31/07/2008 19h51
DRIVE-THRU - verão 2003
Por Lílian Maial
Havíamos decidido passar um dia maravilhoso em família.
Manhã perfeita de sol, depois de uma estafante semana de trabalho e estudo, todos queriam mais era descansar e aproveitar aquelas horas de inércia à beira da piscina do clube.
Passamos o dia basicamente inteiro às voltas com filtros solares, óculos escuros, todo o aparato de proteção da pele. Mesinha de boa localização, garçon preferido, cerveja pra lá de gelada, picanha fatiada ao ponto. Mergulhos, sauna e a tarde caindo, numa preguiça poente invejável.
Levantamos acampamento, com a certeza de que era tomar banho e cair na moleza de um aconchegante sofá, para um filminho com alguns petiscos.
Ops! Que petiscos? Não havíamos comprado nada! Parar em alguma delicatessen a essa hora, nem pensar! Padaria... não, estacionar, todos suados e cheios de fator de proteção solar 30... não, definitivamente nada de descer do carro.
Uma das crianças deu seu palpite: McDonald’s! Sim, e por que não? Pertinho de casa tem um (como se em cada esquina não tivesse um), inclusive com drive-thru, ou seja, não precisaríamos sair do carro. Perfeito!
Ao nos aproximarmos da “casa das telhas vermelhas”, uma fila não tão pequena assim nos recepcionou. Mas, já que seu lema é rapidez de atendimento, e o nome “drive-thru” dá uma noção de velocidade, resolvemos arriscar. E entramos na auto-fila.
Qual...
Não fora o barulhento Ronald e sua dança-sei-lá-do-quê, até que teria sido tolerável a espera, mas aquele som infernal, junto com a gritaria da criançada, depois de muito sol e cerva na cabeça, tenha dó!
O pai não disfarçava a irritação. Ao passar na máquina para fazer o pedido, as crianças ainda tinham dúvidas e o pai avermelhando a expressão. Calmamente contei as crianças, multipliquei pelo número de cheesebúrgueres e hambúrgueres que cada um come habitualmente, mais algumas batatas e sobremesas e pronto, soletrei as quantidades resolvidas.
Apesar da gritaria insuportável e da voz gasguita do animador, conseguimos acalmar o pai, o filho e o espírito santo, amém, com a promessa de um ótimo filme que estava à nossa espera.
Mal chegou nossa vez, e lá vem o cara com aquele puffzinho com numeração, e lança no teto do carro, orientando meu marido a estacionar logo adiante.
- Ora, mas não é drive-thru? Que diabo de espera é essa?
Simples, um dos sanduíches que o mais velho pediu levava bacon e demorava pra ficar pronto.
Não preciso dizer o quanto o moleque foi amaldiçoado em pensamento e entre os dentes rangentes do pai, que, para informação, não havia se cuidado com os filtros, e estava um pouco mais vermelhinho e ardidinho do que desejava.
Depois de 10 minutos alucinantes de espera e vendo todos passando na nossa frente, o pai descobre que alguém levara nosso sanduíche, o tal com bacon.
Pronto, foi o que bastou. O homem saltou ENORME do carro, dirigiu-se ao rapaz que, equivocadamente, cedera nosso sanduíche a outra pessoa que acabara de pedir, sacou do puff do capô do carro e partiu para enfia-lo em algum lugar não muito descritível.
Apesar da proteção do guichê de vidro, o rapaz se encolheu tanto, que quase cabia entre duas fatias de pão: o McCovardão.
Bem, depois disso, logo, logo apareceram os nossos saquinhos de papel, com bacon e tudo, um bando de canudinhos, colherinhas, sachezinhos de catchup e mostarda, e um volte sempre apavorado...
Muito bem, acabou. Agora é correr pro abraço, chegar em casa e devorar os sanduíches deliciosos, vendo um bom filme.
Mal chegamos e as crianças avançaram nos pacotes, cada qual pegando seus sanduíches, quando ouço a exclamação do caçula: veio tudo com pickles!
Quase desmaiei. Nossa família inteira detesta pickles, e sempre nós pedimos tudo “grill” no Mc Donald’s (sanduíche normal, mas sem os famigerados pickles, cebolas picadas e temperos fortes).
Preciso falar do resto? Pois saiu o pai bufando, com as sacolas nas mãos, a pé, blasfemando, na direção do drive-thru.
Não sei o que lá ocorreu, mas ele voltou com os sanduíches certinhos, mais 3 tortinhas de maçã, 3 Mc Mix de MM e uns 2 ou 3 sanduíches de brinde...
Ah, como é generoso esse Drive-Thru!
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Publicado por Lílian Maial em 31/07/2008 às 19h51