19/04/2008 11h18
URGÊNCIA
De repente, tudo é para ontem.
Tudo tem que ser agora, tudo tem pressa.
Há uma urgência, uma impaciência, um passar por cima de tudo e todos, apenas para ver suas próprias necessidades satisfeitas.
E as dos outros? E o se colocar no lugar do outro? E a mudez? A ausência total de "semancol", de perceber que os outros têm sentimentos e têm precisão da palavra, do gesto, do olhar e de todas as explicações que lhes foram negadas.
Urgência? Eu também tenho. Eles também têm. Urgência de saber como, quando, quem e, principalmente, o porquê.
Esperando? Também estou. Também estamos, e há muito tempo.
Esperando o cumprimento das promessas feitas tão solenemente, esperando a verdade, esperando o olho-no-olho, esperando a cumplicidade cobrada somente de um dos lados.
Ah! Esperar passou a ser o verbo mais comum e mais ouvido nos últimos tempos. Esperar, de aguardar, e esperar, de ter esperança. Sim, porque só o que resta é a esperança, já que a realidade e o dia-a-dia foram roubados de sinceridade e doação.
Estamos todos cansados de esperar.
É bom irem-se acostumando, porque nada mais resta, senão esperar.
Até hoje eu espero, e sei que ainda esperarei por uma eternidade, uma vez que a palavra não veio até agora, provavelmente nunca virá.
E a distância vai se fazendo pão, rio e correnteza. A imaginação - pior de todos os algozes - vai tecendo a trama das verdades ocultadas, das mentiras maquiadas, dos dublês das más notícias.
De repente, o carrasco se faz vítima, num estalar de dedos. Todos os fatos mudam de ângulo, e só se sabe da urgência no cadafalso, da urgência da corda ao redor do pescoço, da solitária morte da história idealizada de uma vida, cuja personagem principal não sabia o texto.
A vida é urgente, a morte é premente, mas nada faz sentido e nada importa, se não houver a verdade, a sinceridade, a entrega e o amor ao outro.
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Publicado por Lílian Maial em 19/04/2008 às 11h18