NOVO ANO
®Lílian Maial
Eu conto os anos como quem coleciona troféus: cada um com seu valor, recheados de vivências e memórias, sempre um aprendizado. Coleciono distâncias, como quem o furto sabe e a brecha do que se lhe foi levado.
Houve um tempo em que eu pulava as horas. Coisa de ansiedade, de querer chegar. Hoje pulo os minutos, mesmo sem vontade (que o tempo nos prega peças muitas) e quero mais é entortar ponteiros.
Por isso vivo de ponta cabeça, agarrada ao ponteiro dos minutos da poesia. Ainda me iludo de que, talvez, quem sabe, consiga pesar na haste do verbo do segundo e impedir que ande... Embora sentido anti-horário nunca tenha feito muito sentido.
Meu calendário é impresso em versos. As palavras passam como brisa, buscando, nas estações, as rimas e a métrica dos meus devaneios.
Como já quebrei os espelhos do medo da morte, não sei mais seu rosto pálido, nem os contornos do seu corpo de pedra. Meus traços não precisam de reflexo. Eu tenho o sol na derme. Sou impregnada de pigmento de quimera. Meu sobrenome é primavera.
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