ROUGE
®Lílian Maial
Sempre tivera atração por vermelho. Ainda menina, invejava “Chapeuzinho Vermelho”. Crescidinha, a paixão pela cor aumentou: roupas, sapatos, batom, unhas, até o carro era o velho Mustang-cor-de-sangue! Devorava morangos, cerejas, framboesas. Gostava de exibir os machucados, morder os lábios, os cantinhos dos dedos. Era o sangue, o gosto de ferro, sentir a vida gota a gota. Preferia se depilar com lâmina, que com cera quente ou fria. Sentia um imenso prazer em menstruar, ver os pingos criando figuras no branco da louça.
Mas não era qualquer sangue – era o seu! Assim não fosse, teria sido médica, ou trabalharia em banco de sangue, mas nada disso jamais lhe passara pela cabeça.
Sonhava com banhos sensuais, onde lhe escorria sangue pelo corpo nu. Imaginava lágrimas rubras rolando pela face. Sentia o calor pulsando nas veias, em contraponto à frieza das sensações que lhe afloravam rutilantes.
Até que não suportou e fez jorrar toda a repressão pelos poros. Suou em variadas nuanças, desde granada profunda até desbotada anemia.
Exangue, dormiu. Com mil demônios!
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