® Lílian Maial
Há cerca de 01 ano, escrevi uma crônica contando que, quando criança, nos dias que se seguiam ao Natal, era comum se sair às ruas, para mostrar os brinquedos novos, andar de bicicleta em grupo, sair de manhã e só voltar para o almoço, para depois sair de novo e retornar ao anoitecer, exaustos, imundos, felizes. E que hoje nossos filhos são criados em apartamentos e em shoppings, mal sabem andar de bicicleta, são limpinhos, quase assépticos, e não possuem a cara rosada e risonha do nosso tempo de molecagens. Os dias seguintes ao Natal se passam em salas de bate-papo virtuais, em mensagens do “orkut”, ou simplesmente no quarto, com os fones de ouvido do novo MP3 ou 4. Questionava eu a mudança de valores, a moral, o respeito e a bondade das pessoas. Estava assustada com o vandalismo que havia se abatido sobre a minha cidade (e, depois soube, outras também), com incêndios de ônibus e terrorismo urbano.
Lembrava do tempo em que meu Rio de Janeiro era aprazível, era lindo, ganhava músicas de presente (já foi até chamado de “broto”). Hoje em dia as drogas, o tráfico, o consumo desenfreado, a promiscuidade (sendo confundida com liberação sexual), o desespero e a solidão, pintaram um quadro muito feio e pessimista da minha cidade.
Todos os dias, abrimos o jornal ou ligamos o noticiário da TV e nos deparamos com aberrações, com tragédias, crimes e assombros políticos.
Mas quem disse que isso só acontece no Rio?
Não tenho como descrever o que senti ao saber e ver meu Rio de Janeiro em chamas, ônibus incendiados com pessoas comuns, idosos e crianças em seu interior, sem chance de escaparem. Não tenho como detalhar o que me percorreu pela espinha e pelas veias ao me sentir tão vulnerável numa cidade que me viu nascer, e para a qual trabalho com amor e dedicação. Porém, sei perfeitamente que isso não é o Rio de Janeiro, que isso é o homem! More onde morar, viva como viver, só o homem é capaz de infligir a outro homem essas atrocidades, seja de que origem for.
Por outro lado, em qual lugar do mundo se encontra esse clima delicioso, esse sol acolhedor, essa gente risonha, apesar dos maus pedaços, essa natureza que é mesmo Mãe? Onde mais se tem o privilégio de acordar e ver o mar, ver o horizonte e ainda se sentir abraçado pelo Redentor?
Essa PAZ deveria ser comum a todos, pois que é direito da humanidade, independente de raça, credo, poder aquisitivo, mas só o carioca pode amanhecer sorrindo para o Cristo, entardecer assistindo ao pôr-do-sol do Arpoador, e adormecer na areia, nos braços da lua cheia.
Parabéns, meu Rio de Janeiro!
E, para você, meu Rio, de presente, um poema:
RIO, MEU AMOR!
Lílian Maial
O dia amanhece mais azul
E os sons de tuas ruas estão mais vivos.
Teus cheiros, teus gritos, teus silêncios
estão impregnados em mim,
Eu, tua filha, que te bebo em versos de poesia.
Meu porto, que me viu chegar
e me verá partir.
Meu amante, a quem me entrego virgem
E por quem me prostituí.
Ah, como é bom fazer amor contigo!
Vim te desejar felicidades,
meu Rio de Janeiro,
Minha cidade, meu canto,
meu abrigo nas noites de pranto.
Minha mãe que me viu nascer e parir.
Meu filho, terreno fértil de amor,
Patrimônio de meu coração,
A quem venero como imagem,
A quem devoto meu suor.
Meu grande e querido Rio,
De nome agitado,
Não fica parado
E corre, como eu, pro mar.
Hoje é teu dia de glória,
Teu momento de fama,
Tua vez triunfal.
Que triste que teus filhos te esquecem!
E nem por ti uma prece,
Nem um simples poema,
Ou notícia no jornal!
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Rio, 20/01/08.