NATAL RECICLADO
Lílian Maial
E o sol desponta,
Reciclando seus amarelos,
Como em todas as manhãs,
Só que é Natal.
Os homens passam,
Apressados em suas gravatas apertadas
E suas urgências recicladas,
só que é Natal.
As notícias de ontem
Inundam os jornais de hoje,
Reciclados de medo e realidade,
só que é Natal.
E a cada dia, em cada esquina,
Ainda há Meninos Jesuses reciclados,
Nascendo em manjedouras de fome,
Crucificados no asfalto pelos pecados do mundo.
Só que hoje é Natal.
Só que é 2005.
Reciclar é partir dos restos,
Do que já foi usado,
Do que é jogado fora,
Do que é desprezado,
Para se produzir beleza,
Se fabricar o novo,
O útil, o moderno.
Então, nesse Natal,
Há que se reciclar Papai Noel,
Aproveitar o que há de bom e produtivo,
Compactar dificuldades e inércia,
Para que o novo produto
- o novo homem –
recicle a idéia de que alguém tenha que morrer
para nos salvar.
O presente de Natal reciclado
É a promessa de se salvar o Menino,
Para que ele não tenha que morrer,
Cheirando a nossa indiferença.
A nova lista de Natal reciclada
Inclui a igualdade de oportunidades,
O olhar que importa,
A mão que não agride,
Para que não tenhamos que pregar,
Em cada criança de rua,
Um novo Cristo reciclado.
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Lílian Maial
Enviado por Lílian Maial em 18/12/2006
Alterado em 18/12/2006