Lílian Maial

Basta existir para ser completo - Fernando Pessoa

Meu Diário
21/10/2009 22h17
VIOLÊNCIA
Violência
®Lílian Maial

 
Estava fora do Rio, quando soube dos episódios de violência, morte, uma verdadeira guerra civil, envolvendo policiais, bandidos do tráfico de drogas e cidadãos comuns.
Temi pela minha família, pelos meus vizinhos, pelos conterrâneos, pelas pessoas simplesmente.
Sofri, mais uma vez, com o rumo que as coisas vêm tomando, com a truculência das decisões alucinadas, alienadas, como uma revanche de quem nunca teve uma chance, contra aqueles que nem conhecem, que nem sabem se são os responsáveis pela falta de oportunidades.

Vejo o submundo se tornar o mundo real, e o mundo que era considerado normal como o que vira submundo.
Vivemos gradeados, assustados, escondidos, imperceptíveis, porém como que acostumados com todo esse desvario, essa imbecilidade, destruição, marginalidade e descaso.

Por mais que apontem os bandidos como responsáveis pelas mortes e pelas drogas e armas, mais me convenço que a solução não está na polícia. Claro que quem atirou no helicóptero da PM foi um bandido cruel, sanguinário e hediondo, que precisa ser contido e removido do convívio social. Porém, numa retrospectiva não muito distante, esse mesmo bandido deveria ter estado, há 20 anos, matriculado numa escola de tempo integral, com alimentação, educação, cuidados de saúde, ensino profissionalizante e formação humana, cívica e religiosa.

Ah! Saudade de Darcy Ribeiro! Um dos idealizadores das escolas de tempo integral – os CIEPs – que previam a redução da violência, justamente pela retirada das criancinhas dos meios já contaminados pela frieza, revolta e malandragem. Tudo parece ter sido em vão. Quantos sonhos, ideais, projetos jogados ao léu! Por que os políticos que assumem a pasta precisam destruir o que o antecessor construiu? Por que não são punidos por desperdiçar o erário, abandonando os projetos que deram certo?

Se os CIEPs tivessem seguido o projeto de seus idealizadores, hoje, mais de 20 anos depois, aquelas crianças não teriam se misturado aos cestos contaminados, e poderiam ter tido a chance de serem inseridos no mercado de trabalho, com uma formação decente, longe de drogas e armas, como qualquer criança que hoje, já adulto, tem entre 20 e 25 anos.

Não sou partidária política, não pretendo ser, mas reconheço um bom projeto e pessoas de visão. Darcy e sua equipe queriam o bem da nação, queriam um povo brasileiro forte, digno e instruído, queriam paz e justiça social. E os políticos de hoje, o que querem? Qual político atuou na redução real da violência e na projeção de um futuro melhor para nossos filhos? Qual vereador, deputado ou senador se preocupou com a carceragem, com a criação de penitenciárias em que os presos trabalhassem para seu sustento e auxílio às comunidades? Qual governador cuidou de sua cidade, enfrentou suas mazelas e amparou os filhos sem futuro?

Eu estou de luto pelo Rio de Janeiro e pelo meu país. Estou de luto pelos que sucumbem, a cada dia, nesse lamaçal de sangue e pólvora. Estou de luto por todos os que não viverão a juventude e a velhice. Estou de luto por todas as crianças de hoje, que serão os marginais de amanhã, e por todas as crianças de hoje, que também serão vítimas da violência dentro de poucos anos. Meu filho vai crescer, seu filho também, assim como os filhos da rua. Precisamos cobrar de nossos políticos a urgente revitalização do projeto original dos CIEPs, sem populismo ou partidarismo, para que os filhos de nossos filhos consigam viver em paz, e a cidade possa novamente brincar de sol e mar, e o único espocar que ouvimos seja dos fogos de artifício de fim de ano.

 
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Publicado por Lílian Maial em 21/10/2009 às 22h17



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