Palestina ou Israel?
®Lílian Maial
É um círculo vicioso, sempre a mesma ladainha, o mesmo choro contido, o ranço de outras épocas e antigas devastações. Uns poucos e tantos insistindo na salvação da raça humana, na paz entre os povos, na saída para um mundo melhor, enquanto sabemos perfeitamente que é da natureza humana a destruição.
Desde priscas eras já conhecíamos a destruição, muitas vezes disfarçada de defesa e autopreservação. O homem descobriu o veneno, a erva, o fogo, o ferro, o aço, a espada, a pólvora, a bomba, a indiferença. A ciência avança, inventa a doença e a cura, aumenta a longevidade, enquanto crianças morrem de fome, apenas por ter nascido filho de pais que pensam diferente. Onde é que já se viu?
Fala-se em inserção social, em excluídos, porém dividimos o mundo em primeiro, segundo, terceiro... Revoltamo-nos com as idéias arianas, ao mesmo tempo em que criticamos e menosprezamos as diferenças. Palestinos e Israelenses, que diferença eles têm? Será que a visão da dilaceração de um filho dói menos em algum deles? Será que a perda de tudo o quanto cultivam nos lares tem importância menor para algum deles? E por que outros povos têm de tomar partido e municiar melhor um dos lados? O mundo inteiro carrega duas bandeiras inimigas? O que é tudo isso?
A querida amiga Rosa Pena ainda anseia pela volta dos girassóis. O amigo poeta Nathan de Castro lamenta a morte da poesia de amanhã. Já um outro amigo, delegado de polícia, apelidou a área de risco no entorno de sua delegacia como “Faixa de Gaza”, e é quando lembramos que temos Gaza também aqui, no Rio de Janeiro!
E eu? Eu que sempre fui tão alienadamente otimista, tão intensamente apaixonada por gente, tão solidária e defensora dos direitos e dos injustiçados, me vejo em meio a uma teia de destruição e espanto, de loucura e conformismo, de mudança que apenas maquia.
A Mãe Natureza já mostrou seu desprezo pelo homem. O homem - que criou um deus à sua imagem e semelhança, que venera ídolos de purpurina, perdidos em seu próprio brilho, que abandona o semelhante para alcançar benesses. O homem - que inventou o sorriso, a poesia, o amor e a eternidade, que usufruiu das endorfinas da paixão e do altruísmo, o mesmo homem que manufatura a desgraça, a dor e o desamor.
O homem deveria ser mulher. Deveria ser mãe, para saber a ausência de sentido da morte de um filho, seja por qual razão for. O homem deveria parir seu ódio em dor, e talvez seja isso o que já vem fazendo, destilando peçonha extraída de almas poluídas de ambição, arrogância e razão. Eu sou o rei, sou o dono, sou o maior, o mais rico, o mais forte, o mais bonito, o mais-mais! E que se danem os infelizes inferiores!
Estou por aqui com a Natureza, esta, sim, menina perversa, que permite que sua criação destrua o que ela mesma cria!
Talvez seja tudo uma grande piada. O mundo é uma piada. A vida é uma piada. Se pensarmos bem, viemos todos do nada e vamos para lugar nenhum, e o que fazemos ou deixamos de fazer pouco importa a quem quer que seja. É assim, sempre foi assim e sempre será. E enquanto aguardamos o nosso desaparecimento, temos a opção de construirmos uma vida em conjunto, ou destruirmos o que não nos interessa. E começam as intrigas, as diferenças, as lutas, as guerras, as mortes, as lágrimas.
Como disse o Nathan: “Não sei mais o que dizer... Ninguém escuta”.
A mãe que lamenta seu filho é a mesma que apedreja os filhos da vizinha. O filho que mata outro filho, que fará chorar outra mãe que, de ódio, incita outros filhos a vingarem o seu. Parece conhecido? E é. Isso remonta ao início dos tempos, e nunca acabará. Mata-se por ganância, por dinheiro, por inveja, por despeito, por deus. Por Deus!
“Ama o próximo como a ti mesmo”. Será isto? Será que não nos amamos e, no fundo, somos todos suicidas sem coragem, sendo mais simples matar o outro? Já temos tão pouco tempo para a vida, e ainda precisamos abreviar? Estranho paradoxo é o homem, que busca a longevidade e, ao mesmo tempo, maneiras mais arrojadas de destruição em massa.
De poeta e louco, todos têm um pouco. Onde foi que eu errei?
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