05/02/2008 16h20
(DE)COMPOSIÇÃO
Lílian Maial
Vem nas notas da melodia, nos versos tristes de uma canção, lembranças gravadas em estúdio, cenário feliz de uma peça inacabada.
O estranho é isso: não acaba nunca! A coisa vai sendo impressa na memória. Parece que está fora de moda e, de repente, vem de volta, numa onda, e se vai em espuma, com a maré de sorte.
Fica a maresia, a (e)terna sensação de mar, ferrugem nas dobradiças. E se coloca um óleo, um pó de grafite, e se disfarça o rangido, até trocar por uma porta nova.
Mas o espaço dos portais está lá, recordando, a cada dia, que ali já houve uma casa, e se vai levando as horas, com a languidez de um despertar preguiçoso, um peso nas pernas, uma imobilidade sem justificativa e sem razão de prosseguir.
Nada parece ter o mesmo sabor e, mesmo assim, ainda se mastiga e engole os dias.
E se luta, se tenta erguer por sobre escombros, com as cinzas todas bailando ao nosso redor.
Mais um dia, mais um mês, mais um ano, e deveríamos nos dar por satisfeitos, afinal, tantos têm tantos problemas tão maiores...
Formigas ouvem música na pedra, o vento varre varizes vazias, o sangue pulsa e jorra saudade, o adeus tem gosto de nunca mais.
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Publicado por Lílian Maial em 05/02/2008 às 16h20