NATURALMENTE
®Lílian Maial
De súbito, a pele cobriu-se de nódoas, tornou-se áspera, escurecida, com rachaduras. Imaginou uma série de doenças, exposições a materiais os mais diversos. Nada sentia, a não ser uma necessidade premente de sol. Ele a revigorava! Estava viva! Mas aquela pele...
Depois foram os cabelos. Uns fios esverdeados, bem no meio da franja densa, davam-lhe um aspecto jovial, com certo toque “punk”. Criou imediatamente penteados sofisticados, exóticos, fazia sucesso por onde passava.
Até aí, tudo bem. Só que, tempos depois, começaram a brotar raízes de seus pés. Logo no início, conseguia esconder nos sapatos. Em pouco tempo, no entanto, onde encostasse ficava grudada, enraizada. Precisava se movimentar o tempo todo.
Entrou num misto de curiosidade, desespero e orgulho. Estava frondosa! Os braços iam esticando e afinando, galhos e mais galhos de envolver, alguns cipós pendurados. Jogava-os para o lado, num ar “blasé”. A cabeleira clorofilada caía-lhe pelo pescoço, vinha uma imensa necessidade de oxigenar, fotossintetizar, orvalhar!
De suas veias jorrava seiva. De seu púbis nasciam botões de flor. Desejo intenso de polinização. Certo dia, um beija-flor atrevido roçou-lhe as coxas e sugou e sugou e sugou. Não cabia em si de felicidade! De cada beijo da esplendorosa ave, um fruto nascia-lhe do ventre. Frutos e mais frutos, cada qual mais suculento.
Completa e plena fixou morada. Nunca mais se soube dela. Há quem diga que, debaixo daquela árvore, quem adormece sonha sementes.
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