Lílian Maial

Basta existir para ser completo - Fernando Pessoa

Meu Diário
16/05/2010 14h51
M.Â.E.
M. Ã. E.
(Matéria Animada Experimental)
®Lílian Maial


 
Mãe deveria ser mais seriamente investigada pela ciência. Nesses tempos de transplantes, transgênicos e transformações tantas, a mãe merecia mais destaque nas pesquisas.

Imaginem o constrangimento dos cientistas modernos, quando finalmente alguém dissecar a mãe e descobrir que todas as respostas (bem como todas as perguntas) estão lá!

Algo de estranho acontece quando a mulher engravida. E não é só fator hormonal, psicológico, ou mesmo a mudança da forma do corpo não. Algo além, talvez celular, quem sabe mutação genética? Mutação não é uma coisa necessariamente negativa, mas mudança onde não se espera.

E quem espera passar a gostar de músicas da Xuxa, sabendo até as letras de cor, depois de ter batalhado a adolescência toda militando no diretório acadêmico da faculdade?

Quem espera se emocionar às lágrimas diante de desenhos esquisitos do filho, que mais se assemelham a um E.T. atropelado (dizendo que aquilo é a mamãe), se nunca chorou antes nem para a Monalisa?

Quem espera abrir mão do conforto, da melhor porção de comida (aquela batatinha deixada pro final), ou deixar de curtir os programas favoritos?

Pois é... Digam para u’a mocinha que ela fará tudo isso em menos de dez anos, e ela dará uma sonora gargalhada, questionando a sanidade do interlocutor. 

Digam a u’a mulher plenamente realizada na carreira, executiva, que ela deixaria tudo por um choro de dor de seu filho, e ela teria cólicas de risos, imaginando que são todos uns machistas assustados.


Por isso, caros cientistas, busquem a célula-mãe, e não a célula-tronco. Pesquisem todos os genes maternos, porque ali deve estar o segredo.

Algo acontece, sem dúvida, que vai de encontro a todos os preceitos, todas as crenças, todas as convicções.

Mãe perde o rebolado e abre mão de tudo, se a felicidade do filho estiver em jogo. Larga tudo, esquece tudo, perdoa tudo. Acoberta, passa a mão na cabeça, a mesma com que ralha e afaga. Morde e sopra, com a mesma boca que orienta os caminhos e dá beijo de boa noite. Enfim, é um poço de contradições!

Como vimos, mãe é quimicamente inviável, logicamente impossível, fisicamente improvável, matematicamente elevada à última potência indefinida.

Tem algo de bruxa, algo de fera, um quê de médica, um tantinho de política, catedrática em paciência e parente de polvo.

Tem fé em Deus e parte com o Diabo. É perfeita dentro da mais absoluta imperfeição. É humana em sua divindade e divina em sua humanidade.

É chatérrima em seus diagnósticos precisos. É indubitavelmente única em cada uma das múltiplas facetas de que é feita.

De uma vez por todas, caros cientistas, filósofos e pensadores, descubram logo o que é isso a que chamamos “mãe”, e vacinem o mundo!

Salvem as baleias!

Salvem o verde!

Salvem os homens!

Habemos madre!


 
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Rio, 08 de maio de 2005.
 

Publicado por Lílian Maial em 16/05/2010 às 14h51



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