Lílian Maial

Basta existir para ser completo - Fernando Pessoa

Meu Diário
23/12/2006 16h37
Já não se faz mais Papai Noel como antigamente!
Hoje é o último dia para os \"atrasildos\" de plantão fazerem suas compras de Natal, supermercado e essas coisinhas de última hora. Não tem jeito: entra ano e sai ano e o povo sempre deixa para o último dia para fazer tudo.

Se vc pensa em ir ao supermercado hoje, trate de levar uma cadeira de praia para a fila, um saco de paciência e um sorriso amarelo nos lábios, pois é capaz de ainda ser entrevistado por algum canal de TV, como um "típico brasileiro que deixa tudo para a última hora", e sair na telinha com aquela cara de bundão.

Se vc não comprou ainda seus presentes, prepare-se para encontrar somente aqueles mais caros, ou aqueles que ninguém quer receber, nem do pior inimigo.

Nem pense em pijamas, gravatas, meias, cuecas (para os homens), ou chinelinhos, sabonetinhos, caderninhos de telefone e CDs de mau gosto (para mulheres). Já basta o que recebeu do amigo oculto do trabalho e quer repassar com urgência!

É engraçado esse negócio de Natal. Vc se vê numa ciranda de coisas absurdas, mas não se livra de fazer parte dela. A começar pela tradição das comidas que nada têm a ver com nosso clima, seguindo pela refeição servida tarde da noite (que todos sabem fazer um mal terrível), terminando com a bebedeira de vinho, ponche e o que mais tiver, com uma inexorável dor de cabeça no dia seguinte.

Antes, porém, há todo um ritual de visitação a lojas e mais lojas, numa tentativa de ser o mais original possível no quesito "inutilidades" de presente para aquelas pessoas que não se pode deixar de presentear, pq tb vão dar um presente tão inútil quanto.

Sem falar na corrida ao supermercado, na roupa nova e nas intermináveis horas à beira do forno e fogão, preparando os assados e complementos por mais de 24 horas, para a degustação da família, que sempre terá pelo menos um membro que vai sair falando mal de alguma coisa.

Mas isso é Natal, minha gente! E o espírito natalino se alastra feito praga pelo mês de dezembro, com a disseminação de enfeites, luzes, musiquinhas, árvores de terras estrangeiras (já viram alguém comprar imitação de jacarandá?), gorros com pompons, frutas secas e gordurosas.

Quem não tem um enfeitezinho de Natal, uma luzinha e não prepara uma comidinha especial nesse dia?

E aí vemos que o Natal é realmente uma festa importada, globalizada e "hipocritizada", pois o comércio se vale da comemoração da suposta data de nascimento de um ícone religioso (dotado de altruísmo e idéias de respeito e valorização da fraternidade), para lançar o consumismo, a disputa, além de enfatizar as diferenças sociais.

Um dia sonhei com um Natal brasileiro, comemorado na praia, com muita água de coco, banana, abacaxi, peixe na telha e suco de frutas, com a ceia em pleno meio-dia, com uma imensa toalha estendida, onde as famílias se uniriam ao ar livre, e dividiriam seu "pão" e seu "vinho" com aqueles que nada levaram.
Tocaria somente música popular brasileira, e nossos enfeites seriam de pássaros e flores da nossa terra, carregados nas tintas verdes e amarelas, e todos se dariam as mãos, felizes por compartilharem do verdadeiro amor.

Estava no meio desse sonho lindo, quando o relógio apitou, avisando que o termômetro do peru havia subido, e acordei no meio de rabanadas, nozes, castanhas e indefectíveis bolinhos de bacalhau.

Jingle Bells, baby, enquanto pode, porque em breve, com o aquecimento global, o Natal será uma remota lembrança de um velhote extinto, que usava roupas super quentes, porque um dia já houve clima frio e neve na Terra.

Num futuro próximo, Papai Noel usará apenas o gorro, a barba e as meias e, ao invés de sair sorrindo e gargalhando com a renas, será acordado por lambidas de algum cão vagabundo, depois de cair exausto e completamente bêbado, de tanta cerveja pra agüentar o calor.

Enquanto isso não vem, deixemo-nos impregnar pelo sonoro Ho! Ho! Ho!
E um FELIZ NATAL a todos vocês!


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Publicado por Lílian Maial em 23/12/2006 às 16h37



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