27/12/2009 17h45
E LÁ SE FOI O NATAL...
E lá se foi o Natal...
®Lílian Maial
Desperto cedo, no entanto, a casa dorme. É dia 27 de dezembro, mas ainda há resquícios do Natal: tudo meio bagunçado, como que arrumado às pressas, e com cheiro diferente, numa mistura de tender, peru e rabanada.
A rua já esboça certo movimento preguiçoso e até o sol demora a sair de trás das nuvens, num ato de rebeldia por ter que raiar.
Circulo pelos cômodos e percebo o tanto de energia que foi gasto para aquela noite especial, que embute um misto de surpresa, expectativa e comunhão. Nesse dia, há uma necessidade de se agrupar, de reunir a família, mesmo aqueles que não se dão o ano inteiro, de ter a casa cheia, de mostrar a cristandade que habita a todos nós, incluindo os ateus de todas as religiões. Todo mundo parece fazer questão de brindar pela paz, pelo amor, pela igualdade. E isso gera uma energia e, no pós-Natal, um cansaço, como se toda a energia do ano tivesse sido gasta ali.
Será assim em todo o mundo? Será isso mesmo o que acontece por todos os povos?
Nada como um dia pós-Natal para se pensar essas coisas. Mas, aí, abro o jornal e leio que um grupo de brasileiros fora atacado na véspera de Natal, com inúmeros mortos, feridos, desaparecidos e mulheres estupradas na fronteira do Brasil com o Suriname, e por razões obscuras, por medição de forças. Será que por lá não é Natal?
Leio sobre atentados em aviões, sobre disputas internacionais por uma criança, quando há tantas crianças sem ninguém que lhes dirija sequer um olhar... O que deu errado? Por que Papai Noel não visitou essas criaturas? Por que o “espírito de Natal” não baixou no Suriname? O que há com essa turma?
Está certo que o Natal não modifica as pessoas, não muda a situação social, política, econômica de ninguém, mas até nas guerras, no dia de Natal, sempre houve um cessar-fogo, uma trégua, um certo respeito, se não ao menino aniversariante, ao menos a tudo o que simboliza o humano que há em cada um de nós.
Deveria ser uma data símbolo de bondade, de fraternidade, de altruísmo. E não, não é o que as manchetes apontam. Virou coisa careta, démodé, ultrapassada se acreditar na humanidade e na generosidade. Hoje em dia, somente os interesses contam. Natal virou comércio, disputa pelo melhor presente mais barato, ou apenas mais um feriado, em meio a tanta corrupção, mandos e desmandos da politicagem.
Este ano, para alguns, o Natal foi Fatal. Como em 2006. Lembro-me bem, há três anos, por essa época, quando uma onda de terror se instalou no Rio de Janeiro e ações criminosas incendiaram ônibus, com mais de 20 carros lotados de bandidos, armados com fuzis e granadas, em razão de brigas entre “comandos coloridos”. Como ficaram as famílias dessas pessoas que mataram e morreram tão cruelmente? O que se passa na cabeça de quem arquiteta uma ação desse tipo?
Ah! Dias que se seguem ao Natal e prenunciam o Ano Novo sempre me fazem escrever essas coisas. Reflexão é o tipo de coisa que não cai bem em dia de ressaca de festa.
Francamente, seria tão melhor que cada pessoa fizesse um balanço das atitudes que assumiu durante o ano e registrasse o saldo positivo, planejando aumentar esse saldo para o ano vindouro, com posturas decididas e corretas... Sonho? Talvez. Mas ainda há tempo. O ano ainda não acabou, e cada um de nós pode reunir as forças e gritar, mexer, agitar, fazer alguma coisa para que seu ano possa realmente ser novo.
De nada adianta reclamar, esbravejar, falar mal e fazer ironia sobre fatos que nós mesmos deixamos acontecer. Nós mesmos fomos responsáveis por inúmeras desgraças que, hoje, criticamos. Quem sabe Papai Noel não esteja justamente esperando o nosso sinal verde para entregar os verdadeiros presentes? Ou, melhor, o verdadeiro futuro?
Que 2010 – ano regido por Vênus – ano do Tigre – venha com a beleza e a força unidas para remodelar nossas mentes e nossos corações, para que – juntos - possamos fazer um mundo melhor, cuidando do meio ambiente, cuidando uns dos outros, resgatando a família, investindo na educação, no amor e no carinho com os nossos filhos, nossos velhos e nosso próximo!
Feliz 2010, mundo!
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Publicado por Lílian Maial em 27/12/2009 às 17h45