Lílian Maial

Basta existir para ser completo - Fernando Pessoa

Meu Diário
22/03/2009 22h50
SILÊNCIOS

Silêncios
®Lílian Maial

 
 
Os silêncios são uma forma de comunicação. E não há um silêncio, há silêncios.
As rosas não falam”, mas os silêncios dizem muito.
Já dizia o velho ditado: “quem cala, consente”. E eu inventei um: “quem cala, sente”. E sente muito, mesmo! Ou não, como diria Caetano Veloso. Neste caso, o outro é que sente. O interlocutor idiota (nada mais idiota do que falar, falar, falar e seu ouvinte não ouvir, ou não dar a mínima, ou apenas calar)!
Silêncios podem guardar a serenidade da espera, ou a agitação da falta de notícias.
Silêncios podem significar emoção, quando não se tem palavras para expressá-la.
Podem também significar ignorância.
Podem ainda ser uma arma, um subterfúgio, uma forma de ficar neutro, de não tomar partido ou assumir uma posição.
Alguns silêncios são defensivos, quando uma simples palavra poderia desencadear uma guerra, ou exigir explicações, ou até mesmo desmacarar comportamentos suspeitos ou absolutamente cínicos.
Há silêncios com gosto de merengue, outros com sabor de lágrima, os acre-doces e os picantes. Sem falar nos nauseantes! Há silêncios para todos os gostos.
Há o silêncio das preces, da contrição, da meditação, e o silêncio da aurora.
Há os silêncios que prescindem de palavras; momentos mágicos, onde o olhar pode substituir um milhão delas. Pena que durem pouco...
Há, por outro lado, o silêncio da indiferença, quando a falta de palavras nem é intencional, na maioria das vezes, mas uma profunda lacuna entre o querer dizer e o ter o que dizer.
Há o silêncio do adeus e o silêncio da ausência.
Os silêncios podem ser moduladores de uma relação, principalmente quando são de mão dupla. Sim, porque enquanto um dos dois não silencia, sempre há a esperança de algo a ser dito, umas palavrinhas simples, um pequeno afago verbal, um adjetivozinho de nada, ou ainda um reles substantivo. Porém, quando as bocas estão seladas para o riso, para o beijo e até para as palavras, é sinal de que as boas lembranças já ficaram lá longe, o sonho se desfez, que nem nuvens esvoaçantes, e a vida segue seu curso com todos os ruídos que a fazem tão rica e, ao mesmo tempo, tão marcada por silêncios.
 
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Publicado por Lílian Maial em 22/03/2009 às 22h50



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