MORRER DE AMOR
Ah, morte, sê bem-vinda!
Sob teu manto de negrume
todas as cores me sorriem,
agora que te vejo a face.
Vem calma e serena,
tomando-me o peito,
já enfraquecido de tanto amar.
Agora que provei teu gosto puro,
que conheci teus encantos,
queria viver mil vidas,
apenas para ter-te novamente intensa,
assim de frente,
penetrando-me em ondas.
Vem, toma-me a boca
e silencia minhas palavras,
que não mais preciso delas
em nossa linguagem de almas.
Cala minha boca
com teu beijo cálido
e me devolve a paz.
Leva meus olhos,
já que vi toda a luz,
e nunca mais me perderei de mim.
Corta minhas pernas,
que meu pensamento caminha
léguas ao meu redor,
e já não fujo
e nem disfarço mais os dias.
Vem doce ao meu encontro
e me sorri, amiga,
pois que te sei injustiçada e malquista.
Ah! Ledo engano...
Quão tolos os que inda não te encontraram,
os que te rejeitam, sem saber do prêmio!
Tolos, todos tolos e vãos...
Ah! Toma minhas mãos
e todo o meu corpo,
que nunca soube que a morte é gozo,
e o gozo é a morte por segundos,
numa dimensão de tempo finito
no eterno.
Tola que fui!
Eleita do amor,
que nasci e vivi já te sabendo à espera,
que escapei tantas vezes,
acreditando-me abençoada,
que te neguei e maldisse
tanto e tanto e tanto...
E, no entanto,
nada jamais me deu tanto sentido,
que esses segundos desse nosso tempo,
quando enxerguei tua face branca.
Não me escapes agora!
Leva-me embora contigo,
pois meu amado deu-me a aurora
e, nesse prazer imenso,
que me invade e aflora,
nada mais resta a fazer
(antes que ele vá embora),
senão de amor morrer.
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Lílian Maial
Enviado por Lílian Maial em 16/11/2005