25/01/2007 23h02
VOCÊ PRECISA COMER MAIS "MIOJO"...
®Lílian Maial
Às vezes me pego relembrando os versos daquela música de Belchior: “ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais”. Mulher moderna, independente, antenada com o mundo, ligada nas coisas dos filhos, procuro manter uma proximidade saudável, sem interferir muito no caminho que eles escolhem, porém não deixo de estabelecer uma certa autoridade, ordem na casa, com horários e rituais típicos de toda família brasileira.
Acontece que meu caçula é aficionado por miojo. Se pudesse os comia de dois em dois, em todas as refeições do dia, a começar pelo café da manhã.
“Vai gostar de miojo assim lá longe!” - deve ter pensado o leitor. E eu reitero as palavras e o espanto.
Assim, como mãe zelosa, dei instruções expressas para que ele voltasse a comer arroz, feijão, salada, peixe, carne, ovos, enfim, uma alimentação mais rica e balanceada.
Em pouco menos de uma semana, extremamente mal-humorado e com aquela cara de "criança mais infeliz do mundo", ele vem conversar comigo, por não conseguir entender minhas razões.
Aleguei que miojo vem com tempero industrializado, cheio de conservantes, corantes e acidulantes, que é massa, sem vitaminas e proteínas, e que ele estava em fase de crescimento, necessitando de todos os nutrientes para um futuro sadio.
A resposta veio na ponta da língua: perguntou se os avós comiam miojo, quando crianças, ao que retruquei que não, posto que nem havia o produto no tempo deles.
Ele então, com aquela carinha de anjo malvado, calmamente me fala que o meu pai, seu avô, morrera ainda novo, de ataque cardíaco, e que o outro avô, ainda vivo, já havia operado o coração e que não morrera por sorte, concluindo que o miojo não foi a causa.
Em sua lógica irrefutável, coloca que, talvez, se tivessem comido muito miojo, não tivessem adoecido. Dá pra discutir com as crianças de hoje?
Insisti no fator obesidade, ao que ele me devolve, dizendo friamente que menina, e não ele, é que se preocupa em ficar magra, vomita tudo o que come, e acaba morrendo de fome, como as modelos que ele vê na televisão.
Diante disso, coloquei que ele precisa formar os ossos, ter substrato para crescimento, enfim, comer direito, como os outros meninos da idade dele.
Imediatamente abriu um sorriso maquiavélico infantil, e me levou para seu “orkut”, onde me mostrou a comunidade “I Love Miojo”, com centenas de milhares de integrantes, todos risonhos, corados, aparentemente saudáveis.
Não há como discutir com um argumento desses...
Acabou que o miojo voltou ao nosso lar, com algumas restrições em relação à quantidade e à freqüência, para alegria de todos e felicidade geral até dos irmãos mais velhos, que vez por outra, eu soube depois, “beliscavam” o miojinho do caçula.
No final, ainda levei na lata:
- Mãe, acho que você precisa ficar mais feliz, você deveria comer mais miojo...
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Publicado por Lílian Maial em 25/01/2007 às 23h02