Minha Mãe tem Cheiro de Flor
®Lílian Maial
Minha mãe tem cheiro de flor. Não é à toa que seus perfumes favoritos, por ocasião da minha infância, fossem dois florais da griffe Caron: “Fleur de Rocaille” e “Muguet du Bonheur”. Até hoje sua pele recende a jardim, onde me deito e me delicio com as fragrâncias que exalam aconchego, proteção e ninho.
Minha mãe, que nasceu no inverno, tem as cores todas da primavera, como as flores do campo, que desabrocham com o calor e o carinho. Tem a delicadeza das flores, a maciez das pétalas, alguns espinhos necessários, mas também a plena consciência de sua função de florir.
Sou capaz de reconhecer o cheiro da minha mãe, como também o de cada filho, e não há nada mais meu (ou mais eu), do que o roçar em sua pele.
Minha mãe hoje parece uma margarida, com seu rosto-miolo redondo e rico em pólen de vida, com os cabelos de pétalas brancas, com os quais brinco de bem-me-quer e mal-me-quer, sendo que o mais importante é que ela-me-quer sempre.
O sorriso de minha mãe tem alquimia, tem o poder de potente analgésico, de curioso ansiolítico e do mais eficaz relaxante muscular. É bater e valer!
Além de alquimista, é um pouco bruxa, maga, adivinha e curandeira. Sua mão mexe comigo, alcança meu coração e meu espírito, massageia meu ego e transforma todas as minhas agonias. Algumas vezes provoca outras, muito embora, nesses casos, quando me deparo com a possibilidade de não mais tê-la por perto.
Minha mãe é um bouquet de amor-perfeito, que a Natureza me presenteou, e que todos os dias se abre para que eu caiba inteira, num só amarrado.
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