UM DIA NA PRAIA (SE VOCÊ TEM CORAGEM)
@Lílian Maial
Moro no Rio, cidade praiana, mas quase nunca frequento, em função de inúmeras atribulações de trabalho e outras responsabilidades.
Naquele domingo, decidimos ir à nossa praia favorita, a Barra da Tijuca, pegar uma cor, espairecer.
Fomos munidos de barraca, cadeiras, geladeirinha térmica com cervejas e refrigerantes e um arsenal de biscoitos e sanduíches, dispostos a passar o dia inteiro sob o sol.
Ledo engano. Logo de cara, um engarrafamento monstruoso. Parece que todo o Rio de Janeiro resolveu se banhar no mar naquele raio de domingo!
Depois, ao chegarmos, onde tem vaga para estacionar? Voltas e mais voltas, até encontrarmos um espaço entre uma moto e uma carreta.
Custamos a achar um lugar que nos acomodasse, sem cutucar o pivô do vizinho. Fincamos a barraca, abrimos as cadeiras e passamos filtro solar. Crianças brincando na areia.
Um vendedor de queijo coalho apoia seu fogareirinho na areia e vem aquele cheiro maravilhoso.
- Moça, vai querer? Me ajuda aí.
O menino magrinho e muito ágil, coloca logo 2 espetos de queijo coalho para assar.
- Com orégano ou sem?
Nem tivemos tempo de dizer qualquer coisa. O danado do queijo assou rapidinho. Mas valeu a pena. O moleque foi embora e nos deixou deliciados.
De repente, uma sombra ofuscando meu bronzeado. O tempo fechou. São Pedro não teve piedade dos meus incontáveis finais de semana sem um lugar ao sol.
E começou um vendaval! Era muito vento! E lá se foi a nossa barraca, quicando e dando cambalhotas na maior pressa do mundo. Saio correndo atrás da barraca, tropeçando nas toalhas, me lambuzando toda, comendo areia!
Um rapaz desses de propaganda de perfume importado sai das águas, como um deus marinho, e corre para me ajudar a pegar a barraca fujona.
- Pronto, senhora! Aí está sua barraca.
Não pude me furtar de ajeitar os cabelos, espanar a areia do rosto e observar a beleza daquele homem.
- Obrigada! Mas senhora está no céu.
Me arrependi de falar essa besteira, porque fiquei me sentido a própria coroa assanhada!
Ele sorriu, se desculpou e disse:
- Você consegue voltar sozinha com a barraca nessa ventania?
Olhei para o mar e vi o marido saindo da água, e me deu uma vontade de largar tudo e mergulhar e nunca mais voltar à tona.
As crianças choravam, os sanduíches se encheram de areia, as roupas sumiram. Não houve mais clima de praia. Voltamos para o carro com a certeza de que não éramos cariocas. Parecíamos turistas equivocados, que nunca viram praia na vida. Mas eu posso afiançar que, naquele dia, encontrei Poseidon!