16/09/2009 21h43
ERA UMA VEZ UM GRANDE AMOR...
Luiza confabulava com seus botões, absorta em seus pensamentos: “É assim que as coisas parecem ser: aquilo que não é conforme se pensa, passa a ser errado, monstruoso, criminoso até! Você pode ser uma pessoa legal, boa, sem más intenções, ao contrário, pode fazer de tudo por alguém, ser capaz das mais lindas delicadezas, dos maiores sacrifícios até, mas tudo vai pelo ralo, tudo vira lixo, quando alguma coisa não sai exatamente como o outro quer”.
Ela se perguntava se aquilo era amor. Se condenar, criticar, não valorizar o que o outro gosta, fazer pirraça, usando inclusive pessoas boas para esse fim, se era amor. Não parecia. Para ela, amar não era só ficar com a pessoa no pensamento e querer bem quando ela faz o que o outro quer. Amar seria um querer bem sem condições, nada de imposições do tipo: “só te quero se for assim”. Isso não é amor, é posse, é egoísmo, é barganha com o sentimento.
Enquanto caminhava pela rua, tinha certeza de que quem ama de verdade ajuda o outro, o incentiva, se preocupa com ele, quer bem, quer ver feliz, passa a amar o que o outro ama, até mesmo o time de futebol e a terra natal.
Sabia que o verdadeiro amor aceita o passado, não tenta modificar, como condição para ser feliz, mas vai sutilmente trazendo a pessoa amada para o seu jeitinho.
Estava convicta de que quem ama não se vinga, não xinga, não fere. Que quem ama poupa e faz de tudo para ver o outro sorrir, e não para causar mágoas. Não proíbe e não aprisiona, mas liberta e torce para que o outro esteja bem e que queira ficar por prazer, não como condição para ser aceito.
Enfim, intuía que quem ama aceita, de verdade, qualquer coisa que venha do outro, mesmo que aquilo vá de encontro aos seus conceitos, à sua maneira de ser. Que quem ama tenta entender as razões do outro, tenta se aproximar das coisas do outro, tenta trilhar os caminhos ao lado do outro, e não impedir que o outro tenha seus próprios passos.
Ela se sentia triste. Via, a cada dia, que não era reconhecida, que era desvalorizada. Não era amada como pessoa, se percebia apenas desejada como uma coisa, uma conquista, uma obsessão. Era fruto da imaginação do outro, mas não se sentia amada pelo que era, mas pelo que o outro queria que ela fosse.
E ela acabava por topar isso, aliás, vinha topando, embora percebendo que estava deixando de ser ela mesma.
Ninguém a reconhecia. Nem ela mesma se reconhecia! E quando voltava a tentar resgatar um pouco da alegria natural e da espontaneidade infantil, era crucificada por ser verdadeira, por não mentir, por não esconder. E o pior, descobriu o ódio, a vingança vil, as atitudes que não tinham como serem desfeitas.
Foi taxada de falsa, de promíscua, de baixa, de podre e de coisas piores, apenas por ser uma pessoa autêntica, que não escondia seus sentimentos para com as pessoas. Por ser transparente e pura.
Se fosse sonsa e mentisse, talvez fosse valorizada.
O pior é que o outro, Maurício, ele sim, tomava as atitudes podres e baixas, e ainda posava de vítima. Mas sorria, e muito contente e poderoso, ao beber as lágrimas de quem o amava.
Luíza estava chegando ao seu limite. Não suportava mais as humilhações e concessões que era obrigada a fazer, para usufruir de um sentimento que se desgastava com tanta dor, tanta mágoa e tanto abraço vazio.
E tudo por alguns momentos de felicidade, por um trocado de carinho e uma entrega intensa, por alguns parcos minutos, cada vez mais raros.
Não! Aquilo teria que acabar! Era como um vício, e todo vício é maléfico, destrói, aniquila! Ela precisava dar um basta! Emergir de tantos maus tratos, de tanta subestimação. Afinal, ela era linda, inteligente, bem sucedida, não precisava daquilo.
Suportou as mais cruéis provocações, a disputa, a inveja, a baixeza, em nome de um amor que parecia unilateral.
Era chegada a hora de se libertar, de cortar o cordão, de ter coragem de amargar a falta daquele que não a entendia e não a respeitava.
E ela, um dia, disse não. Saiu e bateu a porta. Não voltou implorando. Não olhou para trás, e, finalmente, Luíza encontrou o caminho de volta para si, deixando a promessa de Maurício misturada ao seu amargor, sua ignorância e seu egoísmo.
Luíza triunfou e ganhou o maior de todos os amores, uma vez que era ela novamente, disposta a arcar com cada amanhecer, e com o propósito supremo de adormecer com o coração em paz e livre!
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Publicado por Lílian Maial em 16/09/2009 às 21h43