Lílian Maial

Basta existir para ser completo - Fernando Pessoa

Meu Diário
22/05/2010 17h47
DESCUBRA QUEM É, E O QUE REALMENTE IMPORTA
DESCUBRA QUEM É,
E O QUE REALMENTE IMPORTA

®Lílian Maial


 
Desde muito tenra idade que me sinto meio que “mãe do mundo”, com uma imensa necessidade de justiça, misturada à vontade premente de cuidar, de curar, de trazer bem- estar aos que me cercam, além de consciência social e desejo ardente de liberdade e igualdade entre as pessoas, qualquer que seja a cor, credo ou sexo.

Naturalmente isso tudo me causa satisfação, prazer, alegrias, exceto quando percebo os que assim não sentem, aqueles que ainda precisarão de muito chão a percorrer, de muita lição a estudar, de muito aprendizado.

Depois de muito enveredar pelos caminhos da busca interior, do sentido da vida, do “de onde vim e pra onde vou”, percebo que não importa. Nada disso importa. Nunca haverá respostas, porque as perguntas estão erradas. Não há o que descobrir, o que procurar, o que desvendar.  É preciso aprender a aceitar que a vida é uma fração de tempo finito, e que não temos o menor poder sobre ele – Chronos - não importa o quanto a ciência avance. Mais cedo ou mais tarde, Chronos nos devorará.  Só nos resta, enquanto isso não ocorre, entender que o sentido das coisas é sempre aquele a que nos propomos.

Concluo, então, que esse aparente litígio entre os sexos, a tentativa frustra de ser igual (porque não é mesmo), a vulgarização do pudor, que gera confusão na cabeça do homem entre liberdade e promiscuidade, tudo isso é fruto de mídia, que detém interesses escusos e manipula a massa.

É a mídia que lança os modismos e comanda o que deve e o que não deve ser dito, ser feito, ser usado, ser adotado como padrão. E onde ficam nossos padrões? Onde o atavismo? Onde o orgulho de ser mulher, a nobreza de ser mãe, a beleza de ser madura, a realização de ser avó, a delicadeza de ser menina, o mistério de ser todas?

Tento alcançar o fim do céu a olho nu e, nesse instante, mergulho no infinito. E sou livre. Não há sensação melhor no mundo que a liberdade. Sou livre para pensar, para querer, para sentir.
Não há o que me proíba de ser.

E olho minhas mãos. O quão livres são minhas mãos?

Essas mãos que já pediram colo, que já passearam pelo rosto e cabelos de minha mãe.
Que já se cruzaram nas costas, escondendo as artes do papai, e que também o vestiram e cruzaram as suas, em seu derradeiro adeus. Essas mãos que já amaram, que já procuraram os caminhos do prazer, que já se deram a outras mãos, em comunhão.
Que já ampararam, acariciaram, cuidaram e deram segurança a cada filho, e que também os soltaram, para que aprendessem seus próprios caminhos e acreditassem em suas próprias mãos.
Essas mãos que já curaram, confortaram e fecharam as pálpebras de tantos pacientes.
Essas que já escreveram os mais belos poemas e as mais amargas cartas de solidão.
Essas que ainda procuram e procuram e procuram, porque são livres para procurar.

Sim, não há nada que substitua a liberdade.

Pode-se perder uma parte do corpo, um grande amor, a família, o emprego, o sucesso, o trem. A tudo se supera, se adapta. Mas não se pode perder a liberdade, pois é através dela que se entende a vida, que se pode ter esperança de que, um dia, se possa ser realmente livre.

Nenhum de nós é imune ao tempo.

Então, por que a disputa, se a linha de chegada é tão negada, tão assustadora e combatemos tanto, retardamos tanto? Por que disputar o chegar na frente, se não queremos, no fundo, chegar?

E, nesse momento, eu deixarei de incomodar, quando cada um perceber que deve procurar seu destino, sua missão, seus desígnios. Quando entenderem e encontrarem, eu deixarei de incomodar.

Sim, porque eu só incomodo aos vazios, aos sem sentido, aos que vivem para seus umbigos, trajando antolhos, desfiando o rosário da intriga, da difamação, da incompreensão, da falta absoluta de generosidade, camuflados por palavras vãs e gestos coreografados para “inglês ver”.
 
 
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Publicado por Lílian Maial em 22/05/2010 às 17h47



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