Lílian Maial

Basta existir para ser completo - Fernando Pessoa

Meu Diário
11/07/2009 15h04
AINDA ONTEM ERA TUDO DIFERENTEMENTE IGUAL

®Lílian Maial
 

 
Ainda ontem, eu podia andar de bicicleta sem medo de assaltos, sem dores nos joelhos, sem que houvesse tantas marchas. Era uma Monark linda, aro 28 (naquele tempo não era aro 26, mas 28) e eu, aos 10 anos, me sentia com 30, dona do mundo sobre as duas rodas imensas!
Hoje, com um pouco mais de 30 (rsrsrsrs), me sinto com 10, porém não tenho mais a velha bicicleta e nem os joelhos (que também são velhos).

Ainda ontem, eu tinha vergonha de ser tirada para dançar nas festinhas e, ao mesmo tempo, morria de medo de ficar na cadeira a noite toda. Tremia por inteiro ao sentir a mais leve proximidade do meu corpo com o de um menino.
Hoje, sou mãe de 2 meninos (e uma menina), e me tremo toda quando penso que eles já levam as meninas lá em casa. Sei que, mais dia, menos dia, vou dançar...

Ainda ontem, eu estudava diuturnamente, sonhava com a faculdade, com os pacientes, com a cura do câncer.
Hoje, ainda tenho que estudar todo dia, e ser eu a paciente (com tudo e com todos), e ando às voltas com a cura dessas dores cervicais que não me largam.

Ainda ontem, eu era filha, obedecia regras (nem todas, mas só eu e você – leitor – sabemos), admirava meus pais, não compreendia o mundo sem minha irmã, ansiava pelo futuro.
Hoje, sou mãe, ainda tenho regras todo mês (até quando eu não sei), invejo meus pais, sinto saudade da minha irmã, e receio o futuro sem eles (inclusive as regras).

Ainda ontem, eu encontrei o amor eterno, me surpreendi com sua intensidade e inesgotabilidade, construí um sonho e vivi nele, multipliquei esse sentimento esquisito que quanto mais se doa, mais se tem.
Hoje, eu entendo que está dentro de mim esse amor eterno: intenso, inesgotável, progressivo e estranho, que não pára de se multiplicar pelo mundo, pelas pessoas, pelas letras e pela vida, e descobri que o sonho que construí é a minha própria vida, com todos os percalços, tropeços e lágrimas, mas também com os saltos, os acertos, as lembranças de ouro e os sorrisos.

Ainda ontem, era tudo diferentemente igual, porque eu sou a mesma, exatamente a mesma mutante de sempre.
 
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Publicado por Lílian Maial em 11/07/2009 às 15h04



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