Lílian Maial

Basta existir para ser completo - Fernando Pessoa

Meu Diário
24/08/2008 15h07
BRASL OLÍMPICO

BRASIL OLÍMPICO
®Lílian Maial


Para um país que ousa se candidatar para sediar Olimpíadas futuras, o Brasil ainda tem que galgar posições mais elevadas no “ranking” da educação, da saúde e dignidade para seus habitantes.

De que adianta se pensar no significado de sediar uma Copa do Mundo, um Pan-Americano ou uma Olímpíada de qualquer coisa, quando nossos jovens não recebem incentivo algum oficial para a prática atlética de esportes e seu aperfeiçoamento, a ponto de atingirem marcas de superação para figurarem nas eliminatórias de uma Olimpíada?

Não temos tradição de esportes outros, que não seja o futebol. De uns anos para cá, talvez o vôlei, basquete, mas certamente não como o futebol, muito menos ginástica olímpica, saltos, e outros esportes, dos 230 disputados.

Causa-me certo constrangimento verificar o minguado 23° lugar do Brasil em medalhas, quando sabemos que teríamos condições – pela nossa miscigenação, que garante resistência, habilidade e criatividade em qualquer esporte – mas que somos boicotados pela absoluta falta de interesse do governo em relação ao esporte, às artes em geral, à educação e à saúde.

Um governo que, a cada eleição, prima por destruir o que os antecessores construíram, na tentativa de apagar seus feitos e os sobrepujarem, sem pensar na continuidade do que deu certo e poderia melhorar, não pode ostentar sediar um evento desse gabarito.

Muitos dos países que ficaram à nossa frente estão bem abaixo de nós na escala de atletas talentosos, porém, seu governo, apesar das dificuldades, investe na formação dos jovens, na educação pelo esporte, na promoção de saúde e a liberdade através da conquista, e forma, ano após ano, a tradição nos diversos esportes. Nós sói ligamos para o futebol e fórmula 1, esse onde os praticantes são da elite dos favorecidos.

Há uma discrepância relevante, em nosso país, no apoio finaceiro aos esportes. Vemos nossos jogadores de futebol ganhando fábulas, sendo disputados por países ricos (muitos deles nem tão geniais assim, haja vista o desempenho nessas Olimpíadas), enquanto atletas de diversas áreas, verdadeiros heróis, pedem desculpas em frente às câmeras de televisão do mundo todo, por não terem conseguido ultrapassar os concorrentes, esses bem treinados e dedicados exclusivamente aos treinos, sem necessidade de ganhar a vida de outra forma, e com tradição esportiva por trás deles.

Um absurdo! Nossos jovens deveriam receber bolsas dignas do governo para a prática e dedicação exclusiva aos esportes – já que as bolsas estão em moda – assim como os treinadores, para que pudessem nos representar nas vitórias, como certamente aconteceria, dada a gama de atletas anônimos que nossa raça proporciona.

Deveria haver “Brasileirão” também de basquete, vôlei, hipismo, judô, atletismo, com os clubes lotando os estádios de torcida organizada. Não há propaganda, incentivo, porque não há interesse oficial.

É lamentável que a mentalidade do povo, também, se deixe impregnar pela propaganda de ídolos estrangeiros, que cresceram bem alimentados, com total apoio do seu governo, que tiveram oportunidades – essas, sim, de ouro – para, então, conseguirem, como conseqüência natural, as primeiras colocações.

Lamentável vermos a atleta ser prejudicada no salto com vara, porque a equipe não checou seu material, e ela mesma ter de reclamar e se desconcentrar para conseguir outra vara...

Apesar dos pesares, temos e tivemos atletas de peso, como o Cielo, o Diego Hipólito, o João do Pulo, Pelé, Garrincha, Ademar Ferreira da Silva, as meninas do futebol, os meninos de ouro do basquete, os meninos e meninas do vôlei, os meninos que velejam, os judocas, as Jades e Dianas, que só conseguem chegar lá, porque, de alguma forma, tiveram incentivo das famílias, amigos, professores, treinadores, sem o devido apoio financeiro oficial.

Quantos de nossos jovens envolvidos no tráfico poderiam estar envolvidos em treinos nas escolas, e, a essa altura, figurando no podium? Quantos dos malabaristas de sinais de trânsito poderiam estar brilhando nas barras paralelas, ao invés das grades de um presídio?


Por outro lado, quanto custou à população do Rio de Janeiro a construção de verdadeiros monumentos para o Pan-Americano 2007? Por quatro anos, o povo carioca amargou a falta de verba para a Saúde, Educação, Segurança e Habitação, além de ver toda a verba de Obras ser dirigida ao Pan, sem os devidos cuidados com a cidade. Por quatro anos, a cidade ficou mais doente, mais violenta, mais sofrida, para, ao final, não haver o retorno esperado em cifras, nem em incentivos esportivos dali em diante.


A emoção estampada nos rostos dos nossos atletas vitoriosos - e o choro conseqüente – não foram apenas pela vitória, que é ótima, mas um desabafo pelo imenso sacrifício que a maioria passou anos a fio, sem o mínimo de reconhecimento ou incentivo governamental. Sacrifícios pessoais, financeiros (as parcas bolsas são ridículas) e profissionais, pois um atleta, para chegar às Olimpíadas, tem de largar qualquer outra atividade e treinar diuturnamente, enquanto nossos dirigentes não enxergam o bem do povo, mas do próprio bolso, alimentados nos paraísos fiscais. Isso é tão atávico, que já consideramos normal, como passar por pedintes e famílias inteiras nas ruas, sem um mínimo de dignidade, e sequer termos pena, somente medo. Isso é tão normal, que buscamos um candidato que “roube menos” ou que “roube, mas faça”.

A solução já foi apontada há décadas. Desde o início do século passado, Oswaldo Cruz erradicou doenças que estão voltando e massacrando a população. Educadores já mostraram diversas vezes os caminhos e foram deturpados pelo eleitorismo. Policiais íntegros e comprometidos já denunciaram falcatruas e foram afastados, e nunca mais ninguém ouviu falar de seu paradeiro. Inúmeros jovens foram "desaparecidos", em nome da liberdade, e se foram em vão, pois a dita "liberdade" veio anos depois, fantasiada, pois somos todos, no fundo, escravos do medo, da má qualidade de vida, do velho "pão e circo", sem o verdadeiro direito de ir e vir, aprisionados nas residências.
Nessas épocas de eleições, nós nos inflamamos, esperneamos, damos palpites, mas mesmo nossas vozes se tornam roucas, de tanto ecoarem no vazio. É pena.

Agora, na volta, é importante valorizarmos nossos atletas, com ou sem medalhas, porque são verdadeiros heróis anônimos, sem medo de se exporem ao ridículo e sacrificarem suas vidas para o orgulho (?) de uma nação inerte.

Rogo que cada medalhista brasileiro exiba suas medalhas com orgulho, receba nosso carinho e reconhecimento, mas que não permita que políticos interesseiros tentem aparecer como colaboradores, uma vez que nunca sequer deram atenção a essa fatia da população que, como o restante, luta no desamparo político.


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Publicado por Lílian Maial em 24/08/2008 às 15h07
 
20/08/2008 20h08
AS TANTAS ROSAS DE UMA ROSA
 

AS TANTAS ROSAS DE UMA ROSA
®Lílian Maial 



As cores mudam, mas a fragrância é a mesma. Quantos perfumes têm uma rosa? À primeira vista, são todas iguais, portanto, um só perfume. Contudo, se você as observar com o cuidado de um jardineiro fiel, verá que há muito mais que uma rosa em uma rosa. 

Assim são as pessoas. Não se pode rotular alguém por um único aspecto, pois cada ser humano é vários. Somos basicamente mutantes e, a cada década, mais e mais mudanças. 

O passar do tempo não é percebido no dia-a-dia, mas através do estado de espírito e das pancadas que levamos. Depois de uma surra, o corpo reclama. Depois de muitas, aceita a dor e, em muitos casos, a espera. 

Hoje, conversando com uma rosa, ela me contou que, de repente, havia percebido que tinha a idade cronológica, e que não havia notado, até então. Seriam os hormônios? Será o jardineiro, o adubo, a claridade? Não, minha espevitada rosa, nada disso, ou tudo isso. O peso dos anos se faz presente em nosso eu flutuante. Somos como uma armadura, que carrega uma pena flutuante por dentro e, a cada movimento nosso, a pena é soprada para um lugar, ora mais alto, ora mais baixo, porém sem nunca atingir o chão. No instante em que a armadura se verga e perde os movimentos, aí, sim, a pena vai baixando, vai baixando, vai baixando... E parecemos sentir o peso dos anos sobre ela. 

Os tempos hoje são outros, ou nós é que vemos tudo com mais reserva, com menos esperança, ou apenas com menos tempo, sem condições de termos tanta pressa. E tal inexorabilidade pesa. A consciência da morte cada dia mais próxima e inevitável passa a fazer a vida pesar. 

Tento aprender com as rosas, que brotam delicadas em meio a espinhos, e que deixam seu perfume no instrumento que as cortam. Tento viver apenas com otimismo e alegria, aceitando o machado e a poda com galhardia, embora entenda como se sente uma flor seca no meio de um livro, toda vez que sei de bombardeios, mortes desnecessárias, famílias desmanteladas, cidades em pânico. 

Tento e tento e tento e tento. Estou tentando agora. Mas sinto a água secando, as pétales ameaçando cair, o perfume não tão marcante. Preciso de água desesperadamente! Reguem-me! Reguem-me! Reguem-me! Ou façam logo de mim um arranjo de enfeitar o podium de alguém que ainda exale aromas e quebre um record olímpico. 

O homem se supera na adversidade, na verdade e na maldade. O homem me surpreende mais e mais. Por isso, prefiro as rosas. Todas as rosas de uma rosa.

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Publicado por Lílian Maial em 20/08/2008 às 20h08
 
14/08/2008 19h07
OLIMPÍADAS DE NANQUIM

®Lílian Maial


Nasci e cresci no bairro da Tijuca, zona norte do Rio de Janeiro, num apartamento simples, sem grandes facilidades, sem luxos e sem muita informação, por conta dos tempos de ditadura. No entanto, criança que era, andava e brincava livremente nas ruas e praças do bairro, sem conhecer o medo de cruzar com outro ser humano nas ruas, sem o receio de ter a bicicleta roubada, sem ter que usar disfarces ou subterfúgios para freqüentar os lugares que bem entendesse. 

Hoje, tudo é diferente. De repente, senti na pele as mudanças de maneira súbita. Não sei o que se passou comigo, ou onde estive nos últimos 30 anos, que, de uma hora para outra, veio uma avalanche de realidade a me sufocar a ideologia e a crença na sociedade. 

Costumo fazer percursos habituais para o trabalho, nos mesmos horários, sem grandes desvios. Pagamentos via internet, talão de cheques entregues em domicílio, quase tudo comprado em lojas de shoppings, o que me faz caminhar muito pouco por ruas fora do trajeto diário de casa para o trabalho e vice-versa. 

Aí vieram essas férias meio fora de época, complemento das forçosamente interrompidas no início do ano, que, para não perder os dias que faltavam, fui convidada a usufruir do restante agora. Com os filhos em aulas e os amigos trabalhando, resolvi usar os dias para cuidar da saúde, fazer pequenas e necessárias compras para a casa, colocar o sono, a leitura e o cinema em dia. 

Muito bem, hoje, caminhando por uma das avenidas principais e mais movimentadas do meu bairrro, nas poucas idas a bancos, fui surpreendida com uma situação inusitada: pessoas e mais pessoas vindo em minha direção, com pressa, expressão de aborrecimento, atarefadíssimas, esbarrando, atropelando, avassalando quem estivesse pela frente, não importando se crianças, mulheres, gestantes, idosos, ou quem quer que fosse. Todos, sem exceção, davam encontrões uns nos outros, sem ao menos sorrirem ou se desculparem, como se fosse normal incomodar. 

Isso me causou um embaraço, uma sensação de não pertencer, uma noção de estar fora do tempo e lugar. Parecia uma outra rua, outra cidade, outro país, outro planeta, sei lá! Cenas esdrúxulas, como saídas de um filme de David Linch, passavam diante dos meus olhos incrédulos, como se eu estivesse adormecida por uns 30 anos! 

Parada num sinal, para atravessar a rua abarrotada de pessoas, vi um homem com aspecto de mendigo, imundo, em andrajos, descalço, e com aquele olhar inconfundível de insanidade, catando alguma coisa no chão, vociferando para ambulantes de barraquinhas numa das esquinas da rua, quando, de repente, ele atira alguma coisa na direção das barraquinhas, sem se importar com as pessoas que passavam pela calçada. Percebi que se tratava de um pombo morto, que veio parar quase ao meu lado. Imediatamente um dos ambulantes pegou o cadáver do pombo e o atirou de volta ao mendigo, em meio à população que sequer parou ou desviou o trajeto. 

O mendigo novamente agarrou o pombo e o devolveu, com algumas palavras de baixo calão, ao som das gargalhadas dos ambulantes.
Não satisfeito, ele começou a apanhar pedras da calçada e a atirá-las, sendo que uma delas quase raspou meu rosto estupefato. O pior, é que tudo isso à luz do dia e sob o olhar e os risos de três guardas municipais, que apenas moviam os músculos do rosto, em sinal de diversão. E as pessoas se abaixando e, agora, desviando, espremidas entre as barracas dos ambulantes e a pouca calçada trafegável. 

Há muito não me sentia tão desprotegida, tão à mercê, tão vulnerável. Passei a entender as pessoas que sofrem de síndrome do pânico, porque eu mesma me senti desamparada e única cercada da multidão que não parecia se incomodar com a cena kafkiana que viviam. 

Logo me veio a idéia de gado e do terror de um arrastão, ou de uma falsa blitz e a sensação de impotência diante dos fatos. De como a sociedade está doente. Não sei onde estamos e nem onde vamos parar. 

De repente, a população e a televisão mobilizados com as olimpíadas, onde o esporte faz a união dos povos. No momento seguinte, a invasão da Geórgia e o bombardeio russo, com centenas de mortos, feridos e desabrigados. Cenas mescladas de vitória, de alegrias e metas alcançadas, e de famílias inteiras olhando pateticamente suas moradias destruídas. Jovens tentando (e conseguindo) superar suas próprias marcas de resistência e disciplina. E a falta de flexibilidade e tolerância do homem destruindo a vida. Antítese humana. Medalhas de ouro no podium da loucura! Marcas de filhos atletas vencendo seus limites, para orgulho de suas famílias, e marcas de nanquim escorrendo em meio às lágrimas das famílias sem amanhã e sem seus filhos. 

Não! Nem Kafka, nem Linch, nem Dante contavam com a loucura do homem! 

Hoje, observando o mendigo louco e a multidão em seu dia-a-dia enlouquecido, fiquei assustada com a falta de parâmetros para julgar a verdadeira loucura. Me peguei pensando na falta de nexo das notícias, na maluquice dos jornais. Será que só eu percebo a doideira de uma mesma página de jornal enaltecer o atleta Phelps e, na coluna ao lado, somar o número de corpos e desabrigados da Ossétia? 

E aqui ninguém sequer notou o que foi feito do pombo morto, afinal.

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Publicado por Lílian Maial em 14/08/2008 às 19h07
 
10/08/2008 17h44
A UM CERTO PAI...
®Lílian Maial


Naquele Domingo, sozinha em casa, recebi o telefonema que selaria meu destino, ou melhor, nosso destino:
-“Está sentada, minha gata?” – disse aquela voz trêmula e assustada.
-“Estou, por quê? Fala logo!” – eu estava mais ansiosa ainda.
-“Estamos grávidos!!!” – a palavra saiu entre gritada, chorada, gargalhada. 

A partir daquele dia, sabia que ele seria um PAI. Não um pai, mas um PAI. E foi. E é.
Isso me reporta à minha infância, quando mal via meu pai, quase nunca podia sentir-lhe os afagos, pois nossa vida sempre fora dura e ele trabalhava desde cedinho até o fim da noite. 

Quando mais velha, já na puberdade, fazia um esforço e conseguia ficar acordada e esperá-lo voltar para casa, e, apesar do sacrifício por acordar bem cedo, sempre valia a pena. 
A partir dali, nossa relação cresceu a cada dia, e tornamo-nos grandes e verdadeiros amigos, a ponto de não precisarmos usar palavras para entendermos o que se passava com um e outro. 

Voltando ao pai dos meus filhos, percebo que eles têm com ele uma relação muito parecida com a minha e de meu pai.
Não posso esquecer aquela frase: “estamos grávidos”. E ficamos grávidos juntos, certamente. Naquela ocasião, éramos residentes, ambos médicos formados dois anos antes, com infinitos sonhos e uma ideologia. 

A vinda do bebê era cercada de expectativa, não só por nós, mas por toda a família, onde não havia crianças. E aquele pai não me deixou só um instante sequer, fazia questão de acompanhar todas as consultas do pré-natal, inclusive ocupando mais o obstetra do que eu ou o bebê. Eram 25 minutos com o pai e apenas 05 com a mãe e o concepto. Na saída, invariavelmente, uma taça de “banana split” no Café Palheta, dividida por 03 (eu, ele e a porção do bebê, que eu avidamente devorava). 

E assim, os meses foram passando, a barriguinha crescendo, até que o nosso nenê começou a dar o ar da graça e a se mexer. Chutava, espremia minhas costelas, fazia cócegas com seu pezinho, que eu conseguia agarrar e prender por alguns segundos.
O pai curtia olhar para meu corpo nu, delimitar o que era eu e o que era bebê, acariciar os contornos ainda encobertos pela barriga, manter contato com aquele serzinho intrometido e tão querido. 

E então chegou o trabalho de parto, adiantado numas 02 semanas, pegando a gente meio de surpresa, eu fazendo as unhas no salão, ele esperando embaixo. Veio aquela sensação esquisita, aquela pressão. E ele me dizia que eu era abusada, que deveria ficar deitada nesses últimos dias. Mas quem me convenceria a sossegar? 

Fomos para casa e ainda tomamos banho e jantamos na minha sogra.
O pai queria que eu fosse logo para o hospital.
O obstetra não chegava em casa (naquela época, ainda não havia celular, mas nós já o tínhamos “bipado” uma dezena de vezes). 

Umas 03 horas mais tarde, já com a tal dorzinha apertando, o médico resolve verificar o “alarme falso” que não cedia com “Espasmo-Plus” e nem “Espasmo-Cibalena”. Quando ele deu o toque, já estava com 04cm de dilatação e foi aquela correria. 

O pai foi para a sala de parto, parto esse que acabou complicando, resultando numa cesariana e, por incrível que pareça, foi quem salvou nossas vidas. Eu tive uma complicação obstétrica chamada distócia uterina e, como estavam todos atentos ao nascimento do bebê (que estava em sofrimento fetal), não repararam que eu tive uma raque total, com iminente parada respiratória. Não fosse meu marido se preocupar tanto conosco e perceber que eu estava sem proferir palavra e com os olhos arregalados, e essa escritora não teria nunca mais o que dizer... 

Felizmente o bebê nasceu bem, hoje é um robusto e saudável estudante. A mamãe saiu daquela ilesa, embora um tanto assustada, mas com a segurança e o carinho do pai, que não se cansava de namorar o filho, desde aquele 12 de outubro, até os dias de hoje. Seus olhos passam mais que amor, passam a certeza da obra prima, o orgulho, a confiança, o carinho, a mão sempre estendida. 

Além desse bebê, tivemos uma garotinha linda, de quem o apoio, a torcida e gravidez ele nunca deixou de compartilhar. Ela foi a princesinha daquele jovem pai, a quem ajudou a se firmar na vida. Ele agora era mais adulto, mais consciente, mais seguro de seu papel na criação daquela vidinha. 

Alguns anos depois, quase oito, para nossa surpresa, veio o caçula, contrariando todos os métodos anticoncepcionais, mostrando que tinha uma personalidade que nem a ciência explicava. Ele foi um presente, que trouxe a esperança e a juventude de volta aos nossos corações. 

Apesar de não ter mais a disponibilidade de tempo que tivera outrora, como com os outros 02 rebentos, o pai nunca deixou de estar grávido junto, de presenciar a primeira ultrassonografia, de dividir o espaço da visão da televisão, de ter desejos alimentares esquisitos, de levantar na madrugada e nos cobrir de edredom e beijos. 

Está certo, é para mim que a escola liga quando algum deles se machuca, é para mim que vem o primeiro sorriso, quando eles vencem ou se dão bem em alguma coisa, mas é para ele que vai meu pensamento, quando preciso exercer a responsabilidade de cuidar deles, de passar a diferença entre o bem e o mal, de dar exemplo de caráter, companheirismo, amor e confiança. E é para esse pai, como a todos os outros, que desejo um Feliz Dia dos Pais!

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Publicado por Lílian Maial em 10/08/2008 às 17h44
 
31/07/2008 19h51
DRIVE-THRU - verão 2003
Por Lílian Maial



Havíamos decidido passar um dia maravilhoso em família.
Manhã perfeita de sol, depois de uma estafante semana de trabalho e estudo, todos queriam mais era descansar e aproveitar aquelas horas de inércia à beira da piscina do clube.
Passamos o dia basicamente inteiro às voltas com filtros solares, óculos escuros, todo o aparato de proteção da pele. Mesinha de boa localização, garçon preferido, cerveja pra lá de gelada, picanha fatiada ao ponto. Mergulhos, sauna e a tarde caindo, numa preguiça poente invejável.
Levantamos acampamento, com a certeza de que era tomar banho e cair na moleza de um aconchegante sofá, para um filminho com alguns petiscos.
Ops! Que petiscos? Não havíamos comprado nada! Parar em alguma delicatessen a essa hora, nem pensar! Padaria... não, estacionar, todos suados e cheios de fator de proteção solar 30... não, definitivamente nada de descer do carro.
Uma das crianças deu seu palpite: McDonald’s! Sim, e por que não? Pertinho de casa tem um (como se em cada esquina não tivesse um), inclusive com drive-thru, ou seja, não precisaríamos sair do carro. Perfeito!
Ao nos aproximarmos da “casa das telhas vermelhas”, uma fila não tão pequena assim nos recepcionou. Mas, já que seu lema é rapidez de atendimento, e o nome “drive-thru” dá uma noção de velocidade, resolvemos arriscar. E entramos na auto-fila.
Qual...
Não fora o barulhento Ronald e sua dança-sei-lá-do-quê, até que teria sido tolerável a espera, mas aquele som infernal, junto com a gritaria da criançada, depois de muito sol e cerva na cabeça, tenha dó!
O pai não disfarçava a irritação. Ao passar na máquina para fazer o pedido, as crianças ainda tinham dúvidas e o pai avermelhando a expressão. Calmamente contei as crianças, multipliquei pelo número de cheesebúrgueres e hambúrgueres que cada um come habitualmente, mais algumas batatas e sobremesas e pronto, soletrei as quantidades resolvidas.
Apesar da gritaria insuportável e da voz gasguita do animador, conseguimos acalmar o pai, o filho e o espírito santo, amém, com a promessa de um ótimo filme que estava à nossa espera.
Mal chegou nossa vez, e lá vem o cara com aquele puffzinho com numeração, e lança no teto do carro, orientando meu marido a estacionar logo adiante.
- Ora, mas não é drive-thru? Que diabo de espera é essa?
Simples, um dos sanduíches que o mais velho pediu levava bacon e demorava pra ficar pronto.
Não preciso dizer o quanto o moleque foi amaldiçoado em pensamento e entre os dentes rangentes do pai, que, para informação, não havia se cuidado com os filtros, e estava um pouco mais vermelhinho e ardidinho do que desejava.
Depois de 10 minutos alucinantes de espera e vendo todos passando na nossa frente, o pai descobre que alguém levara nosso sanduíche, o tal com bacon.
Pronto, foi o que bastou. O homem saltou ENORME do carro, dirigiu-se ao rapaz que, equivocadamente, cedera nosso sanduíche a outra pessoa que acabara de pedir, sacou do puff do capô do carro e partiu para enfia-lo em algum lugar não muito descritível.
Apesar da proteção do guichê de vidro, o rapaz se encolheu tanto, que quase cabia entre duas fatias de pão: o McCovardão.
Bem, depois disso, logo, logo apareceram os nossos saquinhos de papel, com bacon e tudo, um bando de canudinhos, colherinhas, sachezinhos de catchup e mostarda, e um volte sempre apavorado...

Muito bem, acabou. Agora é correr pro abraço, chegar em casa e devorar os sanduíches deliciosos, vendo um bom filme.
Mal chegamos e as crianças avançaram nos pacotes, cada qual pegando seus sanduíches, quando ouço a exclamação do caçula: veio tudo com pickles!

Quase desmaiei. Nossa família inteira detesta pickles, e sempre nós pedimos tudo “grill” no Mc Donald’s (sanduíche normal, mas sem os famigerados pickles, cebolas picadas e temperos fortes).
Preciso falar do resto? Pois saiu o pai bufando, com as sacolas nas mãos, a pé, blasfemando, na direção do drive-thru.

Não sei o que lá ocorreu, mas ele voltou com os sanduíches certinhos, mais 3 tortinhas de maçã, 3 Mc Mix de MM e uns 2 ou 3 sanduíches de brinde...
Ah, como é generoso esse Drive-Thru!

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Publicado por Lílian Maial em 31/07/2008 às 19h51



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