28/01/2007 23h43
SERRA VERMELHA
®Lílian Maial
Enquanto o mundo todo assiste - estarrecido - aos efeitos do superaquecimento global em todo o planeta, e fazem fóruns mundiais com propostas para atenuar os efeitos, os ambientalistas do Piauí estão assustados com o projeto “Energia Verde”, que vem promovendo o maior desmatamento em andamento no Nordeste, na Serra Vermelha, localizada no Chapadão do Gurguéia, entre os municípios de Curimatá, Redenção do Gurguéia e Morro Cabeça no Tempo.
O empreendimento pretende, em 13 anos, transformar 78 mil hectares de floresta de Carrasco em mais de 4 bilhões de toneladas de carvão, para abastecer as indústrias siderúrgicas do Brasil e do exterior.
A empresa responsável pelo projeto é a JB Carbon S/A, de propriedade de João Batista Fernandes, que teve licenciamento ambiental da Secretaria do Meio Ambiente e Ibama, embora existam fortes indícios de que as terras tenham sido griladas. No local da retirada das árvores da caatinga já se pode testemunhar sucessivas mortes de animais silvestres.
O trabalho começou em agosto passado e, além do desmatamento e morte de animais, há as dificuldades para os homens que lá trabalham, impostas pela vegetação, aliada à alimentação precária, sendo obrigados a limitar sua produção diária, acabando por ir embora sem nenhum lucro. São mais de 1.000 homens usando moto-serras, sendo a madeira queimada em fornos que funcionam dia e noite.
Foram descobertas, naquela área, animais desconhecidos da ciência, principalmente serpentes, anfíbios e lagartos, segundo o professor de Zoologia da USP Hussam Zaher, que é doutor em répteis, e esteve na região em pesquisa dos animais ainda não estudados. A região está entre os 900 locais considerados prioritários para biodiversidade brasileira, de acordo com relatório recente do Ministério do Meio Ambiente.
O Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Curimatá também está preocupado com as conseqüências do projeto, com os estragos que esse desmatamento vai deixar na natureza.
Segundo eles, os brejos e as lagoas dos baixões, que são uma espécie de colchão que absorve a água da chuva e alimenta as nascentes de diversos rios e riachos da bacia do Gurguéia, que vem da Serra Vermelha, já começam a secar.
Outro segmento da sociedade que também demonstra preocupação com o “Energia Verde”, são os engenheiros agrônomos. De acordo com o presidente do Sindicato dos Engenheiros Agrônomos do Piauí - Avelar Amorim - a maior preocupação é quanto à localização do projeto, que se encontra em área de recarga, ou seja, recebe água da chuva e alimenta os recursos hídricos, e uma vez que a maioria das árvores da caatinga leva décadas para se desenvolverem.
O projeto da JB Carbon trata-se, segundo o engenheiro florestal Elizeu Rossato Tombolo - um dos técnicos do negócio - de um plano de manejo florestal sustentável, que faz parte do projeto âncora do Plano de Desenvolvimento da Bacia do Rio Parnaíba - Planap, realizado pela Codevasf e governo do estado. O plano foi dividido em 38 fazendas, cujos proprietários são oriundos do sul do país.
De acordo com Rossato, não está havendo desmatamento na Serra Vermelha, a atividade é ecologicamente correta, socialmente e economicamente sustentável, além de gerar 2 mil empregos diretos e 5 mil indiretos, e que os trabalhadores usam equipamentos de proteção, dormem em alojamentos e são bem alimentados. Explica que como as árvores são cortadas no tronco, elas vão se recuperar em três anos. Quanto aos bichos, ele disse que eles estão caminhando e que quando a mata crescer retornarão.
* dados extraídos de diversos noticiários e de reportagem de Tânia Martins para o Jornal do Meio Ambiente.
Publicado por Lílian Maial em 28/01/2007 às 23h43