A MULHER QUE QUERIA TOCAR NAS NUVENS
Lílian Maial
Todos os dias olhava para o céu e via nuvens.
Queria estender a mão e tocá-las,
acariaciá-las até se embaralharem de cócegas.
Mas retirava a mão,
não era para ela poder tocar em nuvens.
Vez em quando chovia.
Imaginava uma nuvem caindo ao solo,
mas não era para ela isso também
e apenas sonhava.
Levava a vida entre nuvens e chuvas,
entre céu e mãos,
cócegas e possibilidades.
O tempo passava,
parecia a única a não tocar em nuvens,
então, apenas estendia a mão.
E vinha a chuva, raios, relâmpagos
e nada de nuvens.
O tempo corria no chão,
feito rio no canto do olho.
Até que um dia veio diferente,
nublado e envolto em pássaros.
Sentia-se atrevida e corajosa,
névoa rara,
um quase poder.
Duvidou, achou que era sonho,
a nuvem ali, no chão,
esperando para ser tocada.
Correu com as mãos esticadas,
dessas de alcançar lonjuras.
Medo de tropeçar,
medo de desmanchar,
mas essa vontade incontrolável
de tocar a nuvem.
Não viu o sol,
não viu o arco-íris,
não viu as borboletas.
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Lílian Maial
Enviado por Lílian Maial em 07/03/2016
Alterado em 21/10/2020