Papai Noel e a Crise
®Lílian Maial
Concordo com você: o estresse está no ar!
Crise é a palavra do Natal 2008, e acabamos sendo penalizados, tanto física, quanto emocionalmente.
As obrigações de presentear (no meu caso raro, tenho prazer, e escolho o que presenteio de acordo com as pessoas a quem presentear), acabam levando a população ao consumismo exagerado. Até os símbolos natalinos e o que gerou a comemoração do Natal ficaram esquecidos, e muito poucos sabem o porquê da árvore de Natal, do Presépio, de Papai Noel vestido de roupas de frio, e das cores verde e vermelho, rebanhos e pastores em pleno dezembro. Faça um teste agora e veja, na lista que citei, o quanto você sabe sobre o Natal.
Aqui em casa, por exemplo, as crianças não curtem o Natal como símbolo de fé, porque não somos religiosos. Aqui a comemoração se dá porque minha mãe – a matriarca da família – é católica fervorosa (embora não descarte simpatias e não deixe de realizar todas elas à meia-noite), e então a coisa soa como uma historinha mal contada e um hábito incorporado, como uma tentativa de deixa-la mais alegrinha e, a cada ano, eu tento me superar entre surpresas, enfeites e um cardápio para agradar aos paladares mais exigentes da família.
Só que, ao longo dos anos, depois de separação e o falecimento de familiares próximos, o Natal se tornou uma data triste e constrangedora, porque eles eram a graça e o charme da festa, junto com o pobre Jesus.
Aliás, o espírito natalino se tornou um símbolo de reunião da família. Passou a ter mais esse espírito de reunião familiar, do que de comemoração religiosa, e isso virou tormento em famílias desfeitas, quer por separação conjugal, quer por separação imposta pela morte de entes queridos.
Mesmo assim, insisto em montar a árvore, em reunir os filhos e minha mãe, em comprar presentes (na medida de meu parco orçamento) para alegrar os dias que antecedem o tal dia – agora estranho e incompleto – em que se come comidas diferentes do resto do ano e se enfeita a casa com símbolos que nem se sabe o que significam, mas que estão no clima e na moda. Quem não enfeitar a casa com os últimos e mais elaborados enfeites e luzes made in China não está com nada, é um segregado.
Isso tudo sem mencionar o Reveillon, que não deixa de ser uma obrigação de mostrar que estou feliz, quando muitas vezes preferiria ficar em casa sozinha e dormir cedo, mas nem essa opção eu tenho, porque os fogos de artifício espocam barulhentos desde as primeiras horas do dia 31, assustando os cães e as crianças, e lembrando o dia todo que eu sou "obrigada" a curtir Reveillon, mesmo que não curta.
Ah! Vocês devem estar me achando um saco, uma chata!
Sim, talvez esteja mesmo mais melancólica neste ano.
Talvez a dor alheia ainda me comova, e me doa o conhecimento de milhares de desabrigados de enchentes, de milhões de esfomeados e excluídos nos 365 dias e 6 horas do ano, a noção de doentes sem assistência...
Talvez as notícias de criação de mais vagas para vereadores e suas milionárias comitivas, de mais demitidos das fábricas, de mais filhos perdidos por balas não tão perdidas, talvez tudo isso me cause essa melancolia natalina.
Ou não. Pode ser apenas um dia a mais para escrever sobre o que me incomoda o ano todo e tem me incomodado a vida toda: a minha própria inércia.
Que nada! É tudo culpa da crise. Foi ela, foi ela! Ela provocou as chuvas, ela aumentou o dólar e fez cair o preço dos barris de petróleo, ela até foi a culpada pelo futuro não aumento de salário dos funcionários públicos. Por causa dela, até a cor do próximo ano mudou de laranja para azul celeste...
Feliz Natal e Próspero Ano Novo!
E podem apostar que, em 2009, vai ficar tudo azul...
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