Lílian Maial

Basta existir para ser completo - Fernando Pessoa

Meu Diário
02/01/2008 01h59
A RESSACA DO DIA PRIMEIRO – VERSÃO 2008
® Lílian Maial


Hoje é o primeiro dia do ano de 2008, e eu, como todo ano, aproveito para fazer uma espécie de "balanço" do ano anterior, com a intenção de me programar para as prioridades do ano que se inicia.

O ano de 2007, como já havia me prometido, seria o de reconstrução, reorganização, resgate de valores e ânimo para uma nova etapa da vida. E foi. Veio com trancos e barrancos, me trouxe alguns fios brancos a mais, porém me deu mais energia para os novos desafios, além de um baita orgulho de mim mesma, da minha capacidade (até então desconhecida) de operar milagres e dar a volta por cima.

E nada melhor, para um recomeço do zero, limpo e novo, do que a passagem de ano na praia, descarregando as energias, recebendo os bons fluidos da corrente de alegria e esperança dos que se reúnem junto ao mar. Nada mais revigorante do que molhar os pés na esperança, na promessa de dias melhores, ou simplesmente na espuma do mar que sempre me acolheu, tanto em verso, quanto em prosa, de mãos dadas com a alegria, com o carinho dos que me querem bem e dos que necessitam da minha luz.

A tradicional champanhe à meia-noite, os fogos de artifício espocando no céu limpo e claro, e no peito ainda um tanto nebuloso, o abraço dos meus amados (os presentes e os ausentes), o horizonte a me encarar desafiador, os pés fincados na areia, os sorrisos dos filhos, e, nesse ano, o carinho extra de uma criança desconhecida, especial, que veio em minha direção e decidiu passar comigo, sobre a minha canga esticada na areia, os primeiros momentos de 2008. E não houve nada que os pais pudessem fazer para demovê-la da idéia de se sentar ali, perto de mim, e soletar os nomes de seus familiares, mostrando que a pureza de coração atrai outros corações despidos de maldade, dispostos a oferecer amor em troca de simples aceitação. Com isso, meu ano começou com a primeira lição de todas, que certamente se estenderia pelos 365 dias vindouros.

Dormimos tarde, acordamos tarde. Me permiti ficar de preguicinha na cama, apesar do lindo dia de sol, com a velha e conhecida ressaca do dia primeiro! Ano passado choveu, mas neste ano o sol resolveu nos presentear com seu brilho tradicional para nós, cariocas.

Como todo ano, caminhei pela casa e vi que os filhos ainda dormiam tranqüilos em suas caminhas. Fiz um café gostoso e aproveitei para cheirar a casa toda. Sim, eu cheiro a minha casa. Cheiro cada cômodo. Adoro sentir o aroma de família, o cheiro de lar, as cores de cada um dos pequenos objetos que me significam grandes recordações de felicidade. Me percebi serena, e agradeci por isso.

Beijei as crianças, meus maiores tesouros, ali, ao toque de minhas mãos. Como não agradecer por isso?.

Em pouco tempo, o caçula se levantou, me abraçou e, com carinha de interesseiro dengoso, me pediu para usar meu computador. Só um pouquinho...

Observei as ruas desertas, os apartamentos dos vizinhos fechados (quase todos viajando), e voltei para a cama mais um pouco. Foi quando veio aquele velho sentimento de todos os anos, aquela sensação nostálgica de despedida de um ano que se foi, mesmo para um ano que não me foi muito leve, ao contrário, um ano duro, de tristes descobertas e constatações da maldade humana, um ano de provar a todo o tempo a competência no trabalho, para garantir meu espaço, um ano de saúde abalada por golpes certeiros no peito, mas também um ano de colheita dos frutos que estavam previstos.

Mais uma vez a sensação foi se esvaindo e, dessa vez, um imenso orgulho brotou no canto da boca, com um sorriso inexplicável de renascimento das cinzas. Isso! Fênix estava se erguendo vitoriosa, um tanto chamuscada, com um bom número de penas arrancadas, mas ainda capaz e disposta a alçar vôos.

Então, rapidinho a madame plumada abriu as asas, deu um pulo da cama, tomou um banho revigorante, se enfeitou para o dia e para o ano, se olhou no espelho e apagou, da imagem refletida, toda e qualquer sombra que ameaçasse seu sorriso.

Não! Nada de tristezas ou sentimentos negativos! Não para mim! Não para esse ano!
Eu e aqueles a quem amo só merecemos alegrias, positivismo, esperança e força de guerreiros.

Agora eu sei que 2008 é um marco, é o ano da ratificação das conquistas, da ultrapassagem das barreiras a que me impus, dos limites que me supus e dos sacrifícios que suportei.

Estou em paz, junto aos meus queridos, dona dos meus sonhos e caminhos, e cheia de vida e vontade de viver.

Nada havia prometido para esse ano de 2007, que não o silêncio da espera, e acabei conseguindo me surpreender. Este ano eu vou me prometer o futuro, a realização de antigos planos, e me esforçar para não perder o ânimo e a vitalidade.

Continuo agradecendo por tudo o que me aconteceu de positivo - assim como pelo negativo (que é assim que se aprende a valorizar o que realmente tem importância) – mas lutarei para conseguir chegar aonde pretendo.

Já deixei a vida me levar um pouco, como que para dar tempo ao tempo e recarregar energias, mas uma capitã não gosta de deixar o barco à deriva por muito tempo, e prefere segurar no leme de sua própria embarcação.

Ainda vou passar a agenda a limpo, como parte de um ritual que preservo, e sei que vou encontrar aqueles nomes de quem eu deveria ter visto mais, aqueles que deveria esquecer, e alguns que sei que me esqueceram. Faz parte. Só que esse ano eu quero manter a lista bem em dia, ligar para os que me são caros e retomar as amizades que deixei amornar. Chega de relax! É tempo de arregaçar mangas e ir à luta!

Já é quase dia 02, e as letras já saltaram do papel para o editor de textos.
Ah! Minhas letras! Extensão dos meus dedos! Minha boca! Meus olhos! Meus sonhos!
Todos acordadinhos, em alerta. Nada vai escapar.

Ano bissexto - promete! Meu lado místico, etéreo e viajante já está de malas prontas para uma longa viagem de 365 dias (366 dessa vez). Sinto-me forte e em paz.

Vou à varanda, molho as plantas. Esbarrei na bicicleta e me lembrei que, a essa mesma hora, um ano antes, eu me questionava a razão de não ter uma bicicleta. Agora eu tenho, e essa é uma boa razão para pedalar. Não agora, à meia-noite, mas certamente amanhã. Não é segunda-feira, mas todas as promessas ficarão para amanhã, porque agora é dia de ressaca, e ainda terei 365 dias para cumpri-las.

Feliz 2008!

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Publicado por Lílian Maial em 02/01/2008 às 01h59



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