11/06/2009 16h20
OUTONO
OUTONO
®Lílian Maial
Aonde foi que o tempo me escapou?
Perdida entre tantos afazeres, metas, apertos e gozos, em que parte do caminho terei deixado de dominá-lo?
Era tudo tão simples, esquemático, prático e certo!
Era tudo tão meticulosamente planejado: crescer com boas lembranças, estudar para uma boa carreira, ser boa filha, respeitar e amar os pais e irmãos, para poder ser boa mãe, no futuro, me formar numa carreira linda, pós-graduar, amar, encontrar o par, casar, procriar, multiplicar o amor, constituir uma família sólida e feliz, um lar, lutar para adquirir um teto e instruir os filhos, e fechar o ciclo da vida, vendo os filhos crescendo, estudando, adquirindo uma carreira promissora, amando, casando, procriando, aumentando a família. Já previa divertidos almoços dominicais, passeios e viagens inesquecíveis, envelhecer com sabedoria e alegria, sempre cuidando e sendo cuidada.
Mas... E aí? Em algum ponto desse caminho os resultados não eram os esperados ou, ao menos, os planejados. Em algum ponto, a luta deixou de ser compartilhada, os sonhos se tornaram distantes, e a família não parecia tão sorridente nos almoços de Domingo.
Em que altura a vida se me escoou por entre os dedos? Teria eu simplificado demais as etapas, ou os patamares não eram tão facilmente acessíveis quanto eu imaginava?
Tantas perguntas hoje me habitam, que nem sei como há espaço para buscar respostas. O olhar para trás não me aponta a rotura. A análise dos fatos não me indica o caminho. O balanço sempre tende ao positivo, talvez com um fiel viciado em felicidade.
Não sei. Tem momentos em que, a mim, me parece que tudo é como sempre foi e deveria ter sido, e que eu é que me recuso a enxergar o calendário. Noutros, tenho a nítida sensação de que fui lesada, de que algo me foi furtado, quem sabe uma oportunidade de ter intervindo em meu próprio destino?
Teoricamente sou feliz. Consegui crescer saudável, me formei, pós-graduei, amei, casei, procriei, amo e sou amada, trabalho, tenho um teto, passeio, viajo. Então por que essa poesia? Por que esse sentimento de ausência de um sentido para tudo isso? Por que a finitude?
Não sei. Só percebo que o vento está me soprando chuva e frescor, e já é junho novamente, como há tantos anos...
*************
Publicado por Lílian Maial em 11/06/2009 às 16h20