Lílian Maial

Basta existir para ser completo - Fernando Pessoa

Meu Diário
14/09/2010 22h04
UM DIA SEM CÃO
UM DIA SEM CÃO
®Lílian Maial

 
Ah! Meu amigo Tasso é um sujeito especial! Ele me escreve, vez por outra (menos do que eu gostaria), sempre com um conteúdo inconfundível, inusitado, a “cara” dele. E veio me surpreender, dia desses, com um poetrix intitulado “um dia sem cão”.

Naturalmente, assim como você – leitor – fui levada para as telas e o premiadíssimo Al Pacino, astro principal do filme “Um Dia de Cão”. Só que este “um dia sem cão” não tem nada a ver com o “hollywoodiano”. Neste, o prezadíssimo amigo chama a atenção para a saga do deficiente visual pelas ruas da cidade, qualquer cidade, sem facilidades simples, que fariam grande diferença para eles.  Em época de eleições, não deixa de ser interessante...

Deve ser extremamente difícil não ver. Imaginei a escuridão, a fragilidade, como as coisas ficam muito mais complicadas com a deficiência visual, em todos os aspectos, mais ainda, sem haver adaptações públicas para a locomoção do cego ou do deficiente, de uma maneira geral. Todos sabemos que “o pior cego é aquele que não quer ver”, contudo, a harmonização, a participação da sociedade, é fundamental! Os que enxergam não podem se cegar à realidade dos deficientes.

O danado do amigo Tasso tem um faro quase policial. Desafiada por ele, acabei por descobrir que estamos entrando na semana comemorativa pelo DIA NACIONAL DE LUTA DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA (que é em 21 de setembro)! É uma baita coincidência (será?)! Lembrei que, na minha cidade (Rio de Janeiro), existe uma Secretaria Municipal de Pessoa com Deficiência – a SMPD – e fui pesquisar o que funciona, em termos de políticas públicas de proteção à pessoa deficiente, e tive a agradável surpresa de descobrir uma série de atividades voltadas para a integração das pessoas deficientes.

Soube, por exemplo, da Gerência de Promoção Socioeducativa Integral – GPI – um conjunto de estratégias voltadas para promover a convivência familiar, comunitária e a inclusão produtiva da pessoa com deficiência, atuando na lógica contrária ao asilamento. Tais ações se dividem em Casas Dia, Casas Lares e Repúblicas - espaços de atenção para pessoas com deficiência em situação de risco social. São oferecidas atividades culturais, sócio-pedagógicas, ocupacionais, esportivas e de cuidados pessoais, em horário integral ou complementar ao da escola. E há mais de 10 unidades espalhadas em pontos-chave da cidade, visando facilitar o acesso dos deficientes.

Descobri que a Gerência de Desenvolvimento Global Inclusivo (GDI) promove e inclui socialmente crianças e adolescentes com e sem deficiência, cuja idade seja de até 14 anos. Além da reabilitação, a iniciativa é associada a atividades sociais, esportivas, culturais, artísticas, lúdicas e de apoio pedagógico, com destaque para: creche, estimulação, estimulação ampliada, atividades infanto-juvenis e o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (associado à Oficina da Criança). A creche oferece cuidados especiais a partir de três meses.

Encontrei o CEMA-Rio - Centro Municipal de Atenção à Pessoa com Autismo – que, desde outubro de 2009, promove atendimento especializado, apoiado pela ONG RIOinclui. Lá, as pessoas com autismo recebem reabilitação, atividades inclusivas e socializantes. Nesta primeira fase, já estão sendo atendidas 40 crianças, que passam a ter um espaço todo planejado para o seu tratamento, atendidas por profissionais da saúde, com uma brinquedoteca e áreas de convivência.

Recentemente, um protocolo de intenções foi assinado, com a participação da SMPD, do sistema Firjan,  da Secretaria de Estado do Trabalho e Renda, do INSS (Gerências Executivas Norte e Duque de Caxias), do Ministério Público do Trabalho no Estado do Rio e a Superintendência Regional do Trabalho e Emprego, que oficializaram o comprometimento de todos na inclusão das pessoas com deficiência no mercado de trabalho, favorecendo as oportunidades, especializações e aumentando as ofertas para as mesmas.    

Enfim, descobri que há palestras, oficinas, seminários, todos dedicados à integração social/trabalhista da pessoa deficiente.

Tasso tem faro para coisas boas! E foi bom ter explorado as iniciativas na minha cidade. Imaginem que há um Jardim Sensorial Itinerante em escolas, praças, museus, empresas, feiras. Localizado no Jardim Botânico, é um espaço projetado especialmente para visitantes com deficiência visual, onde há um programa de Educação Ambiental Inclusiva. A ideia de fazê-lo itinerante é fantástica e bastante abrangente.

Com tanta coisa ruim sendo noticiada diariamente e que temos que engolir, mesmo sem querer, é incrível a descoberta de projetos e programas tão pouco divulgados e tão importantes para um segmento da sociedade, que é retraído e, ainda, muito pouco integrado em nossas vidas. Precisamos espalhar, incentivar, cobrar e participar!

Citando Clarice Lispector, que completaria 90 anos este ano, e que foi um dos eixos da Bienal do Livro de Sampa 2010:  
            "Pensar é um ato. Sentir é um fato"
                                         
  “Ver é a pura loucura do corpo”
 
Então, aproveito a SEMANA COMEMORATIVA PELO DIA NACIONAL DE LUTA DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA, de 15 a 21 de setembro, no CIAD  Maestro Candeia, no Centro da cidade do Rio de Janeiro, e conclamo a todos para se informarem, em suas cidades, acerca dos projetos, programas e políticas públicas que envolvem os deficientes visuais e as demais deficiências, e cobrarem das autoridades o cumprimento de suas promessas de campanha.
 

********************

Publicado por Lílian Maial em 14/09/2010 às 22h04



Site do Escritor criado por Recanto das Letras
 
Tweet