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12/02/2012 14h40
Mais uma estrela que brilha no céu
®Lílian Maial
Whitney Houston faleceu ontem, encontrada numa banheira de hotel, sozinha.
Eu, aqui, envolta em meus problemas, acreditando serem os maiores do mundo, e sou pega de surpresa com mais essa morte de uma pessoa que teria tudo para ser feliz, uma talentosa cantora, com uma das vozes mais potentes e interpretações mais belas, e a artista mais premiada de todos os tempos, conhecida como “The Voice” (A Voz).
Prima da não menos famosa Dionne Warwick e afilhada da diva Aretha Franklin, Whitney começou a cantar com coral gospel júnior, aos 11 anos de idade. Daí, passou a cantar com a mãe em casas noturnas, até ser descoberta e se transformar em sucesso.
O que leva uma pessoa como Whitney a se deixar cair em álcool, drogas, submissões? Como alguém que canta “The greatest love of all is easy to achieve learning to love yourself, it is the greatest love of all” (que literalmente significa “o maior amor de todos é fácil de alcançar aprendendo a se amar, esse é o maior amor de todos”) pode simplesmente deixar de se amar? Ou será que nunca se amou verdadeiramente e buscava isso incessantemente?
Não entendemos nada do ser humano. Há uma tendência a pensar que as outras pessoas não possuem problemas, notadamente as mais abastadas. Acreditar que vivem em mares de rosas, têm vida de contos de fada, não sofrem. Aí, de repente, uma notícia como esta.
Quantos artistas, ao longo dos séculos, já não se destruíram, a ponto de tirar a própria vida, cortar fora a orelha (ou outras partes do corpo), se deixar seduzir pelas drogas, álcool, anestésicos, para conseguir suportar tamanha dor? De onde vem essa dor? Cobranças do sucesso ou, melhor dizendo, do declínio? Ou será possível que todos já fossem deprimidos antes e tentavam o sucesso como forma de preenchimento de seus vazios? O que se esconde por trás dessa dor e solidão dos grandes mitos?
Seres humanos simples, de carne e osso, buscando o entendimento, o amor, a felicidade, como qualquer um de nós. No entanto, têm suas vidas expostas, constantemente vigiados, criticados, cobrados. Não conseguem ter paz, embora tenham riquezas.
E eu aqui, num dia nublado como meu momento, ouvindo baixinho “I will always love You” e “I Look to You”, tentando acreditar que o maior amor de todos é o que está dentro de nós. Whitney nos disse isso. Mas não escutou.
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Publicado por Lílian Maial em 12/02/2012 às 14h40
03/02/2012 22h19
O MUNDO SEM VOZ
O MUNDO SEM VOZ
®Lílian Maial
Deveria saber que bastaria o olhar. Deveria bastar o olhar... Apenas gestos, expressões, o ser humano prestando mais atenção ao ser humano, sua fisionomia, os sentimentos através do relance. Mas não é bem assim.
Foi preciso um silêncio compulsório, uma cirurgia nas cordas vocais, para perceber o quanto regredimos no quesito entendimento humano.
Ouvi dizer que a voz é a identidade da pessoa e a minha, não sem boas razões, vinha se perdendo no tempo, relegada a segundo plano. Assim que despertei, percebi que teria que resgatar tudo o que era “eu” e que estava anulado ou comprometido. E, assim, fui confiante em busca da minha voz.
Lembro-me que costumava cantar todos os dias desde que acordava, que ia cantarolando para o trabalho, o que provocava espanto em diversos colegas.
Hoje, quando paro para pensar que já faz um bom tempo que não canto ou ouço música rotineiramente na minha vida, fico boquiaberta! Já era hora de deixar a música e a palavra soarem livremente nos meus dias...
Operei e tudo correu bem. Contudo, deveria ficar sete dias sem proferir uma única sílaba, sob o risco de não alcançar uma boa cicatrização e ter o resultado aquém do esperado. Imaginei que fosse fácil, afinal, tantas pessoas sobrevivem sem voz, muitas com mudez desde o nascimento, por que eu não haveria de conseguir tarefa tão simples? Ledo engano! Como é difícil se fazer entender nos dias atuais somente com gestos e olhares! O ser humano desaprendeu a ouvir os olhos...
Munida de campainha, bloco, canetas, quadro branco e apagador, fui tentando me comunicar e constatar que é quase impossível se fazer entender frente a frente com as pessoas. No entanto, consegui manter diálogos virtuais nas redes sociais e me vi “tagarelando” pela internet, sem vibrar as desafinadas e rotas cordas do meu aparelho fonador.
Hoje, passados dez dias do procedimento, fui liberada para falar baixo e pausadamente, para ir exercitando as pregas vocais, até assumirem sua definitiva forma.
Curioso que meus filhos reconheceram, em mim, a mãe de outrora, numa alegria inexplicada, dessas de quem revê alguém que partira há muito...
Eu me senti revigorada, como se houvesse encontrado parte de mim, que se perdera nessa busca incessante por cacos nos estilhaços do cotidiano.
Interessante como um detalhe aparentemente simples pode provocar mudanças de atitude.
Hoje, com a nova/velha voz, percebo que estou mais forte, mais decidida, mais eu, como há muito não sentia.
Só lamento ter sentido na pele que a espécie humana esteja a cada dia mais virtual, mais idealizada e desaprendendo o que os bebês entendem tão cedo: a observação através do toque, a comunicação através dos gestos, dos olhos, dos sorrisos.
Sinto muito que a palavra não consiga ser soletrada com os sentidos e que o outro não valha mais do que uns garranchos numa folha de papel.
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Publicado por Lílian Maial em 03/02/2012 às 22h19
11/01/2012 12h12
ESTÁ CHEGANDO A HORA...
ESTÁ CHEGANDO A HORA...
®Lílian Maial
E, então, faltam somente três dias e parece que faz tão pouco tempo que ele chegou...
Lembro-me perfeitamente do momento em que recebi a notícia da gravidez. Estava começando uma residência médica (especialização), um tanto atarefada e tensa, quando comecei a ter dores abdominais. Fui examinada e meu médico não encontrou nenhum indício de alteração ginecológica que suscitasse cuidado. Fui buscar um clínico geral, que também nada encontrou de anormal. E as dores continuavam. Minha mãe se operou nessa ocasião, tentei ajudá-la e acompanhá-la, mas tive uma crise forte de dor e veio a suspeita de apendicite aguda! Bem, resumindo: fiz exame de sangue, que nada acusou, e fiz ultrassom, que mostrou alguma coisa (há 27 anos a ultrassonografia era bem rudimentar, sem maiores detalhamentos das imagens), porém sem definir o que seria, levantando, inclusive, a hipótese de tumor.
Pois bem, agora o “tumor”, a “apendicite” vai se casar. E eu vejo passar na minha mente um filminho interessante, que mostra o bebê mexendo na barriga e me encantando, o parto adiantado (ele já demonstrava uma curiosidade inata com as coisas do mundo e veio um pouquinho antes do tempo), o momento em que pousei meus olhos nele pela primeira vez, com os bracinhos abertos, ainda na sala de parto, todo sujinho, e que tive a certeza plena do que era o amor incondicional, e de quando, sozinhos, eu e o pai, o despimos completamente, para verificarmos, milímetro a milímetro, se ele estava bem.
Vejo os momentos de fominha e o jeito afobado de mamar, mas sempre me olhando nos olhos e segurando minha mão. Vejo o dia em que me emocionei quando o ouvi dizer “mamãe”.
Vejo o dia torturante de deixá-lo na creche, os dias de desespero com as doencinhas de bebê, os de vacinas (manhoso...), os de visitas ao pediatra. Vejo a primeira papinha, o primeiro dentinho, o primeiro tombo. Vejo as primeiras agonias e os primeiros planos. Vejo o amor que o cercava, os pais, os avós, tias, amigos. Vejo sua coragem no primeiro dia na escolinha, a primeira briga, a primeira decepção, a primeira vitória, o primeiro amor.
Recordo o dia do nascimento da irmã, quando adentrou o quarto em euforia, aos quase quatro anos, dizendo que o sol nascia lá fora e que, então, a irmã chegaria, e do quanto ele me ajudou a cuidar dela.
Lembro perfeitamente do dia em que me disse, aos 11 anos, todo solene e cheio de segredos, que já era um homem! E da nossa conversa, palavra por palavra, e do quanto ele absorveu meus ensinamentos sobre respeito e responsabilidades da nova condição.
Como esquecer o dia em que saiu de casa para estudar em outra cidade? Como não recordar as lágrimas cheirando suas roupinhas, que ficariam, como eu, aguardando sua volta?
Nesse filme, vejo o dia de seu retorno, suas inquietações, suas transformações e a minha felicidade de tê-lo por perto novamente. Lembro o quanto o admirei por sua independência-dependente, por sua determinação e capacidade de recuperação e assunção de ares de chefe da família, cheio de decisão e proteção. Estava se tornando um homem de verdade diante dos meus olhos.
Lembro do dia em que chegou em casa cheio de alegria, com carinha de sapeca, dizendo que havia encontrado uma garota maravilhosa, cheirosa, bonita, que, mais tarde, viria ser sua namorada e, agora, daqui a três dias, sua esposa. E do dia em que a apresentou a mim, quando senti que aquela seria a mulher de sua vida, e do quanto meu coração se alegrou com a escolha.
E de sua formatura, eu cheia de orgulho, não cabendo em mim de contentamento, com a sensação de missão cumprida e a gratidão por ter recebido muitas bênçãos dessa vida.
E das três vezes em que ele foi aprovado em concursos para a Petrobrás e que não pôde assumir, por ainda estar cursando a faculdade, e da agonia, depois de formado, de esperar pelo resultado do quarto concurso.
Do dia em que recebemos o telegrama o convocando para assumir na empresa tão sonhada, só que em outra cidade – Salvador - e quando, de pronto, ele disse que teria que antecipar o casamento, pois não conseguiria viver longe dela.
Do dia em que fomos escolher o anel de noivado – coisa mais linda – e da felicidade dele ao me contar como foi o pedido e a reação dela.
E, mais recentemente, de todos os preparativos para esse enlace, cercado de cuidados, carinho e energia positiva de todos os que os conhecem.
É, está chegando a hora de o meu filho formar sua família, começar a trilhar tudo o que já trilhei, só que com o piso mais regular e com a confiança de que sempre estarei aqui para apoiá-lo.
Está chegando a hora dele se lançar nessa longa, linda e laboriosa construção de ser feliz, e torço para que eu possa estar presente em seu futuro e receber a graça de acolher seus frutos, quando, assim, me saberei eterna.
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Publicado por Lílian Maial em 11/01/2012 às 12h12
09/01/2012 21h43
FIAMMETTA
FIAMMETTA
®Lílian Maial
Tive a sorte de poder ir a mais um encontro da turma da faculdade, mais um almoço em que o prato principal foi alegria.
Desta vez, o local escolhido foi o Restaurante Fiammetta, na Barra, onde pudemos conhecer o significado do nome: pequena chama (fiamma = chama).
Na verdade, a história de Fiammetta (alcunha de Maria d’Aquino, musa e amada de Boccaccio) está explicada no próprio restaurante, que afirma que ela é símbolo de tudo o que mais se gosta. Mulher de múltiplos dotes, ela seria chama, fogo e paixão.
Segundo consta, Giovanni Boccaccio (1313-1375), autor e poeta italiano, trancou-a numa Villa da Toscana junto com três cavalheiros e outras cinco damas, e que ali eles teriam passado dez noites e dez dias contando histórias e vivendo as aventuras do clássico Decamerão.
Ainda de acordo com os dados obtidos, a Fiammetta seria a do tipo que saboreia a astúcia do espírito e os prazeres da carne. Mistura de volúpia no corpo e a sedução na alma.
Não sei. O que entendo é que o tempero desse encontro variou entre a chama da amizade, o apelo da lembrança e o prazer da companhia de cúmplices de molecagens adolescentes.
O fogo que iluminou os rostos vinha não se sabe bem de onde, mas certamente acendeu os sorrisos, as brincadeiras, as traquinagens, como também aqueceu os momentos mais introspectivos e emocionantes dos eternos reencontros com os novos membros arrebanhados.
Cada pedacinho de comida saboreado excitava o paladar, porém não mais do que as histórias de vida dos colegas que não víamos já por tantos anos.
Bebemos palavras, degustamos olhares, engolimos algumas lágrimas de emoção, e saímos de lá parcialmente saciados, com a certeza de que novos encontros se darão, com o comparecimento de número cada vez maior de “irmãos”.
Houve comemoração de aniversários do mês, fotos coletivas e a participação de familiares não menos animados de alguns colegas.
Como pode uma salada ser tão saudável, a ponto de se tornar o “prato principal” das conversas, notadamente dos defensores ferrenhos dos animais de teste? Como um prato de massa consegue aglutinar molhos com pequenas surpresas e esperança? E as frutas, como é possível que se tornassem tão perfumadas e espantosamente especiais?
De fato, tudo se torna especial quando o espírito reinante é de amor, amizade, companheirismo. É impressionante, porém, formamos uma irmandade que parou no tempo, atravessou o século e se manteve intacta, feito um fóssil fresquinho de história e identificações. Para nós, o tempo avançou numa dimensão, contudo, ficou estático em outra, que estamos retomando a cada novo encontro.
E não podemos parar! Não queremos parar! Achamos a fonte da juventude, a embriaguez do resgate do passado, com a maturidade e a estabilidade da experiência.
Ainda estou digerindo o bolo de afeto e já estou com fome de felicidade!
Calma! Mês que vem tem mais!!!
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Publicado por Lílian Maial em 09/01/2012 às 21h43
09/01/2012 13h27
NOVO ANO
NOVO ANO
®Lílian Maial
Eu conto os anos como quem coleciona troféus: cada um com seu valor, recheados de vivências e memórias, sempre um aprendizado. Coleciono distâncias, como quem o furto sabe e a brecha do que se lhe foi levado.
Houve um tempo em que eu pulava as horas. Coisa de ansiedade, de querer chegar. Hoje pulo os minutos, mesmo sem vontade (que o tempo nos prega peças muitas) e quero mais é entortar ponteiros.
Por isso vivo de ponta cabeça, agarrada ao ponteiro dos minutos da poesia. Ainda me iludo de que, talvez, quem sabe, consiga pesar na haste do verbo do segundo e impedir que ande... Embora sentido anti-horário nunca tenha feito muito sentido.
Meu calendário é impresso em versos. As palavras passam como brisa, buscando, nas estações, as rimas e a métrica dos meus devaneios.
Como já quebrei os espelhos do medo da morte, não sei mais seu rosto pálido, nem os contornos do seu corpo de pedra. Meus traços não precisam de reflexo. Eu tenho o sol na derme. Sou impregnada de pigmento de quimera. Meu sobrenome é primavera.
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Publicado por Lílian Maial em 09/01/2012 às 13h27
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