Lílian Maial

Basta existir para ser completo - Fernando Pessoa

Meu Diário
26/06/2009 21h26
Eu também morri um pouco com Michael Jackson
Eu também morri um pouco com Michael Jackson
®Lílian Maial
 
 
Um pouco da minha história se foi com ele. Cada época da minha vida foi embalada por algum sucesso dele, fosse ainda com o Jackson Five, ou já como o fenômeno Michael.  Mais um ídolo me deixa com essa estranha sensação de perda, de apagamento da minha própria história, lenta e gradual.

Quem, hoje, entre os 40 e 60 anos de idade, já não imitou alguns passos do “Moonwalk” (aquele em que os pés parecem caminhar para frente enquanto o corpo desliza para trás) ou do “Thriller” com sua inigualável e original coreografia? Quem já não sentiu uma forte emoção, ou dançou de rosto colado, ao ouvir “ I’ll be there” , “Got to be There” ou “Ben”?

Michael fez parte da minha infância e adolescência, e, por incrível que pareça, da infância e adolescência dos meus filhos que, até hoje, ainda ensaiam os passos do meu antigo ídolo-menino.

Não há como esquecer o brilho nos seus olhos ao entoar “Ben”, “Music & Me”, e a energia liberada nos empolgantes hits “Beat it”, “Bad”,  “Thriller”, ou, ainda, as mensagens subliminares de suas músicas, indicando os momentos pelos quais passava.

Como toda figura pública, sempre foi cercado de intrigas e controvérsias. Polêmico. Mas porque nunca deixou de ser aquele menino  que o pai (Joseph) obrigava a ensaiar horas a fio, com os quatro irmãos que compunham o “Jackson Five”, sem lhe dar a chance de vivenciar a infância, além de espancá-lo e humilhá-lo, tamanha a ambição.

Com isso, Michael fez questão de permanecer criança, incorporando a figura de Peter Pan, a ponto de dar o nome de Terra do Nunca (Neverland) à sua mansão/sítio, numa tentativa desesperada de resgate da infância roubada.

Não conseguiu. Guardava tanta mágoa e carência, que a “Neverland” e todas as crianças de quem tentou se cercar e ajudar mundo afora não conseguiram aplacar os recalques que a infância perdida e o pai tirano marcaram a ferro e fogo.

Apesar disso tudo, Michael tinha estrela, emplacou sucesso atrás de sucesso, entrou várias vezes para o “Livro dos Recordes” (Guiness Book), tanto pelos milhões de discos vendidos, quanto pela imensa fortuna amealhada, como por ser o artista que mais contribuiu para causas sociais do mundo todo!

Ele era único! O maior fenômeno musical do século XX (ao lado dos Beatles) - mais de setecentos milhões de cópias. Mais de 40 organizações mundiais de ajuda a necessitados. Mais de 10 cirurgias plásticas. Mais de tudo!

Michael Jackson foi o primeiro representante da “black music” a ter suas músicas tocadas nas rádios de rock, aparecer na MTV e ser admirado e respeitado por todos, não só pela bela voz, mas também pelo incrível talento para a dança, uma presença de palco sem igual e um carisma teatral invejável. Era um artista completo. Era invejado, alvo de maledicência e sensacionalismo. Um menino que não sabia lidar com a maldade dos adultos, e sucumbiu à maldade das crianças das quais vivia cercado, se recusando a crescer.

Num mundo já tão sem ideologias, restam-nos poucos ídolos. Não importa se pretos ou brancos, ricos ou pobres. Mais um dia se passou e continuamos sozinhos, pois agora, como Elis, ele é uma estrela.
 

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Publicado por Lílian Maial em 26/06/2009 às 21h26



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