MEU AVESSO
Meu Avesso
Lílian Maial
Meu avesso hoje me cobre,
bicho-da-seda das minhas entranhas,
eviscerada mulher de muitas faces,
que assanha os espelhos estilhaçados.
Meu avesso hoje me ilumina
e rege meus passos e movimentos,
como a troca de pele das cobras,
renasço mais eu, a cada escalpo.
Meu avesso hoje me enfeita,
destilo os brilhos de meus olhos,
o gosto de meus fluidos,
e o cheiro de meus cios.
Meu avesso hoje sou eu,
que me sorrio para dentro
e me aliso os temores,
que me enxergo os defeitos
e me reparo os danos,
que me recolho por opção,
ou me exibo por decisão,
que me comparo ao diabo
e me elevo a deus,
que me perdôo e condeno,
ao bel-prazer do meu querer.
Meu avesso é dupla-face,
tão igual ao meu verso,
que custo a entender, ao acordar,
que em minha casa não há espelhos.
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Lílian Maial
Enviado por Lílian Maial em 07/11/2005