SAUDADES
Lílian Maial
Hoje, em pleno voo de volta para casa, meus mortos vieram me saudar nas nuvens.
Estavam desenhados com as mais diversas formas, numa alegria de mortos.
Não pude vê-los em suas respectivas nuvens, mas sabia qual era a de cada um.
Meu pai morreu num dia como o de hoje, há 32 anos. Não consigo computar os anos em suas distâncias. É como se eles tivessem sido compactados na minha memória.
Muitos outros vieram me cumprimentar, bailar nas minhas lembranças.
Eu pude revivê-los. Uma viagem no tempo.
Por alguns instantes, quis poder tocá-los, sentir seus cheiros e o calor de seus corpos.
Cheguei dessa viagem com mais saudade e muito mais certezas. Não pretendo desperdiçar abraços e palavras de afeto. Vou dizer o que sinto, sem pudores infantis. Nunca se sabe quando não mais se vai poder ter ao lado as pessoas que passam por nós e que nos são caras.
Então, também por isso, quero gritar, hoje, agora, que te amo!
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Belém, 30/08/2015