Cavem!
Cavem covas antiaéreas, antinucleares, anti-humanas!
Cavem sobre os ossos, sobre a terra queimada,
sobre os escombros do que já foi a humanidade.
Cavem buracos bem fundos, para enterrar as cabeças,
avestruzes pacíficos!
Enterrar a vergonha e a maldade.
Cubram-se com as desculpas!
Protejam-se com a indiferença!
Blindem as paredes do descaso!
Ouçam!
Ouviram?
Onde está a música e a palavra aprendiz?
Onde enfiaram o balbuciar e o engatinhar da poesia recém-nascida?
Cavem, crianças!
Cavem muito profundamente,
até não haver mais som ou luz.
Cavem!
Cavem e isolem tudo o que seja humano,
porque a Vida, essa que os circunda,
já não pode mais suportar o fardo!
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