
Já são 16 horas, já vi almoço (enterro dos ossos), arrumei tudo, e vim rever meus escritos, meu cantinho que é só meu: minhas letras! Elas são uma extensão dos meus dedos, da minha língua, dos meus olhos, boca, nariz, pele e sonhos. Elas nem sempre obedecem ao meu cérebro, ao meu pensamento, ou à minha lógica. Contudo, elas sabem de mim. Sinto que me amam e odeiam com a mesma intensidade que eu a elas.
Ontem, por exemplo, elas se acabaram de champanhe e vinho, que eu nem bebi. Elas estão de ressaca, dor de cabeça e mau humor. Eu não. E elas me detestam por isso. E eu as invejo também por isso. Então entramos num acordo, e elas me deixam aproveitar delas, como eu as empresto minha energia e vida.
O céu continua nublado e chovendo aquela chuvinha fina e refrescante. Imagino o que se passa nas outras casas. Penso no que seria diferente, na dependência das minhas escolhas nos anos anteriores, e imediatamente me recordo da teoria do caos, do efeito borboleta, e a mente divaga nos mais variados caminhos.
Levanto, vou até à varanda. Não há borboletas ou rostos conhecidos nas ruas. Um homem de bicicleta pedala na chuva do outro lado da calçada, indo para algum lugar. Onde seria?
E por que não poderia ele pedalar no primeiro dia do ano?
Por que eu não tenho uma bicicleta?
Talvez ele não tenha flores na varanda e, de ontem para hoje, uma flor se abriu na minha varanda.
Sorrio com esse pensamento e verifico que, além da folhinha, da tecnologia e das minhas promessas, nada realmente mudou no mundo em mais de dois mil anos.
Feliz 2007!
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Publicado por Lílian Maial em 01/01/2007 às 16h21
31/12/2006 19h01
FELIZ 2007!!!
Bem, faltam poucas horas para encerrarmos um ano do calendário e começarmos outro. Crenças à parte, todo ano é a mesma sensação de se deixar algo conhecido, mesmo com momentos difíceis, e se aventurar em algo novo, ainda incerto. No fundo, só uma coisa didática, porque nada vai mudar na vida mesmo, no entanto, é a oportunidade cíclica de se fazer balanço, levantamentos, promessas e repensar caminhos.
É uma época em que nos aproximamos da família, olhamos mais para os amigos, e buscamos o calor dos abraços mais demorados e sentidos. Confraternizar é a palavra!
Então, desejo que aproveitemos a ocasião e nos confraternizemos conosco, com o outro, com os mais velhos, com as crianças, com os menos favorecidos, com o espaço no planeta que ocupamos, com a posição social e política que conquistamos, enfim, que nos demos as mãos para (re)construir o futuro do planeta.
FELIZ 2007!!!
Publicado por Lílian Maial em 31/12/2006 às 19h01
30/12/2006 16h43
O Rio de Janeiro em Chamas
® Lílian Maial
Quando criança, lembro-me bem dos dias que se seguiam ao Natal. Era comum se sair às ruas, todas as crianças, mostrar os brinquedos novos, andar de bicicleta em grupo, sair de manhã e só voltar para o almoço, para depois sair de novo e retornar ao anoitecer, exaustos, imundos, felizes.
Hoje, por conta da violência, nossos filhos são obrigados a serem criados em apartamentos e em shoppings, mal sabem andar de bicicleta, são limpinhos, quase assépticos, e não possuem a cara rosada e risonha do nosso tempo de molecagens. Os dias seguintes ao Natal se passam em salas de Chat, em mensagens do “orkut”, ou simplesmente no quarto, com os fones de ouvido do novo MP3 ou 4.
O que mudou? O que aconteceu com os valores, com a moral, com o respeito e a bondade das pessoas?
Recuso-me a acreditar que o sistema repressor da ditadura proporcionava uma vida melhor. Não pode existir felicidade sem liberdade. Mas acredito que a repressão, a censura, o medo pudessem ter um efeito inibidor da violência, posto que a maior violência de todas governava.
As drogas, sim, as drogas! O tráfico gerou uma disputa de pontos, uma tentativa dos sem oportunidade de enriquecimento rápido, ilícito, arriscado, porém com poder, fama e usufruto de coisas antes apenas sonhadas entre os de baixa renda. E tudo coincidindo com a abertura política, de comércio (importados), de consumo, a liberação sexual, o lançamento de jovens despreparados e alienados no mercado de trabalho, que converteu-se, de uma hora para outra, na maioria de informalidade, tanto pelo despreparo dos jovens, quanto pela má qualidade do ensino, como pelo pouco incentivo ao investimento nacional na educação, saúde, indústria, comércio e agro-pecuária.
Miséria na terra natal, migração, superpopulação nas grandes cidades, redução da oferta/procura, miséria na cidade, vícios, fome, humilhação, crime.
No entanto, a raiz verdadeira da violência desmedida, do terror, da crueldade reside na quebra dos valores, desde a família, passando pela mídia (a nova escola da vida), até os (des)caminhos, atalhos e percalços da nossa ultrapassada e extremamente remendada legislação.
Sem lei, não há ordem. Qualquer criança testa isso e aprende na carne desde a tenra infância. E a sociedade é uma criança insatisfeita, que testa os poderes de todas as formas, e infiltra todas as camadas com novos conceitos deturpados, todas as vezes que a lei dá brechas.
Nosso Código Penal precisa de uma reformulação urgente, de medidas drásticas, de ser enxuto e preciso, sem margem a interpretações dúbias e a ciladas que os advogados aprendem a driblar ou provocar.
Um julgamento não deveria ser uma encenação de teatro, onde o ator mais tarimbado e mais amigo de diretor ganha o papel principal e leva a melhor. Não é ficção, é realidade. Não são personagens, são vidas!
Agora vejamos um condenado a 444 anos (outro dia deu no noticiário), que só pode ser condenado a 30, e sai por “bom comportamento” aos 10... Como isso é possível?
Nós trabalhamos no nosso dia-a-dia como condenados! Isso era uma expressão utilizada por um bom motivo: porque os condenados faziam trabalhos diuturnos para seu sustento e para o benefício de comunidades. Hoje, em nosso meio, o que verificamos? Presos em extremos opostos: ou os cheios de regalias, verdadeiros comandantes do crime organizado de dentro de celas de luxo, em oposição a miseráveis acumulados como animais enjaulados, nem sempre por crimes merecedores de tanta punição.
E quem determina isso? Quem fiscaliza? Quem desenvolve projetos? Estão todos largados à própria “sorte”. Vemos facínoras misturados a ladrões. Criminosos reincidentes convivendo com pessoas que cometeram pequenos delitos. E sofrem todo o tipo de humilhação, sevícia e abuso moral, transformando-se eles também em futuros assassinos.
Há que se fazer uma reforma legislativa urgente, uma reforma penitenciária, com a criação de “fazendas modelo”, mas não antros de bandidagem, mas instrumentos para trabalho sustentável, ocupação das mentes, trabalhos comunitários e uma verdadeira reintegração do preso.
Enquanto advogados de matadores impiedosos conseguirem burlar a lei e livrá-los das devidas penas, ou atenuar os infortúnios por trás das grades, essas cabeças continuarão a arquitetar o terror comandando lá de dentro os asseclas aqui de fora, perpetuando o tráfico de drogas, armas, violência e agora o terror.
Ao mesmo tempo que nós trabalhamos feito condenados, os condenados bolam, deitados em suas camas, assistindo a seus DVDs, recebendo parceiros em celas especias, os novos ataques a cidadãos comuns, a policiais civis e militares, apenas por terem sido contrariados, em represália a operações nos morros, ou apenas porque acordaram com vontade de churrasco.
A população precisa entender e se mobilizar para mudar a lei e a ordem das coisas, modificar os valores, não com falsos moralismos e ataques a pessoas de bem, mas com a seriedade que o assunto merece e a ação popular, que recentemente impediu que parlamentares aumentassem seus salários em quase 100%, enquanto que o povo não tem nem 10% há anos.
Não tenho como descrever o que senti ao saber e ver meu Rio de Janeiro em chamas, ônibus incendiados com pessoas comuns, idosos e crianças em seu interior, sem chance de escaparem. Não tenho como detalhar o que me percorreu pela espinha e pelas veias ao me sentir tão vulnerável numa cidade que me viu nascer, e para a qual trabalho com amor e dedicação. Não posso contar o que meu coração chorou ao me colocar noi lugar da mãe que morreu baleada, ao abraçar e proteger seu filho de 6 anos do tiroteio, nem o rapaz de 31 anos, policial militar, recém-promovido a cabo, que foi executado sem razão na Barra da Tijuca.
Precisamos falar, escrever, comentar com amigos, vizinhos, parentes, nos mobilizar para a tomada de atitudes que possam mostrar aos legisladores que exigimos a PAZ!
E é essa PAZ que desejo a todos, pois que é direito da humanidade, independente de raça, credo, poder aquisitivo.
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Publicado por Lílian Maial em 30/12/2006 às 16h43
28/12/2006 19h40
SOBRE A BOA E A MÁ LITERATURA
® Lílian Maial
A Internet trouxe possibilidades infinitas e imediatas para a comunicação, porém, como é de domínio público, abriu as portas para todo o tipo de atividade e relacionamento.
No campo literário, propiciou a facilidade da leitura e da escrita, o acesso a livros, revistas e títulos vários, como também a criação de “sites” privados, pessoais, denominados “sites literários”, onde qualquer pessoa pode publicar o que bem entender.
É natural que um escritor que se acredite mais talentoso procure um “site literário” para expor seus trabalhos, como para conhecer os trabalhos de outros escritores. No entanto, o que vemos, na grande maioria desses sítios, é a formação de laços de amizade e sentimentos afins, mesmo entre aqueles que escrevem por diversão, encorajamento ou apenas expondo sentimentos.
Nada contra, afinal, é sítio aberto a todos os que se cadastrarem, contudo deixa uma certa frustração naqueles que buscam crítica sincera, como termômetro de suas produções. Não é por aí, não é nesses sítios que está o termômetro. Neles, o predomínio da amizade sobrepuja de longe a opinião sincera. Uma pessoa “amiga” dificilmente vai apontar as falhas no texto do “amigo”. Ao contrário, vai encorajá-lo a persistir no erro.
Assim, tais sítios valem muito para ajudar a expor trabalhos, encontrar parceiros e afins, mas não podem ser encarados como sítios de críticos, mesmo da mais simples crítica.
Percebi um certo mal estar com o texto de um recém-chegado a este sítio, onde ele coloca exatamente isso. Ele interroga onde estaria a literatura e o amor que se deve ter por ela. Só que tal pergunta não se aplica a estes sítios, pois não são formados e mantidos por amantes da literatura em sua essência. Na verdade, poucos são os freqüentadores que possuem profundo conhecimento da obra de expoentes literários nacionais e internacionais. A grande maioria ama os versos, mas não a palavra.
Não sou crítica literária, muito menos expoente literário. Sei o meu lugar, minhas limitações e meu alcance de vôo perfeitamente. E creio que por isso esteja à vontade para concordar ou discordar de qualquer texto nesse sentido, pois minha avaliação é isenta de vaidades.
Realmente muitos textos aqui são confessionais, como páginas de diários, mas há outros magníficos, alguns de escritores muito jovens, iniciando na deliciosa trilha das letras, e que não conseguem o apoio adequado ao seu talento. Os comentários se atêm à beleza óbvia do texto, e não ao trabalho de lapidação da palavra, das idéias e do contexto. Com isso, seu trabalho mais laborioso recebe o mesmo tipo de comentário de uma frase de impacto, de uma quadrinha infantil.
O que fazer então?
Selecionar a crítica. Garimpar e guardar o que é bom e útil.
Se seu texto não foi muito comentado, não quer dizer que seja ruim, mas apenas que não foi bem assimilado, entendido, ou sequer foi lido. Já observei que o título é tudo, em termos de “chamariz de leitura”. Um exemplo clássico é que meus textos eróticos têm 20 vezes mais leituras que meus melhores poemas, contos ou crônicas. E verifica-se que um título de impacto atrai mais que um título sui generis.
O Recanto é, como todos os “sites” abertos, um sítio de relacionamentos. Há carências, há despejo de sofrimento e dor em versos, há deságüe de produção em massa... Mas também há trabalhos bem feitos e oportunidades de leitura para todos.
Sabe aquilo de separar joio do trigo? Então, é isso! Basta encontrar um determinado autor de que se goste e degustar seus textos, trocar idéias, até mesmo fazer parceria. E deixar os que preferem manter os relacionamentos de amizade curtindo esse estado de coisas.
Há espaço para todos os gostos e todos os níveis e gêneros.
Entendo perfeitamente a sensação de quem chega e espera encontrar a mais pura e nobre literatura nessas páginas. Mas há “sites” assim e, creiam-me, nem tudo são flores neles também, pois a fogueira de vaidades é inerente ao ser humano...
Concordo que talvez as pessoas devessem sair um pouco mais do que é comum a todos, se arriscarem mais e romperem fronteiras, mas há que se respeitar os gostos, potenciais e limitações de cada um.
A liberdade é azul, a fraternidade é vermelha e a poesia é branca.
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Publicado por Lílian Maial em 28/12/2006 às 19h40
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