Lílian Maial

Basta existir para ser completo - Fernando Pessoa

Meu Diário
02/01/2008 01h59
A RESSACA DO DIA PRIMEIRO – VERSÃO 2008
® Lílian Maial


Hoje é o primeiro dia do ano de 2008, e eu, como todo ano, aproveito para fazer uma espécie de "balanço" do ano anterior, com a intenção de me programar para as prioridades do ano que se inicia.

O ano de 2007, como já havia me prometido, seria o de reconstrução, reorganização, resgate de valores e ânimo para uma nova etapa da vida. E foi. Veio com trancos e barrancos, me trouxe alguns fios brancos a mais, porém me deu mais energia para os novos desafios, além de um baita orgulho de mim mesma, da minha capacidade (até então desconhecida) de operar milagres e dar a volta por cima.

E nada melhor, para um recomeço do zero, limpo e novo, do que a passagem de ano na praia, descarregando as energias, recebendo os bons fluidos da corrente de alegria e esperança dos que se reúnem junto ao mar. Nada mais revigorante do que molhar os pés na esperança, na promessa de dias melhores, ou simplesmente na espuma do mar que sempre me acolheu, tanto em verso, quanto em prosa, de mãos dadas com a alegria, com o carinho dos que me querem bem e dos que necessitam da minha luz.

A tradicional champanhe à meia-noite, os fogos de artifício espocando no céu limpo e claro, e no peito ainda um tanto nebuloso, o abraço dos meus amados (os presentes e os ausentes), o horizonte a me encarar desafiador, os pés fincados na areia, os sorrisos dos filhos, e, nesse ano, o carinho extra de uma criança desconhecida, especial, que veio em minha direção e decidiu passar comigo, sobre a minha canga esticada na areia, os primeiros momentos de 2008. E não houve nada que os pais pudessem fazer para demovê-la da idéia de se sentar ali, perto de mim, e soletar os nomes de seus familiares, mostrando que a pureza de coração atrai outros corações despidos de maldade, dispostos a oferecer amor em troca de simples aceitação. Com isso, meu ano começou com a primeira lição de todas, que certamente se estenderia pelos 365 dias vindouros.

Dormimos tarde, acordamos tarde. Me permiti ficar de preguicinha na cama, apesar do lindo dia de sol, com a velha e conhecida ressaca do dia primeiro! Ano passado choveu, mas neste ano o sol resolveu nos presentear com seu brilho tradicional para nós, cariocas.

Como todo ano, caminhei pela casa e vi que os filhos ainda dormiam tranqüilos em suas caminhas. Fiz um café gostoso e aproveitei para cheirar a casa toda. Sim, eu cheiro a minha casa. Cheiro cada cômodo. Adoro sentir o aroma de família, o cheiro de lar, as cores de cada um dos pequenos objetos que me significam grandes recordações de felicidade. Me percebi serena, e agradeci por isso.

Beijei as crianças, meus maiores tesouros, ali, ao toque de minhas mãos. Como não agradecer por isso?.

Em pouco tempo, o caçula se levantou, me abraçou e, com carinha de interesseiro dengoso, me pediu para usar meu computador. Só um pouquinho...

Observei as ruas desertas, os apartamentos dos vizinhos fechados (quase todos viajando), e voltei para a cama mais um pouco. Foi quando veio aquele velho sentimento de todos os anos, aquela sensação nostálgica de despedida de um ano que se foi, mesmo para um ano que não me foi muito leve, ao contrário, um ano duro, de tristes descobertas e constatações da maldade humana, um ano de provar a todo o tempo a competência no trabalho, para garantir meu espaço, um ano de saúde abalada por golpes certeiros no peito, mas também um ano de colheita dos frutos que estavam previstos.

Mais uma vez a sensação foi se esvaindo e, dessa vez, um imenso orgulho brotou no canto da boca, com um sorriso inexplicável de renascimento das cinzas. Isso! Fênix estava se erguendo vitoriosa, um tanto chamuscada, com um bom número de penas arrancadas, mas ainda capaz e disposta a alçar vôos.

Então, rapidinho a madame plumada abriu as asas, deu um pulo da cama, tomou um banho revigorante, se enfeitou para o dia e para o ano, se olhou no espelho e apagou, da imagem refletida, toda e qualquer sombra que ameaçasse seu sorriso.

Não! Nada de tristezas ou sentimentos negativos! Não para mim! Não para esse ano!
Eu e aqueles a quem amo só merecemos alegrias, positivismo, esperança e força de guerreiros.

Agora eu sei que 2008 é um marco, é o ano da ratificação das conquistas, da ultrapassagem das barreiras a que me impus, dos limites que me supus e dos sacrifícios que suportei.

Estou em paz, junto aos meus queridos, dona dos meus sonhos e caminhos, e cheia de vida e vontade de viver.

Nada havia prometido para esse ano de 2007, que não o silêncio da espera, e acabei conseguindo me surpreender. Este ano eu vou me prometer o futuro, a realização de antigos planos, e me esforçar para não perder o ânimo e a vitalidade.

Continuo agradecendo por tudo o que me aconteceu de positivo - assim como pelo negativo (que é assim que se aprende a valorizar o que realmente tem importância) – mas lutarei para conseguir chegar aonde pretendo.

Já deixei a vida me levar um pouco, como que para dar tempo ao tempo e recarregar energias, mas uma capitã não gosta de deixar o barco à deriva por muito tempo, e prefere segurar no leme de sua própria embarcação.

Ainda vou passar a agenda a limpo, como parte de um ritual que preservo, e sei que vou encontrar aqueles nomes de quem eu deveria ter visto mais, aqueles que deveria esquecer, e alguns que sei que me esqueceram. Faz parte. Só que esse ano eu quero manter a lista bem em dia, ligar para os que me são caros e retomar as amizades que deixei amornar. Chega de relax! É tempo de arregaçar mangas e ir à luta!

Já é quase dia 02, e as letras já saltaram do papel para o editor de textos.
Ah! Minhas letras! Extensão dos meus dedos! Minha boca! Meus olhos! Meus sonhos!
Todos acordadinhos, em alerta. Nada vai escapar.

Ano bissexto - promete! Meu lado místico, etéreo e viajante já está de malas prontas para uma longa viagem de 365 dias (366 dessa vez). Sinto-me forte e em paz.

Vou à varanda, molho as plantas. Esbarrei na bicicleta e me lembrei que, a essa mesma hora, um ano antes, eu me questionava a razão de não ter uma bicicleta. Agora eu tenho, e essa é uma boa razão para pedalar. Não agora, à meia-noite, mas certamente amanhã. Não é segunda-feira, mas todas as promessas ficarão para amanhã, porque agora é dia de ressaca, e ainda terei 365 dias para cumpri-las.

Feliz 2008!

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Publicado por Lílian Maial em 02/01/2008 às 01h59
 
28/12/2007 18h55
CARTA ABERTA A 2008

®Lílian Maial


E cá está você, 2008, já batendo à nossa porta!
Dessa vez, eu ansiava mais que nunca por sua vinda.
Dois mil e sete foi um ano complicado, cheio de incertezas, de medos, de mudanças... Um ano de Fênix! E em 2008, é quando renasceremos das cinzas, com vigor renovado, esbanjando vontade de caminhar, crescer, traçar (e alcançar) novas metas.
E mais: 2008 é ano par e bissexto, o que certamente significa alguma coisa mágica...

Adentrei 2007 com muita cautela, sabendo que teria trabalho, que seria um ano de reorganização, de decisões difíceis, de trabalho árduo, de cavar e plantar, com a certeza da colheita mais adiante. E é com esse espírito que pretendo entrar em 2008, aguardando a colheita, para repartir alegria, esperança e júbilo.

Os projetos de vida não podem mais esperar na gaveta, e você, 2008, precisa ser um marco! Dois mil e sete até que tentou, mas havia a entressafra. Cabe a você, agora, a colheita do que plantei. Cabe a você a recompensa.

Em 2007, o povo baqueou, eu baqueei, o mundo todo pareceu um tanto adormecido, como se preferisse ignorar tudo (dores e prazeres), para não correr o risco de mais sofrimento. Só que o sofrimento de fingir não sofrer parece aumentar a dor.
Baqueei sim, mas sou resiliente! O ser humano é, de maneira geral, resistente às intempéries.

Continuo, ao meu jeito, com cheiro de flor, recendendo a mato orvalhado, me fortalecendo com a Mãe Natureza e suas cores e cheiros.
Posso estar machucada, mas estou viva, e ainda tenho os meus amados perto de mim. Tenho braços para a luta e para o abraço. Tenho pernas para correr contra o tempo, e para caminhar na direção certa. Tenho a mente para preparar o futuro, e para pensar bobagens e apenas sorrir. Tenho escolhas, erros e acertos, tenho estradas, luz, amor transbordante, e tenho todo um universo dentro de mim. Ah, sim! Tenho a poesia...

Nessa época do ano, já no finalzinho, temos o costume de fazer promessas, fazer planos, estabelecer prioridades. Pois bem, não sou diferente, e já fiz a listinha das prioridades:
começar uma dieta pobre em calorias e rica em calor humano;
fazer um check-up no coração e cuidar daqueles sentimentos que deixei isquêmicos ou anêmicos;
praticar mais exercícios de afeto, abraçando e beijando os amores – amigos, filhos, e todas as pessoas que não pude em 2007, e mais um pouco as que já abracei;
estimular as cordas vocais, cantando todas as músicas que conseguir;
estimular a circulação, dançando nas nuvens, na chuva, na praia, na pista, na vida;
estimular os músculos faciais, sorrindo e gargalhando mais, e chorando um pouquinho, se a emoção for forte, mas sofrer bem menos;
cuidar do coração, para que ele pulse e ame mais que nunca, pois só o amor pode reerguer um planeta, uma nação, um bairro, um homem...

Bem, meu caro 2008, sua sorte está lançada!
E falando em sorte, vou tratar de fazer todas aquelas simpáticas simpatias de fim de ano, para entrar em você com o pé direito (podem ser dois direitos?) no mar.
Como não sou fanática e nem careta, não custa, num país de tantas crenças, agradar um pouquinho a Iemanjá, levando umas flores e lavandas em sua homenagem, e uma garrafinha de espumante, para brindar a sua chegada, 2008, no melhor estilo.

Tomar o lugar do 2007 vai ser “mamão com açúcar”, mas você terá a responsabilidade de se tornar inesquecível, promissor, especial em todos os sentidos, não só para mim, mas para todos nós, que não esquecemos o terrorismo, o tráfico, as mortes desnecessárias, a corrupção, o desvio de dinheiro público, as precárias condições da Saúde e da Educação no país, as tentativas populistas de aumentar a discriminação racial e social que 2007 nos legou.

A violência das ruas, que em 2006 culminou com terrorismo, com ônibus incendiados, saques e ataques simultâneos, continuam implacáveis, sofisticados e atrevidos, embora mais silenciosos em 2007 (efeitos do “Capitão Nascimento”?).

A violência social persiste, com a miséria, as diferenças e o racismo subliminares, agora com ares de apartheid, graças ao “Estatuto da Igualdade Racial”, e a criação de uma nova barbaridade – um Projeto de Lei que visa o pagamento, às mulheres grávidas vítimas de estupro, de uma pensão mensal até a criança completar 18 anos – já conhecida como “bolsa-estupro”, um descalabro a mais dos politiqueiros de plantão, e um aviltante retrocesso nos avanços dos direitos entre os sexos, ainda mais por já existir uma lei que permite o aborto nos casos de estupro, que infelizmente não é obedecida.

A reeleição do Presidente Lula prometia uma visão social de distribuição de renda, mais acertos com a maior experiência, mas a cada dia o povo vê menos as promessas de campanha sendo cumpridas.

A violência da mídia – a mais terrível de todas – continua impondo padrões de vida entre os brasileiros e por todo o mundo, causando verdadeiras panes sociais, com prejuízos individuais e coletivos. Meninas ainda morrem anoréticas, homens e mulheres optam pela solidão ainda crianças, a máquina (e não o cão) é agora o melhor amigo do homem. E a nova geração cresce entre os extremos: anorexia x obesidade, depressão x vandalismo, solitários x marginais, pessoas sem objetivos x pessoas inescrupulosas. O quadro está feio, 2008, e você pode ajudar a mudar essa tela, com as cores da alegria e do amor.

A violência interior, aquela que obedece a regras estabelecidas por outrem, ainda se infiltra e ocupa seu espaço no subconsciente, como se tivessem sido criadas pelo indivíduo. Pessoas sofrem caladas, atadas a normas que não criaram, que as castra, mas que não ousam quebrar, pelo atavismo implicado nelas e pela imposição da sociedade. São pessoas presas a uma gaiola interna, que não possui grades, portas ou janelas. Detentos de si mesmos, sem coragem de ousar, de inovar, de transgredir.

Em 2007, tivemos os Jogos Pan-Americanos (o PAN 2007), e a promessa de mais empregos, mais dólares, mais investimentos, mais lastro para a cidade se desvaneceu da mesma forma que as lembranças dos nomes de nossos anônimos atletas. No fundo, mais circo, e pão, que é bom...

E meus planos para 2008? Hummmm... Segredo! Guardei meus projetos a sete chaves (não Chavez), e não vou contar, por ora, para não entrar areia (esqueceu que vou à praia dia 31?). Mas fique tranqüilo, nada de assustador. Aprendi que devo caminhar com prudência, um passo de cada vez. Mas vou em frente, que atrás vem gente!

Em 2007, eu tentei me poupar, mas não deu, me enrolei até os fios dos cabelos, me machuquei, mas me levantei a tempo de lhe dar as boas-vindas e festejar com alegria. As tristezas eu vou deixar o mar levar embora.

Portanto, mãos à obra, que você vai ter trabalho, embora muito gostoso! Suas tarefas serão trazer alegria, esperança e dias melhores para todos nós, trazer paz entre os povos, sabedoria aos imprudentes, calma aos impulsivos, energia aos anêmicos de espírito, gás aos desanimados, e um tiquinho de ópio que só esse sol tropical pode proporcionar (mas cuidado com o excesso de raios UVA/UVB).

Querido 2008, venha trazendo na algibeira um pouco mais de coragem para enfrentarmos a opressão e para aprendermos a abrir a boca e dizer NÃO à violência, ao terror, ao crime e à desordem, para cobrar dos governantes as promessas de campanha, para aprender com os erros e tirar lições de futuro e esperança, sem desprezar os ensinamentos.

Precisamos por fim, 2008, de mais amor e alegria, que o nosso povo é lindo, é forte, é bom e esperto, tem sensibilidade e é generoso. Nada mais justo que uma recíproca em boa dose, certo? Que assim seja!


Lílian Maial


Publicado por Lílian Maial em 28/12/2007 às 18h55
 
22/12/2007 18h08
O "BOLSA-ESTUPRO"

Lílian Maial



Eu já escrevi sobre o "Estatuto da Igualdade Racial", descalabro governamental com apoio de algumas entidades, num ato de retrocesso, incitando ao “appartheid” brasileiro. Mas agora as coisas estão tomando um rumo muito mais perigoso. Estamos diante da volta ao cerceamento das liberdades individuais, da volta à repressão, à censura, numa tentativa de “consertar um erro” com outro pior, mais grave e mais significativo.

O Projeto de Lei n°1763/2007, que cria a ''bolsa-estupro'', para evitar que mulheres abortem, é um absurdo, um atentado ao pudor! A proposta está em tramitação no Congresso, e prevê pagamento pelo Estado, por 18 anos, de um salário mínimo mensal às mulheres vítimas de estupro.

O aborto, em tais casos, já é permitido, no Brasil, desde o Código Penal de 1940 – só que ninguém obedece e, quando a mulher é liberada para o aborto, na maioria das vezes, a criança já nasceu (e, se bobear, já estará maior de idade, servindo, caso não tenha morrido na miséria e no desamor de um filho não desejado, resultado de uma das inúmeras violências cotidianas a que somos – independente de sexo – expostos como brasileiros).

O "bolsa-estupro" pretende, nas palavras dos autores do texto, os deputados Henrique Afonso (PT-AC) e Jusmari Oliveira (PR-BA), "dar estímulo financeiro para a mulher ter o filho". O relator, José Linhares (PP-CE), padre da Igreja Católica, deu parecer favorável ao pagamento da mensalidade...

Ora, não se trata de calar a boca da mulher vítima de violência, muito menos de “alimentar” (com um salário mínimo) o filho do crime hediondo. Trata-se, isso sim, de um retrocesso nas lutas pelos direitos femininos, como os dos negros, no tempo do escravagismo. Trata-se de uma vergonhosa proposta de incentivar, ao contrário, o descontrole de natalidade, para criar uma nova China inflada de miseráveis. Trata-se, de forma indireta, de incentivo ao estupro!

Se isso passar, estará atestada a incompetência ampla, geral e irrestrita do governo federal, estadual e municipal. Nossos representantes na Câmara e no Senado coadunando com a violência maior, que é o vilipêndio em troca de esmolas, mais uma vez.

Isso sem falar no lucro que tal bolsa deverá gerar para “não se sabe quem”, porque uma criança não sobrevive bem apenas com um salário-mínimo, mas alguns (políticos) certamente depositariam muitos dólares e euros em contas no exterior.

Como diz o Dr. Aníbal Faúndes - especialista em obstetrícia, professor titular aposentado da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e coordenador do Comitê de Direitos Sexuais e Reprodutivos da Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (Figo): -”Não tenho dúvida de que o zigoto [primeira célula da fertilização] não tem o mesmo direito da mulher".

Com ele partilho a noção de que há necessidade de descriminalizar o aborto, associada a políticas mais eficazes de métodos contraceptivos e de controle familiar, e de que o dilema de ser a favor ou contra é falso, porque a maior parte das pessoas, senão todas, é contra o aborto, inclusive a mulher que o faz. A solução não é condenar a mulher. Se fosse, nenhum aborto seria praticado, mas não é o que se vê. A pergunta é: por que se condenar apenas a mulher, e não o homem, que muitas vezes, abandonando a mulher, a obriga a ter que interromper a gravidez? Por que quem deve pagar a conseqüência é só a mulher pobre, já que a mulher rica tem um aborto seguro, em clínicas como a dos países desenvolvidos?Por que insistir em não enxergar que as complicações do aborto saem muito mais caras do que o aborto seguro, feito no hospital, tanto para a mulher, quanto para o governo, quanto para a sociedade em geral?

Não há que se criar “bolsa-estupro”, mas se intensificar e levar com seriedade a educação sexual nas escolas, a igualdade de poder de decisão entre os sexos, plena informação e acesso aos métodos anticoncepcionais, além de proteção da mulher que queira ter o filho.

Se uma funcionária engravida, perde oportunidades, não é vista com bons olhos e, quando volta, é demitida pelos patrões, notadamente aqueles contrários ao aborto. Não é irônico?

Escolas católicas não acolhem meninas grávidas, porque é um mau exemplo. Indiretamente ensinam que, para estudar, têm que abortar!!!

E a mulher que já tem filhos, é casada, mas tem de trabalhar para poder manter a família? Se engravidar, ou fica com o bebê ou mantém o emprego.

O mais estranho é que é aquela pessoa que se declara contra o aborto, a que mais se opõe a todas as medidas que o reduzem. São contra o DIU, a pílula, contra a educação sexual nas escolas, contra a divulgação na imprensa televisiva.

Se as pessoas imaginam que, pelo fato de a lei não condenar, a mulher vá preferir fazer o aborto para evitar a gravidez, é pensar de maneira bastante leviana sobre a mulher. Ela não gosta de abortar, ela sabe dos riscos. Se o faz, é porque não tem alternativa.

No caso de legalização do aborto, nas classes altas a situação seria quase a mesma, uma vez que ela já faz um aborto seguro. Já a mulher pobre, sobretudo adolescente, poderá fazer um aborto em vez de ter um bebê não desejado, ou ter sua vida ceifada nas mãos de curiosas ou similares.

Cada indivíduo deveria ter autonomia para tomar sua decisão, direitos de tomar posições sobre sua conduta. Como se propala, o direito de cada um termina quando começa a infringir o direito do outro. E, na questão do aborto, estão o direito da mulher sobre o seu corpo e os direitos do embrião. E este, um conjunto inicial de células, não tem o mesmo direito da mulher. Ninguém pode determinar em que momento eles começam a ter direitos semelhantes. O que se propõe é uma similaridade em relação à morte cerebral marcando o fim da vida. Assim, o início da vida é marcado pela atividade cerebral. E, definitivamente, não há relação entre neurônios até 12 semanas de gravidez.

As entidades de defesa da mulher lutam contra o “Bolsa Estupro” de maneira ferrenha, considerando como algo, no mínimo, deplorável e ,no máximo, de uma atitude vil e selvagem, assim como o criminoso que perpetra tal crime.

O Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM) protestou contra o projeto-de-lei 1763/2007, e aprovou, por unanimidade, uma carta de repúdio ao projeto, que foi entregue ao seu relator na Comissão de Seguridade e Família, pela representante da Rede Feminista de Saúde no CNDM, Lia Zanotta. A carta também foi protocolada na Secretaria da Câmara e distribuída aos demais deputados da comissão. Conforme expresso no conteúdo da carta, o projeto está em contradição com o Código Penal de 1940, que garante a interrupção voluntária da gravidez, em caso de estupro; com a Norma Técnica do Ministério da Saúde, que assegura esse direito; com a Constituição de 1988, e com as reivindicações das mulheres construídas democraticamente e referendadas nas duas Conferências Nacionais de Políticas para as Mulheres.

O documento lembra ainda dos compromissos internacionais assumidos pelo Brasil nas Conferências do Cairo (1994) e de Beijing (1995).
“A Constituição Brasileira estabelece que ter filhos é uma decisão da cidadã e que o estado deve fornecer os meios necessários para que se possa exercer esse direito com dignidade. Isso não se garante com um salário mínimo, conforme previsto no PL em questão”, destaca a carta.

É preciso que se pense em como uma mulher luta penosamente na vida para trabalhar, ganhar seu sustento, ter uma vida e, de repente, por um ato hediondo, ter sua vida totalmente modificada à sua revelia, recebendo um dinheiro que irá integralmente para esse filho indesejado, lembrança eterna de tal ato, além de nunca mais se sentir à vontade com outro homem na hora do sexo. E, pior, a lembrança do estupro toda vez que olhar para aquela criança, sem falar no que dizer, quando a criança perguntar quem é o pai.

Esse é um projeto descabido, irracional e perigoso. Nenhum país no mundo possui tal barbaridade. Isso é uma falsa caridade com dinheiro de nossos impostos! Esses parlamentares aproveitam para inventar projetos ditos sociais, com finalidades escusas.

Não podemos deixar que isso aconteça, sob o risco maior de ter nossa segurança física e ideológica atrelada ao poder dos dribles dos que deveriam ser nossos representantes, mas que só representam o absurdo de seus próprios pensamentos toscos.




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Publicado por Lílian Maial em 22/12/2007 às 18h08
 
15/12/2007 20h55
Carta do Papai Noel – versão Natal de 2007
®Lílian Maial


Querido Papai Noel,

Como vão as coisas por aí, no Pólo Norte? 
Por aqui andam na mesma, apenas com o acréscimo do PAN 2007, que deveria gerar divisas para a Cidade Maravilhosa, mas que parece ter havido erro de grafia (coisinha simples) e gerou mesmo dívidas (ao menos eu não vi a cor do dinheiro usado para melhorar o que quer que fosse na cidade), e ainda a obrigatoriedade da mudança de banco para todos os funcionários municipais, afinal, o Santander é, de longe, o melhor banco do mundo, não é mesmo? 

Além disso, a promessa do ano anterior, de que não haveria mais miséria, mais fome, mais fumo, mais tráfico, mais violência... Tudo em nome do esporte, não foi muito cumprida não! Construíram vilas olímpicas, que viraram apartamentos de luxo nem sei de quem (meu não foram), construíram o Engenhão, lindo, um luxo, mas que ficaria encostado, não fora a ambição de cartolas do futebol... Enfim, foi construído um bando de coisas, em nome do PAN, mas o dia-a-dia do carioca continua o mesmo, com a Saúde e a Educação sem verba, as crianças cheirando, os pais chorando, o tráfico enxotando. 

Enfim, políticos continuam politicando, o povo continua engolindo, o pão (cada vez mais raro) agora está mais caro e a quilo, o circo (cada dia mais bizarro) tomou ares de globalização de araque. Fique calmo, que já tem outro BBB, e aí você vai se deliciar com as abobrinhas anencéfalas dos personagens espionados, e vai poder deixar aflorar oficialmente, com o aval da sociedade, todo tipo de perversão exibicionista e voyeurista que sua mente puder conceber. 

O ano de 2007 foi um dos piores, em termos de agitação, desequilíbrio, devastação e falta de ética, talvez por culpa de Mercúrio na casa de Saturno, ou seja lá do que for (só não vale Plutão, que não é mais planeta, foi rebaixado, perdeu o DAS). Porém, contudo, no entanto, 2008 promete ser um ano de reconstrução, de renovação, de conquistas e júbilo. Assim, desejo, de todo coração, encontrá-lo com um olhar de esperança, palavras de confiança, ordem, paz e conforto espiritual. 

Seu trenó agora vai encontrar uns redutore$ de velocidade pelo caminho, troço moderno, que veio para garantir no$$a $egurança, forçando-no$ a reduzir a corrida pela fama e fortuna. Quando você olhar para aquele po$te e$qui$ito, com uma luz amarela pi$cando pra você, já era! Provavelmente já ultrapa$$ou a velocidade permitida, e receberá uma multinha de nada, e$tá bem? 

$ua $egurança e$tá garantida, muito embora os hospitais públicos continuem sem médicos, sem remédios e sem vagas – Ah! E agora sem a desculpa da CPMF!!! Já viu que coisa mais interessante? Onde será que o povo vai se tratar, sem médicos e remédios no hospital? Será que eles se transferiram para o palácio? 

Esse ano, os médicos, a propósito da falta de pagamento minimamente decente, de condições dignas e com os hospitais caindo aos pedaços, resolveram fazer uma campanha intitulada “Quanto vale o Médico?”. A julgar pelo descaso do governo, e pela ausência de respostas, não deve valer mais nada, então todos agora farão concurso para outras carreiras, notadamente as públicas, especialmente as voltadas para a Lei e a Ordem, uma vez que nem todos têm talento para futebol ou televisão... 

Taí! Quem sabe concurso para virar Papai Noel? Pôxa, véio, você só trabalha uma noite por ano, tem carro de luxo, animais de estimação, roupa lavada (quem lava essa roupa?), comida (você come rabanada?), nunca fica doente, e ainda é querido por todos! Quer cargo melhor? Sim, porque até o de presidente dos Estados Unidos perde pra você, porque ele nunca é querido por todos. Aliás, nenhum presidente de coisa alguma é querido. 

Falando em roubo, agora a bandidagem está toda ansiosa por ser presa, tá sabendo? Isso porque aqui, agora, é moda a carceragem permitir a prisão de homens (muitos) e mulheres (geralmente uma) na mesma cela. Já pensou? Um bando de marmanjos juntos com uma menor? Quem não roubaria? Claro que as filhas dos governantes (não xinguei você não, querido Noel) ficariam, se fossem presas algum dia, em hotéis 5 estrelas, mas isso não vem ao caso, porque povão é povão, ou Zé Povinho. E todos consentem, então, que se dane! Não é a filha de ninguém mesmo... 

Ah! Você tem que voltar a se preocupar com as crianças carentes neste Natal, porquanto a Rede Globo ficou indignada com o Bolsa Família do governo, e trata de meter o pau, afinal, só o “Criança Esperança” e o “Natal sem Fome” dos artistas é que conta! Que abuso do governo federal criar esse “Fome Zero” (à esquerda)! Melhor você vir socorrê-las... 

Por aqui a memória anda curta, e quase ninguém se lembra mais da loucura do ano passado, da onda de terrorismo e incêndios nos ônibus, pertinho do Natal e Ano Novo. Tudo bem que ainda estamos na expectativa, mas não há grandes movimentações das polícias, nem das milícias (você sabe o que é isso? Não? Nem queira saber...). 
Creio que os homens maus ficaram foi com medo do Capitão Nascimento, da "Tropa de Elite". Também não sabe o que é isso? É aquele filme que, quando foi lançado, todo mundo já tinha visto... 

Bem, Papai Noel, nada de lamentações, porque 2008 promete uma virada no país e no mundo. Há coisas boas acontecendo. O mundo está lendo mais. A cada dia, mais e mais livros são lançados, mais e mais poetas e escritores divulgam seus pensamentos, idéias e conhecimento. Mais e mais pessoas desfrutam da beleza e do sonho. Artistas resolveram adotar crianças de diversas partes do mundo e etnias. Educadores resolvendo os conflitos da História (guerras e destruição) através da Educação. O mundo, em plena crise climática, optando pela reciclagem, seleção de lixo, naturalismo. 

Esse ano, a arrasadora promoção de Natal dos supermercados Pegou Mal vão levar você a um passeio imaginário pelas Ilhas Cayman, Suíça ou qualquer outro paraíso fiscal. Sim, e na companhia de guias de primeira grandeza do nosso conhecimento público. Já pensou? Você chegando num banco de Genebra ao lado daquele nosso velho conhecido de outras eleições? 

Mas venha, Papai Noel, que o povo brasileiro continua esperançoso, religioso (nunca se ergueram tantas igrejas do Reino de Deus), hospitaleiro, cheio de amor pra dar (até nas cadeias). Ah! E é um povo superprotegido, tem até Estatuto de Igualdade Racial, sabia? Não? Bem, melhor não saber, que isso ainda vai dar pano para mangas (ou nozes e castanhas). 

Esse ano também não vão faltar luzinhas nas casas e árvores de Natal, sorrisos piedosos dos mais abastados, sorrisos matreiros dos menos favorecidos, e promoções de perus, rabanadas, castanhas, e toda gama de comidas e bebidas que nosso povo bem nutrido tem a tradição de esbanjar nessa época do ano. 

Venha, Papai Noel, e que o meu presente venha embrulhado em força e disposição, que eu seja abençoada com saúde e o amor dos meus chegados, que eu possa estar aqui ano que vem escrevendo uma cartinha bem mais caprichada, e que você venha para todos, sem exceção, que o milagre aconteça no coração de cada pessoa, e que a esperança volte a reinar soberana na vontade dos homens de fazer um mundo melhor, para que Papai Noel possa descer de cada chaminé do peito, aquecido pelo fogo da alegria de fazer o bem, de cumprir uma missão de paz, de igualdade e respeito.

Lílian Maial


Publicado por Lílian Maial em 15/12/2007 às 20h55
 
11/12/2007 22h22
SE EU FOSSE PAPAI NOEL

Lílian Maial


Se eu fosse Papai Noel, começaria a repensar a história.
Não gostaria de ser velhinho, e muito menos bom. Hoje em dia os velhinhos não inspiram mais a confiança de outrora. Não há quem não faça uma piadinha sobre sentar no colo de Papai Noel.
O danado do velho leva a fama, que se agravou, decerto, depois do Viagra.
E, pior mesmo que tudo isso, é que não come. Ah, come rabanadas sim, mas com os olhos, porque a barba impecavelmente branca o denunciaria, caso comesse de verdade. E também, já está tão gordo, possivelmente hipertenso e dislipidêmico, quem sabe diabético insulino-dependente... Melhor um panetone light e um espumante diet.

Quanto a ser bom, num mundo abarrotado de violência, corrupção e indiferença, isso soaria, no mínimo, falso.
Papai Noel tem algo de satânico, a começar pelas vestes vermelhas. Ou de petista, não sei, talvez ambos.
Num calor de 40 graus, o cara só pode ter parte com o chifrudo, pra agüentar a sauna por dentro do traje.


E tem mais, não se consegue identificar o cidadão.
Quem sabe desenhar os traços de Papai Noel?
O danado dribla as 3 polícias (civil, militar, federal), o DETRAN (estaciona o trenó em qualquer canto), a fiscalização sanitária (nunca se viu um atestado de vacinação das renas contra a raiva) e a Interpol!!!
É, o cara viaja de um país ao outro sem passaporte, carregando um monte de muamba!!!

Portanto, nada de BOM velhinho.
Pra falar a verdade, nem se sabe se o cara é velho mesmo, já que nunca ninguém o vê.

Por isso, se eu fosse Papai Noel, eu seria mulher.
E nada de ser velhinha, que não dá IBOPE. Não vende. Tá mais do que provado que imagem comercial é de mulher nua ou semi-nua e cheia de silicone.
E nada de trajes quentes! Um top e um shortinho, pra facilitar as descidas por chaminés, e o coletinho básico à prova de balas.

Peraí, que chaminés? Qual é o brasileiro, pelo menos de cidade grande, que tem chaminé?
Não, eu entraria pela porta da frente, com um belo tapete vermelho, holofotes e purpurina mágica, liberada não sei de onde, ao chegar nas casas. Aproveitaria pra provar o peru, beber umas tacinhas de Moet Chandon ou Veuve Clicquot, saborear umas rabanadas de leite condensado e, quem sabe, ainda tirar um cochilinho entre uma casa e outra. Trocaria as renas por uma moto possante, que é menos afrescalhado, e os presentes, por cheque ao portador. Seria mais prático e tropical.

Pôxa, caramba, ficou uma droga esse Papai Noel!
DELETA!!!

Nada disso! Papai Noel é Papai Noel. Ninguém muda ou tira seu lugar. Pra falar a verdade, eu acredito nele.
Papai Noel fala comigo o ano todo, e esse papo se intensifica quando vai chegando dezembro.
Claro, dezembro é época de baçanço de vida, época de acabar algo e reiniciar outras coisas. Fazer planos, repensar a vida. E Papai Noel é isso, recomeço, esperança, a alegria de se acreditar.
Papai Noel é, acima de tudo, fé.

Por isso, acredito em Papai Noel e, se eu fosse ele, não deixaria morrer o Natal.
O que não falta é gente querendo matar o Natal. E já há tantas mortes por aí...

Decididamente não!
Se eu fosse Papai Noel, sairia em disparada com meu trenó carregado de fé, e a distribuiria por entre os homens descrentes, por entre os doentes crônicos, os velhinhos solitários, as mulheres submissas, o povo oprimido, os poetas inquietos (que não param de buscar), os líderes sem coragem, os homens sem honra e com teto, os homens com honra e sem teto, os irmãos.
Só não visitaria as crianças, porque seria perda de tempo, já que criança é a pura fé, que faz com que Papai Noel nunca venha a morrer em nossos corações.

Se eu fosse Papai Noel, eu me daria o mundo que existe dentro de mim.

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Publicado por Lílian Maial em 11/12/2007 às 22h22



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