HUMORES
® Lílian Maial
Tenho que reconhecer que meus humores são os maiores responsáveis pela minha percepção do estado das coisas. Estou sempre em alerta, à espera, alimentando a visita do inesperado, aquele alumbramento, que enche o coração e não deixa brecha para o tempo.
Há dias de aguardar em paz, de cuidar do espaço, como quem prepara a morada do novo habitante. Em outros, porém, percorre a espinha uma sofreguidão de anseios, uma premência de vontades, no fundo, um vazio pulsando ocupação. São eles, os humores, neurotransmissores, ou seja lá que nome tenham!
Sou assim desde criança. Mamãe dizia que era “bílis”. Papai entendia melhor, tinha as mesmas sensações, permeadas por rompantes, que a minha infantilidade não permitia.
Desde o primeiro momento, quem sabe a visão da luz, no parto, ou, mais adiante, a saciedade do aleitamento, o que importa é que esse encantamento se repita, que se eternize. Possivelmente eu tenha descoberto a origem do significado de saudade. Ou, até mesmo, o êxtase da droga, sem nunca tê-la experimentado. Não seria o amor – essa satisfação da saudade – a mais potente e viciante droga?
Meu corpo precisa mais e mais desse sal, desse princípio ativo que me causa irrequietude e preenchimento.
Meu peito se inunda dessa química toda, que faz com que eu não esqueça, que eu vibre, que eu bombeie energia.
Minha mente explode nessa poesia, que racha as comportas e transborda de mim e em mim.
Hoje é um desses dias de colecionar versos e rasquear ideias.
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