22/05/2010 17h02
PESAME MUCHO
PESAME MUCHO
®Lílian Maial
Hoje comemoro um óbito que nunca, de fato, morreu.
Tento enterrar lembranças fantasmas que me rondam em dias de sol.
Como diziam Roberto e Caetano:
- “a coisa mais certa de todas as coisas não vale um caminho sob o sol”.
E, sob o sol, eu douro a pílula.
Sob o sol, empurro uma vida que se esvaiu sem que eu visse, sem que eu pudesse intervir.
Não estava em minhas mãos o destino da minha alegria. Eu doei. Eu fui feita promessa. Eu aceitei. E aceitaria tanto mais, para que hoje não tivesse esse buraco negro nas entranhas!
Passam-se os dias na alegria e vivacidade de quem distrai a morte, de que dribla o vazio, de quem caminha longos passos arrastados para o cadafalso, sem perceber que já balança pendurado com a corda ao redor do pescoço.
Miro cada amanhecer sabendo como poderia ter sido. E o conhecimento dói.
Louvo as auroras e os luares. Brindo cada sorriso e cada desabrochar. Mas nunca mais serei pétala. As raízes foram arrancadas pelo prazer do jardineiro. Um jardineiro cruel. E ninguém pode colar uma pétala ao caule, ou ao galho.
Trago, nas marcas do rosto, as certidões, com firma reconhecida, da felicidade que me foi furtada, e que me passa ao largo.
A luz do olhar tremula e a palavra engasga, na inanição da saudade.
Mais um maio passando diante dos meus olhos atônitos, pela beleza de fim de tarde, em que eu poderia ser feliz.
Quantos maios mais terei eu de suportar com tanto azul?
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Publicado por Lílian Maial em 22/05/2010 às 17h02