FANTASMAGÓRICA
Lilian Maial
Passeio pela casa, que dorme sem culpa,
que não percebe as correntes arrastadas do silêncio.
Há tantos (in)cômodos na casa!
Do quarto para a sala, uma estrada leva o sol para o outro lado.
Na cozinha, um repousar de panelas plenas.
A sala aguarda a minha visita.
Na varanda, o cheiro trancado de liberdade, nenhum voo.
É tarde.
As ruas cochilam indiferentes à minha observação de seus contornos.
Ouço na esquina, em pleno cruzamento, o deslizar tranquilo das águas do rio.
Ninguém ousaria articular palavra!
Respiro aquele som solene sofregamente.
E eu desejo o mergulho, a chuva, a imersão!
Quero a profundeza de uma gota!
E tropeço na mobília.
Mal enxergo no escuro.
Sem os óculos, é tudo poeira.