Lílian Maial

Basta existir para ser completo - Fernando Pessoa

Meu Diário
24/12/2006 11h30
É Véspera de Natal!
Pois é, é véspera de Natal!

Num Domingo comum, teria ido à praia, mesmo com o tempo meio lusco-fusco, mas carioca tem pacto sagrado com o sol, então sabemos que, mais cedo ou mais tarde, ele aparece.
Teria tomado meu café da manhã na padaria ao lado do clube, onde fazem o melhor pãozinho na chapa que já provei, de frente para o mar; teria feito sauna, quem sabe uma massagam relaxante, e voltaria para casa bronzeada, cansada, extremamente feliz.

Mas véspera de Natal é complicado, a começar pelo sol, que parece temer mostrar todo o seu esplendor em terras tropicais, e ofuscar o brilho da outra festa, que não a dos pássaros e flores, que não a da glória da vida que se perpetua a cada dia, quer os homens queiram, quer não (ao menos por enquanto).
E também essa obrigação de ceia, de família, de coisa imaculada, que não dura mais que parcas 24 horas, mas que tem todo um ritual atávico.
E ái do pobre coitado que tente driblar a cerimônia!

Eu, por exemplo, esse ano fiz tudo diferente dos anos anteriores, e acabei meio que sem ter o que fazer, vendo todo mundo fazendo alguma coisa.
Fiz meu supermercado com uma antecedência larga, mas hoje me deu vontade de ir lá, me meter naquela muvuca, não sei bem a razão.
Fiz minhas comprinhas de shopping também com prazo bastante folgado, e hoje estou com a sensação esquisita de que estou perdendo alguma coisa por não estar lá.
Cozinhei os pratos típicos da ceia todos ontem, deixei tudo prontinho, e hoje me invadiu uma estanha sensação de que profanei alguma coisa sagrada.
E agora, que não tenho supermercado para fazer, não tenho compras de última hora e nem estou encalorada e engordurada na cozinha, estou aqui na frente do micro, como se fosse uma desocupada, olhando todo mundo amaldiçoando o calor e o ter que fazer tudo isso no mesmo dia, e me pego numa nostalgia, numa situação ridícula de não ter com quem compartilhar o meu doce e precavido ócio de hoje.

O sol apareceu, mas não fui à praia, porque todos os amigos estavam ocupados com a ceia, e praia sozinha é um porre!
Estou com aquela cara de ressaca, sem ter sequer ainda aberto uma garrafa de vinho. Minha avó diria que é "cara de tacho furado embaixo".


Mas enfim, é Natal! E não há lugar para esses sentimentos individuais. É momento (gostemos ou não, queiramos ou não) de se repensar coisas, valores, diferenças, e se buscar soluções, todas regadas a esperança de safra nacional de excelente qualidade.

Então toca o telefone, e uma voz amiga me traz de volta à realidade, de que não estamos realmente sozinhos. Podemos até ter essa solidão ímpar, essa solidão lá de dentro, daquele cantinho do coração que ninguém conhece, nem mesmo nossa mãe, ou nosso cônjuge, ou nosso melhor amigo. Contudo, essa solidão é só nossa, é algo entre a tortura e o prazer, que mergulhamos em determinados momentos, como uma fuga, um porto seguro, entre a realidade e a fantasia, o amparo e o desespero.

Aí toca o telefone e eu já volto para o micro com outra sensação, e já retomo a escrita com novos olhares, e sai de dentro aquele fio de esperança, que me mostra que só depende de mim me erguer e fazer desse mais um Feliz Natal!

Beijos a todos os amigos e leitores, e que neste dia, e em todos os outros, possamos ter a certeza e a lucidez de que está em nossas mãos e em nossa vontade modificar nossas atitudes, nosso ponto de vista e, pq não, o mundo todo!

Feliz Natal!

Lílian Maial

Ah! Tô de saída para a praia, apenas para um mergulhinho de nada, e já volto para arrumar a mesa.

Publicado por Lílian Maial em 24/12/2006 às 11h30



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