ESTÁ CHEGANDO A HORA...
ESTÁ CHEGANDO A HORA...
®Lílian Maial
E, então, faltam somente três dias e parece que faz tão pouco tempo que ele chegou...
Lembro-me perfeitamente do momento em que recebi a notícia da gravidez. Estava começando uma residência médica (especialização), um tanto atarefada e tensa, quando comecei a ter dores abdominais. Fui examinada e meu médico não encontrou nenhum indício de alteração ginecológica que suscitasse cuidado. Fui buscar um clínico geral, que também nada encontrou de anormal. E as dores continuavam. Minha mãe se operou nessa ocasião, tentei ajudá-la e acompanhá-la, mas tive uma crise forte de dor e veio a suspeita de apendicite aguda! Bem, resumindo: fiz exame de sangue, que nada acusou, e fiz ultrassom, que mostrou alguma coisa (há 27 anos a ultrassonografia era bem rudimentar, sem maiores detalhamentos das imagens), porém sem definir o que seria, levantando, inclusive, a hipótese de tumor.
Pois bem, agora o “tumor”, a “apendicite” vai se casar. E eu vejo passar na minha mente um filminho interessante, que mostra o bebê mexendo na barriga e me encantando, o parto adiantado (ele já demonstrava uma curiosidade inata com as coisas do mundo e veio um pouquinho antes do tempo), o momento em que pousei meus olhos nele pela primeira vez, com os bracinhos abertos, ainda na sala de parto, todo sujinho, e que tive a certeza plena do que era o amor incondicional, e de quando, sozinhos, eu e o pai, o despimos completamente, para verificarmos, milímetro a milímetro, se ele estava bem.
Vejo os momentos de fominha e o jeito afobado de mamar, mas sempre me olhando nos olhos e segurando minha mão. Vejo o dia em que me emocionei quando o ouvi dizer “mamãe”.
Vejo o dia torturante de deixá-lo na creche, os dias de desespero com as doencinhas de bebê, os de vacinas (manhoso...), os de visitas ao pediatra. Vejo a primeira papinha, o primeiro dentinho, o primeiro tombo. Vejo as primeiras agonias e os primeiros planos. Vejo o amor que o cercava, os pais, os avós, tias, amigos. Vejo sua coragem no primeiro dia na escolinha, a primeira briga, a primeira decepção, a primeira vitória, o primeiro amor.
Recordo o dia do nascimento da irmã, quando adentrou o quarto em euforia, aos quase quatro anos, dizendo que o sol nascia lá fora e que, então, a irmã chegaria, e do quanto ele me ajudou a cuidar dela.
Lembro perfeitamente do dia em que me disse, aos 11 anos, todo solene e cheio de segredos, que já era um homem! E da nossa conversa, palavra por palavra, e do quanto ele absorveu meus ensinamentos sobre respeito e responsabilidades da nova condição.
Como esquecer o dia em que saiu de casa para estudar em outra cidade? Como não recordar as lágrimas cheirando suas roupinhas, que ficariam, como eu, aguardando sua volta?
Nesse filme, vejo o dia de seu retorno, suas inquietações, suas transformações e a minha felicidade de tê-lo por perto novamente. Lembro o quanto o admirei por sua independência-dependente, por sua determinação e capacidade de recuperação e assunção de ares de chefe da família, cheio de decisão e proteção. Estava se tornando um homem de verdade diante dos meus olhos.
Lembro do dia em que chegou em casa cheio de alegria, com carinha de sapeca, dizendo que havia encontrado uma garota maravilhosa, cheirosa, bonita, que, mais tarde, viria ser sua namorada e, agora, daqui a três dias, sua esposa. E do dia em que a apresentou a mim, quando senti que aquela seria a mulher de sua vida, e do quanto meu coração se alegrou com a escolha.
E de sua formatura, eu cheia de orgulho, não cabendo em mim de contentamento, com a sensação de missão cumprida e a gratidão por ter recebido muitas bênçãos dessa vida.
E das três vezes em que ele foi aprovado em concursos para a Petrobrás e que não pôde assumir, por ainda estar cursando a faculdade, e da agonia, depois de formado, de esperar pelo resultado do quarto concurso.
Do dia em que recebemos o telegrama o convocando para assumir na empresa tão sonhada, só que em outra cidade – Salvador - e quando, de pronto, ele disse que teria que antecipar o casamento, pois não conseguiria viver longe dela.
Do dia em que fomos escolher o anel de noivado – coisa mais linda – e da felicidade dele ao me contar como foi o pedido e a reação dela.
E, mais recentemente, de todos os preparativos para esse enlace, cercado de cuidados, carinho e energia positiva de todos os que os conhecem.
É, está chegando a hora de o meu filho formar sua família, começar a trilhar tudo o que já trilhei, só que com o piso mais regular e com a confiança de que sempre estarei aqui para apoiá-lo.
Está chegando a hora dele se lançar nessa longa, linda e laboriosa construção de ser feliz, e torço para que eu possa estar presente em seu futuro e receber a graça de acolher seus frutos, quando, assim, me saberei eterna.
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