BEIJA-FLOR DE MIM
BEIJA-FLOR DE MIM
Lílian Maial
Em que pese a gravidade e o tempo,
As chuvas, o vento, o predador,
O beija-flor paira no ar e busca, na flor,
Sua beleza, seu amor, seu alimento.
Não há solo firme, não há promessas, não há amanhã,
Apenas a necessidade instantânea de vida
E nesse desprendimento, pela estrada mais florida,
Voa frenético em sua certeza vã.
Não consegue parar de bater as asas
Precisa delas para seguir a viver
E como eu, entre rosas e espinhos morrer
Ou deixar acesa pra sempre a brasa.
Não teme, o beija-flor, o maior perigo
Por não conhecer, de pronto, quem o rodeia
E dentro da bela flor de onde suga a seiva
Encontra também o veneno e o castigo.
Voa livre, beija-flor, na primavera
Vai de encontro ao sol e à eternidade
Não dê margem à cobiça ou à maldade
Cubra-se de céu nessa longa espera.
Em seu bico, o doce e o amargo
Em seu corpo, as penas, furta-cor
Em seus olhos, a verdade e a dor
Em seu caminho, a leveza e o fardo
Suga, beija-flor, tudo o que pode
Leva a graça, a alegria, a luz, a cor
E partilha a ambigüidade desse amor
Que aqui torço por nós e nossa sorte.
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Do livro "Enfim, renasci!" - Ed Impetus
jul/2000
Lílian Maial
Enviado por Lílian Maial em 03/03/2006