28/12/2006 19h40
SOBRE A BOA E A MÁ LITERATURA
® Lílian Maial
A Internet trouxe possibilidades infinitas e imediatas para a comunicação, porém, como é de domínio público, abriu as portas para todo o tipo de atividade e relacionamento.
No campo literário, propiciou a facilidade da leitura e da escrita, o acesso a livros, revistas e títulos vários, como também a criação de “sites” privados, pessoais, denominados “sites literários”, onde qualquer pessoa pode publicar o que bem entender.
É natural que um escritor que se acredite mais talentoso procure um “site literário” para expor seus trabalhos, como para conhecer os trabalhos de outros escritores. No entanto, o que vemos, na grande maioria desses sítios, é a formação de laços de amizade e sentimentos afins, mesmo entre aqueles que escrevem por diversão, encorajamento ou apenas expondo sentimentos.
Nada contra, afinal, é sítio aberto a todos os que se cadastrarem, contudo deixa uma certa frustração naqueles que buscam crítica sincera, como termômetro de suas produções. Não é por aí, não é nesses sítios que está o termômetro. Neles, o predomínio da amizade sobrepuja de longe a opinião sincera. Uma pessoa “amiga” dificilmente vai apontar as falhas no texto do “amigo”. Ao contrário, vai encorajá-lo a persistir no erro.
Assim, tais sítios valem muito para ajudar a expor trabalhos, encontrar parceiros e afins, mas não podem ser encarados como sítios de críticos, mesmo da mais simples crítica.
Percebi um certo mal estar com o texto de um recém-chegado a este sítio, onde ele coloca exatamente isso. Ele interroga onde estaria a literatura e o amor que se deve ter por ela. Só que tal pergunta não se aplica a estes sítios, pois não são formados e mantidos por amantes da literatura em sua essência. Na verdade, poucos são os freqüentadores que possuem profundo conhecimento da obra de expoentes literários nacionais e internacionais. A grande maioria ama os versos, mas não a palavra.
Não sou crítica literária, muito menos expoente literário. Sei o meu lugar, minhas limitações e meu alcance de vôo perfeitamente. E creio que por isso esteja à vontade para concordar ou discordar de qualquer texto nesse sentido, pois minha avaliação é isenta de vaidades.
Realmente muitos textos aqui são confessionais, como páginas de diários, mas há outros magníficos, alguns de escritores muito jovens, iniciando na deliciosa trilha das letras, e que não conseguem o apoio adequado ao seu talento. Os comentários se atêm à beleza óbvia do texto, e não ao trabalho de lapidação da palavra, das idéias e do contexto. Com isso, seu trabalho mais laborioso recebe o mesmo tipo de comentário de uma frase de impacto, de uma quadrinha infantil.
O que fazer então?
Selecionar a crítica. Garimpar e guardar o que é bom e útil.
Se seu texto não foi muito comentado, não quer dizer que seja ruim, mas apenas que não foi bem assimilado, entendido, ou sequer foi lido. Já observei que o título é tudo, em termos de “chamariz de leitura”. Um exemplo clássico é que meus textos eróticos têm 20 vezes mais leituras que meus melhores poemas, contos ou crônicas. E verifica-se que um título de impacto atrai mais que um título sui generis.
O Recanto é, como todos os “sites” abertos, um sítio de relacionamentos. Há carências, há despejo de sofrimento e dor em versos, há deságüe de produção em massa... Mas também há trabalhos bem feitos e oportunidades de leitura para todos.
Sabe aquilo de separar joio do trigo? Então, é isso! Basta encontrar um determinado autor de que se goste e degustar seus textos, trocar idéias, até mesmo fazer parceria. E deixar os que preferem manter os relacionamentos de amizade curtindo esse estado de coisas.
Há espaço para todos os gostos e todos os níveis e gêneros.
Entendo perfeitamente a sensação de quem chega e espera encontrar a mais pura e nobre literatura nessas páginas. Mas há “sites” assim e, creiam-me, nem tudo são flores neles também, pois a fogueira de vaidades é inerente ao ser humano...
Concordo que talvez as pessoas devessem sair um pouco mais do que é comum a todos, se arriscarem mais e romperem fronteiras, mas há que se respeitar os gostos, potenciais e limitações de cada um.
A liberdade é azul, a fraternidade é vermelha e a poesia é branca.
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Publicado por Lílian Maial em 28/12/2006 às 19h40