SEMI-DEUS
Semi-Deus
®Lílian Maial
Ah, doce e belo Baco!
Faze de mim tua deusa e,
como aos pés de Réia,
deita-me ferozes leões,
que morro contigo a cada inverno,
e me renasço, como tu, na primavera.
Verte teu sumo entontecedor,
que te aspiro o orvalho,
em ondas purpurinas,
essa torrente rubra,
esse licor que dá mais sede!
De Ampelos, criaste a vinha,
e a cura pros males do homem.
Então vem a mim
- deus da vindima -
torna-me tua bacante,
que, por teu olhar, empunharei o tirso
e me cobrirei de tênue linho e serpentes.
Vem a mim,
não em metamorfose,
disfarçado em cacho de uvas,
que não sou Erígone ou Ariadne.
Não!
Quero-te mortal,
quero-te meu único deus,
a derramar sobre meu ventre
as vitórias ancestrais de batalhas de amor.
Quero-te fálico,
cálido,
ávido,
hábil,
mau.
Quero-te terra, fruta, pão.
Quero-te pagão!
E nesse ritual,
bacante,
somos atores amantes,
foliões de eternos carnavais:
somos livres animais.
Dentro de ti,
sou embriaguez e uva.
Dentro de mim,
és vinho e festa.
Sacerdotisa e deus,
vestal e ídolo,
toma-me,
bebe-me,
amor.
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Lílian Maial
Enviado por Lílian Maial em 11/12/2005