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08/03/2007 20h01
CRÔNICA SOBRE O DIA DA MULHER
Mais uma vez vem essa comemoração curiosa de Dia da Mulher.
No mínimo curiosa, porque todo dia é Dia da Mulher. Na verdade, o mundo é da mulher. Deus, certamente, é mulher (que me perdoem os homens, mas seu pseudo-reinado nunca existiu – sua glória somos nós...risos).
E você consegue acreditar que um homem criaria outro à sua imagem e semelhança? Sim, talvez num arroubo de vaidade, mas é questionável... a competição seria grande e eles querem tudo só pra eles. Então, chega-se, por simples dedução, a essa indubitável afirmativa de que Deus realmente é mulher.
E querem comparativo maior da perfeição?
Que outro ser existe, que cresce imaginando se multiplicar em mil, para realizar todos os sonhos dos demais seres ao seu redor?
Que outra criatura é capaz de se entregar ao infinito prazer de sorrir ao contato com a água, o calor do sol, ou um beijo nos olhos?
Que outro produto da natureza é plausível de gerar vida através do amor, doando-se integral e incondicionalmente a esse amor, e ainda suportar todas as dores e dificuldades em nome desse sentimento?
Ah, fazer-se bonita pelo simples prazer de se saber admirada.
Fazer-se ágil, pelo simples fato de não conseguir ficar parada.
Fazer-se amada, pelo simples amor que brota em seu peito.
Observem uma mulher, de qualquer faixa etária, de qualquer raça ou credo, de qualquer lugar do mundo.
Verifiquem a delicadeza de seus gestos, a harmonia de seus traços, o brilho de seus olhos, a umidade de seus lábios.
Ao mesmo tempo, sintam seu perfume de batalha, suas mangas arregaçadas e prontas para os desafios, suas pernas torneadas para se abrirem para o amor, a vida e o prazer, mas também para as longas caminhadas que o destino lhe reserva.
Notem sua estatura, nem tão alta que não se curve ante à beleza, nem tão baixa que não se erga em defesa de seus direitos e convicções.
Provem seu sabor de mãe, lembrando brigadeiro, sonho e macarronada domingueira. Seu gosto de proteção, de desvelo, de carinho interminável, de insone guerreira contra vírus e febres, de ridícula disputante de vaga na escola, ou de títulos de campeonatos de natação ou judô.
Ouçam seus gemidos de fêmea entregue e provocante; de feminista, clamando por justiça; de profissional de qualquer área, orgulhosa de suas conquistas e cônscia de seus horizontes. Sua voz de calma e paz, ou seus gritos impacientes de uma TPM fugaz.
Percebam sua doce inquietação no trânsito, disfarçada de auto-suficiência, mas louca para cruzar com um gentil espécime masculino, que lhe poupe esforços, suores indesejáveis e cabelos desarrumados.
Atrevam-se a prever suas atitudes e afundarão num mar de calamidade, de desacertos e de incertezas.
Somos mais que equações matemáticas, reagimos de forma bem mais abrangente e, portanto, indecifráveis.
Não tentem entender as lágrimas que brotam desses olhos. Lágrimas são adornos naturais e apêndices exclusivos, de acionamento automático ao menor balanço dos sentimentos.
Sim, é um ser complexo e, por isso mesmo, fantástico.
É uma criatura apaixonante, decerto, mas não a interpretem como presa fácil, ou vítima das circunstâncias, sob o risco de cometerem o mais grave erro que jamais imaginaram.
São lindas borboletas, sobrevoando os corações, acariciando os egos, demonstrando suas aptidões.
Mas também são dinossauros de patas devastadoras e de luta pela vida, pelos seus objetivos, pelos seus alvos de amor.
Inútil essa contenda entre macho e fêmea pelo poder, pela inteligência, pelo lugar ao sol, posto que são duas metades, a serem completas apenas quando unidas. Ambos são de carne e osso, sentimentos e alma. Sentem dores, sentem prazer, choram, riem, odeiam e amam com a mesma intensidade, enfim, têm os mesmos atributos.
A única diferença é que a mulher os tem simultaneamente. E isso a faz tão especial, tão intrigante, tão diferente e tão maravilhosa.
Súditos, reverenciem-na!
Bajulem-na!
Amem-na!
Papariquem-na!
Glorifiquem seus dias e seus passos.
E sigam-na, porque ela nunca os levaria por caminhos não confiáveis, já que ela sempre vai na linha de frente, pois prefere se ferir a si, que deixar qualquer alvo de seu amor ser atingido por uma única fagulha de dor.
Ser mulher é ser iluminada, é ter a perfeita noção da perpetuação da espécie, da criação das novas gerações, da responsabilidade assumida com o futuro.
Ser mulher é ser linda, mesmo que seus traços não sejam o ideal venusiano de beleza, mas não importa, porque ela resplandece com a aurora, como uma flor rara e estranha, que insiste em ser diferente e cara.
Ser mulher é acumular todas essas tarefas e ainda se munir de aparatos estéticos, loções, cremes, lingeries, novos cortes de cabelo, cores de unhas, silicones e combate às rugas, no intuito de se fazer mais vistosa e atraente para a maior de todas as dádivas que ela poderia almejar: o homem.
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*foto minha com minhas amigas do tempo da escola, todas mulheres MARAVILHOSAS!!!
Publicado por Lílian Maial em 08/03/2007 às 20h01
03/03/2007 19h16
VISÃO DE FUTURO
®Lílian Maial
“O futuro a Deus pertence”, já dizia aquela máxima, muito conhecida de todos. É a velha mania de se delegar a terceiros a responsabilidade sobre o futuro, as decisões difíceis, enfim, a vida.
Futuro é uma palavra muito vaga, pois as dimensões do tempo gostam de brincar com nossa imaginação e nossa atávica ansiedade. Podemos falar em futuro desde os próximos 5 minutos, até os próximos 50 anos, como também sobre um tempo indefinido.
Eu não gosto muito de falar em futuro porque, a cada dia, acordo buscando um presente. Tento fazer de cada dia o melhor de todos.
É natural que se faça planos, que se sonhe e se tente dar asas aos devaneios, mas não creio que delinear um futuro, sem prestar muita atenção ao presente, seja a maneira mais fácil de se buscar felicidade.
Êpa, será que misturei os canais? Nada, misturei não. Falar de futuro implica em falar de felicidade, pois esta é o fim, que tantos meios teimam conduzir.
Quando se planeja algo, é com o objetivo de alcançar um alvo, e esse alvo certamente trará felicidade, caso contrário, não se planejaria ficar infeliz. Então, pela lógica, encaramos o futuro como felicidade. Quando alguém planeja fazer uma carreira, ter emprego, casar, constituir família, qual o objetivo? Hummm... Está ficando interessante... Então o futuro é a felicidade?
Muito bem, se o futuro é a felicidade, por que deixar pra depois? Por que não ser feliz agora? E é muito mais simples do que se pensa, basta entender o que já se tem, o que já se fez, o que já se é, para perceber o quanto já se caminhou nas trilhas da tal felicidade.
Muito do que se planejou de futuro um dia, hoje já aconteceu, já é agora. Se alguém planejou se formar, na solenidade de formatura esse alguém atingiu o futuro. Naquele dia, o futuro é presente. Se planejou ter uma família, no dia do casamento ou nos dos partos, olha lá o futuro virando presente!
E hoje, qual tempo é hoje, presente ou futuro? Será que nada foi planejado um dia, para futuro, que esteja acontecendo hoje? Se estiver, o futuro é presente...
Enrolado? Nem um pouco. O que pretendo mostrar é que o presente é um futuro que aconteceu. Portanto, a minha visão de futuro é hoje, aqui, agora. Quando planejo o futuro, tenho plena consciência que estou numa roda-vida, num ciclo, numa dimensão em constante movimento, onde o tempo é relativo, como a minha vontade de percebê-lo.
Se hoje estou feliz com alguma coisa, há algum tempo posso ter imaginado aquilo muito distante, ou até mesmo impossível. Foi exatamente a visão de futuro no presente, aliado à relatividade do tempo, que fizeram com que acontecesse. Pessoa certa, na hora certa, no lugar certo? Ou pessoa intensa, a qualquer hora e em qualquer lugar, simplesmente vi-vendo?
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Publicado por Lílian Maial em 03/03/2007 às 19h16
16/02/2007 10h13
O CARNAVAL
Lilian Maial
Muito já se falou sobre o Carnaval. Festa de um povo, alegria da comunidade, momento para o exibicionismo dos mais abastados, furor jornalístico, modismo, fonte de recursos turísticos, e muita coisa mais.
Mas pouco se diz sobre o significado individual do Carnaval, sobre os sentimentos, as emoções da festa, os preparativos, que duram um ano, e que se desfazem em quatro dias.
O Carnaval começa na Quarta-feira de cinzas, para a maioria dos organizadores, diretores de escolas de samba, músicos, criadores de enredo. Para o verdadeiro carnavalesco, a Quarta-feira não significa o fim do Carnaval, mas o instante de começar a pensar no próximo enredo.
É isso. É uma energia circulante, uma onda interna que se move, que não tem chegada e nem saída, porque está dentro do folião. É uma coisa meio irracional mesmo. Mas as melhores coisas dessa vida não têm muita razão.
Ninguém questiona um parto de poucas horas, diante de uma gestação de nove meses. Ou um desabrochar de uma flor, que só vai durar um dia, necessitando, para isso, que toda a planta cresça a partir da semente.
Ninguém questiona os poucos instantes do gozo, que precisou de muito envolvimento, excitação, para chegar ao clímax de poucos segundos.
Ninguém questiona a morte, que é tão simples, e que se leva uma vida inteira para aceitar.
O Carnaval é assim: um ano inteiro preparando, ensaiando, comprando fantasia, criando samba, carros, alas, ornamentações, para se desfilar por pouco mais de meia hora e valer toda uma vida.
Mas você já desfilou? Não? Ah, é por isso que não compreende! Pois você precisa desfilar. É mágico. Alguma coisa muda dentro de você quando você está chegando na concentração, quando você começa a se vestir do sonho. Você deixa o sonho para entrar na fantasia – é, no mínimo, curioso.
Ali, no meio daquela gente toda, no meio da rua, colocando a roupa. Gente que você nunca viu vem lhe ajudar a dar os retoques, porque, no fundo, todos querem que a escola de samba se saia bem no desfile.
E você se deixa envolver por aquele ambiente. Se deixa não, você não tem outra escolha, você é invadido de brilho, de samba, de um amor estranho. Você é todo purpurina, em corpo e alma. Sua alma brilha um brilho esquisito. Uma alegria que não tem muita razão mesmo, mas que, indubitavelmente, faz você sorrir.
E aí você está pronto, todo cheio de luz, numa ala, arrumadinho, todos de mãos dadas. E não é só por querer não. Os diretores de harmonia organizam as alas dessa maneira. Todos se dão as mãos, mesmo que você nunca tenha visto seu companheiro de ala.
Engraçado, mas você pode estar de mãos dadas, de repente, com seu juiz, se você for o réu, ou com seu paciente, se você for médico, ou com seu assaltante, se você foi roubado, ou com um sem número de alternativas. Mas, naquele momento, você está de mãos dadas com seu irmão de samba e de escola.
E a bateria começa a estremecer o chão e a carregar de emoção um coração já castigado até então.
E o desfile começa.
Nossa! Ala a ala, você vê a passarela ir chegando, aquele povo todo gritando, sorrindo pra você, tudo luz, tudo cor, tudo som, tudo coração disparado. E, milagrosamente, os pés ensaiam uma coreografia conhecida – eles andam! E sambam! E fazem tudo certinho! E você não está nem aí! Nem repara o quanto está feliz, o quanto perdeu a noção de tempo e espaço, o quanto aquilo passa em câmara lenta.
É um narcótico! Você está drogada, pela droga mais potente de todas: FELICIDADE.
E o diabo é que está irremediavelmente viciada.
De entorpecida, você passa a traficante e precisa que os outros, na platéia, vibrem e sintam o que você está sentindo, e começa a incitar a audiência a se drogar com você.
Devia estar previsto em lei, haver legislação e pena para quem contaminasse os outros dessa maneira. Mas não há, portanto, a arquibancada e os camarotes, em comunhão, incorporam aquele sentimento (transitório para eles, porque vem logo outra escola atrás) de total e indecente bem-estar, levando você a entender que está nos braços de Deus.
E pensar que chegou-se a insinuar que Carnaval seria uma festa profana!
Mas como? Se ali, entre irmãos, se está com Deus, se atinge o Paraíso, o Nirvana?
Os brilhos passam como sinais de amor, os acenos e sorrisos são como a aprovação do bem, da emoção, da alegria. Vocês estão abençoados. São arautos da felicidade. E o samba penetra nos ouvidos como vozes de anjos. E o samba sai pela sua boca como melodias celestiais que têm o dom de encantar quem a escuta. E o seu suor, um banho de bênçãos, que vão lhe proteger da dor e amargura, enquanto ele durar, molhando o corpo.
Se você olhar bem para seu irmão do lado, vai ver o prazer estampado em suas feições. O mesmo gozo. O mesmo plano divino.
Para quem é espiritualizado, ali, naquela passarela, praticando atos considerados hereges, encontraremos um mar de almas iluminadas, de auras com mais purpurina que todas as fantasias do mundo juntas sob refletores. Ali, quem visse de cima, ficaria cego de tanta beleza, tanta luz, tanta paz.
Para quem é folião, aquilo é a glória. É um momento onde nada mais existe, a não ser a necessidade de mostrar ao mundo o quanto é Carnaval.
Aí você vai me dizer que tudo isso vai acabar na Apoteose, que amanhã é Quarta-feira, que a vida volta ao seu normal, e que foi um desperdício.
Ah, meu amigo, você nunca amou.
Você acha mesmo que, após terminado um amor, ele de nada lhe valeu? Que após a felicidade que ele lhe proporcionou, ele não lhe operou mudanças? Que depois de ficar extasiado com tanto sentimento nada de bom ocorreu com você?
Pois então, é por aí! Quando acaba, não acaba. Como o amor. Você vive em busca de amar. Não escolhe a quem, mas quer amar.
Pois é. Já está pensando no próximo ano, não é? Na próxima fantasia.
E então? É isso. É Carnaval!
E Carnaval é fantasia.
Carnaval é amor.
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Publicado por Lílian Maial em 16/02/2007 às 10h13
11/02/2007 18h31
As Esperanças arrastadas por bem mais que sete quilômetros...
®Lílian Maial
Comoção nacional, eu sei, mas não consigo trabalhar as coisas com o imediatismo e a falta de memória da população. Não consigo me assustar em proporções maiores com o caso desse menino que morreu arrastado por 7km, preso pelo cinto de segurança ao carro que os bandidos roubaram, e que sua mãe não conseguiu soltar, na pressa, do que com outros meninos arrastados a uma vida que não tiveram escolha.
Entendo a dor dessa mãe, dessa família, mãe como eu também o sou, percebo a maldade, a falta de respeito à vida, a inversão de valores, porém me esforço e não entendo o quanto tamanha violência possa ser maior que a dos idosos incendiados no ônibus, presos por não terem a agilidade dos jovens para escapar, ou a indiferença das pessoas diante dos meninos malabaristas de sinal de trânsito (semáforo), ou ainda diante das meninas prostituídas, quando ainda deveriam estar brincando de bonecas.
É óbvio que vejo a gravidade do caso e a necessidade de providências, contudo não sinto em quê esse fato é mais sério do que o descaso social com as crianças todas, com a falta de vagas em escolas, as reformas educacionais que não comportam o aprendizado, mas o passar de ano.
Não imagino violência maior do que o estado de maquiagem de fachada dos hospitais públicos, das escolas públicas, enfim, de quase todos os serviços públicos, para os quais pagamos impostos exorbitantes, e que deveriam, portanto, ser padrão de excelência em todo o mundo, porque não há país no mundo que pague tanto para receber tão pouco.
Se formos analisar a raiz de todo o mal e a violência que estão aí, chegaremos num denominador comum, tão alardeado há muito por inúmeros estudiosos, como o Professor Darcy Ribeiro, que é a educação (ou falta dela). No planejamento do Professor Darcy Ribeiro para os CIEPs, era imprescindível ocupar as cabecinhas das crianças com estudo, cultura, arte e uma profissão, num ciclo integral na escola, de formação de homens de bem, com alimentação balanceada de qualidade, assistência médica, odontológica e psicológica, ensino profissionalizante, para que o adolescente já saísse com chances de absorção pelo mercado de trabalho, com instrução, formação profissional e cultura geral. O conhecimento gera o desejo de desenvolvimento, de crescimento interior, com a cristalização de valores, como a família, o estudo, o esforço individual para conquistas e sucesso.
Sem a educação completa, o que vemos são crianças freqüentando a escola para comer e farrear com colegas, muitos com péssimas influências sobre os demais, como pequenos xerifes, já mostrando, desde a tenra infância, que há dois grupos distintos: os que estão com eles e os que estão contra eles. Não preciso dizer mais nada, não é?
Crescendo assim ou no ócio, essas crianças irão se transformar em quê?
A mim, me comove e me revolta ver crianças sem sala de aula, professores sem dignidade, quase que apanhando dos alunos, diretores pressionados por normas estabelecidas sem a vivência do ambiente escolar, sem noção da realidade vivida em cada comunidade e em cada bairro.
A população ainda não entendeu que quem comete hoje esses atos de barbárie foram aquelas crianças ignoradas e esquecidas de ontem, foram aquelas para as quais se fechava vidros de carros, se virava o rosto nas ruas, se evitava olhar nos olhos famintos.
Quantos filhos meus, nossos filhos, terão que ser arrastados por 7km, para entendermos que muitos outros filhos já são arrastados na lama há décadas, talvez séculos, sem que nenhum de nós se comova ou faça algo para defendê-los.
Hoje a população se revolta e enluta por esse menino de apenas seis anos, barbaramente assassinado, mas continua a esquecer que os incontáveis meninos de até bem menos idade continuam a serem arrastados a esse caminho, por nossa culpa, por culpa da anuência dos pais dos outros meninos, cujos filhos ainda poderão vir a serem arrastados amanhã. Se não acordarmos para a situação social em que vivemos, em breve não teremos mais chance de abrir os olhos.
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Publicado por Lílian Maial em 11/02/2007 às 18h31
06/02/2007 10h04
PARABÉNS PRA VOCÊ...
®Lílian Maial
Há alguma coisa mais bizarra do que fazer aniversário? E ainda mais depois dos 40! Nada a ver com clichê, é apenas a simples constatação da decadência do Império Romano...
Pior ainda se vem acompanhado de pentelho branco!
Quer coisa mais horrorosa que pentelho branco?
Na hora H, aquilo lá, detonando com anos de sono dormido com cremes, sacrifícios depilatórios, tinturas de cabelo, escovas, mechas, manicura. Tem jeito não! Pode até se tentar pintar, mas em algum ponto um toquinho de fio vai denunciar.
Pode-se tentar voltar aos tempos da inocência, à tenra infância, e tirar tudo, ficar lisinha. No entanto, os danados dos pelinhos crescem de novo, mais fortes e espessos, e dão aquela sensação de aspereza (o troço espeta). Depilar a cera? Nem pensar! Abaixo o sofrimento!
Então é assumir e achar graça.
Mas não é só isso que torna aniversário um troço chato, tem também aquelas ligações de familiares que só se lembram de você uma vez por ano, justamente nesse dia, e aproveitam pra ficar horas no telefone, contando coisas de quando você era criança, ou falando de suas mazelas pessoais e de toda a família. E você lá, querendo ir à praia...
E as festinhas-surpresa, que você é quem paga?
E as “lembrancinhas” que você ganha de presente, que teria vergonha de dar a alguém?
E as velinhas, que tem sempre um engraçadinho que se preocupa em contar, que vão preenchendo a superfície do bolo, aumentando invariavelmente a cada ano?
Definitivamente deveria ser pulada, no calendário, a data do aniversário. Tão mais simples! Você dormiria na véspera e acordaria no dia seguinte.
Que nada! É tudo muito chato, mas é tudo muito aguardado com ansiedade. E se aquela tia hipocondríaca não liga, você já fica preocupada com o que estaria acontecendo, até mesmo temendo por sua saúde (afinal, ela viu você nascer...).
Nada mais gostoso do que comemorar com os entes queridos, os amigos animados, as pessoas que realmente contam. Nada melhor do que perceber que você não está passando seus dias em branco (como o pentelho) e que, para algumas pessoas, você importa, e muito.
É estranho saber que, debaixo de toda a produção, o pentelho branco está lá, avisando que você tem mais é que sossegar o facho. Porém você esquece dele de propósito, que tudo é festa, e só quando for guardar tudo e limpar a casa é que vai se dar conta do tempo. Mas aí já será tarde, porque você já está no dia seguinte, e não é mais dia do seu aniversário.
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Publicado por Lílian Maial em 06/02/2007 às 10h04
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