Lílian Maial

Basta existir para ser completo - Fernando Pessoa

Meu Diário
04/12/2011 13h39
REFEIÇÃO

REFEIÇÃO

®Lílian Maial

 

Ontem fui a um almoço em que o prato principal era o encontro.

Saboreei cada pedaço de emoção com a surpresa do gosto conhecido. Lambi os beiços de vida! Identifiquei temperos nunca antes imaginados nos traços dos olhos, nos cantos da boca, nos corpos enlaçados.

Deixei a mucosa absorver cada aroma de saudade e a língua se fartar de alegria.

E que belas cores na arrumação do prato! Tinha o azul da segurança e da estabilidade, o amarelo da prosperidade e da determinação, o verde da cura e da natureza, o vermelho da paixão e da procura, o rosa da delicadeza e do mistério, o roxo da saudade e do aconchego, o branco, o negro do imenso universo de nós. Ah! O branco! E como eram todos brancos de roupa, de profissão e de carinhos!

E que perfume ensurdecedor de espanto e gozo! Como era possível ouvir todas aquelas vozes que já embalaram tantas vezes os meus dias?

Na verdade, ontem fui a um almoço de pura história de mim, de pessoas que conviveram por seis anos na mais absoluta camaradagem, com as mais incríveis vivências dos tempos de adolescência, e que se viram, de súbito, lançados novamente no passado, envoltos na aura mágica das nuanças do tempo.

Quem poderia explicar o tempo? Curioso? Cruel? Fantástico? Inexistente?Quantos filósofos e pensadores de tantas eras já não se perderam tentando achar a explicação do tempo? Certamente não serei eu a desvendar seu enigma, porém, indubitavelmente sou eu a beneficiária da ignorância.  O que me importa o tempo, se eu consigo me localizar em todos os espaços simultaneamente, através das lembranças? De que me adianta descobrir traços e sulcos, se apenas vejo laços e sonhos?

Depois de me empanturrar de felicidade, ainda veio a sobremesa, que foi a homenagem aos ausentes de corpo - porque presentes na alma – com as gravações de nossos sentimentos tão comuns!

Ainda não digeri tanta comida do espírito, embora tenha descido suavemente, em movimentos sincrônicos e belos, feito valsa de sonho que nunca acaba.

Fui embora, mas ainda estou lá, como ainda estou na faculdade, como ainda estou no Vestibular, como ainda estou em sala de aula, revivendo o futuro.

Preciso urgentemente de um café bem forte, para acordar da lassidão e verificar que é tudo real, que estão todos aqui e que eu ainda tenho muito que aprender de mim.

Obrigada por estarem comigo.


Publicado por Lílian Maial em 04/12/2011 às 13h39



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