Lílian Maial

Basta existir para ser completo - Fernando Pessoa

Meu Diário
01/01/2010 20h49
A RESSACA DO DIA PRIMEIRO – VERSÃO 2010
A RESSACA DO DIA PRIMEIRO – VERSÃO 2010
® Lílian Maial 

 
Dois mil e dez já começou muito bom, e promete... Era prevista uma virada de ano com chuva, e o tempo deu um tempo para os cariocas, e conseguimos chegar em 2010 com alegria e sequinhos. Champanhe excelente - rapidamente esvaziada - fogos coloridos e, para fechar o ano com chave-de-ouro, ou melhor, de prata, uma lua azul, que é como é chamada a segunda lua cheia num mesmo mês.

Após um pequeno tempinho para lembranças (dos meus mortos e de alguns vivos), não houve mais lugar para nada, que não fosse positivo, esperançoso e otimista.

Acordei tarde, lânguida e feliz, num ano regido por Vênus, Oxalá (auxiliado por Iemanjá),  e do Tigre, no horóscopo chinês, que promete que tudo acontecerá com maior intensidade, tanto para o bem, quanto para o mal. Ele representa a coragem, a potência, a ousadia e a paixão, e pode significar superação.

Já Oxalá promete encher o ano de 2010 de beleza, amor, evolução e tendência à perfeição, em resumo: progresso. E Iemanjá, orixá adjunto em 2010, auxilia nos casos de saúde, e tende a trazer fartura, paz e amor.

Sob a regência de Vênus, o toque especial do ano será a busca do entendimento, paz e divisão com o semelhante, isto é, altruísmo, sem falar no prazer e satisfação.

Assim, já me levantei consciente de que o ano de 2009 trouxe muita apreensão, escândalos, corrupção, gripe suína, crise mundial, e que 2010 não será muito fácil, porém, se mantivermos a postura otimista e de colaboração, de amor e fraternidade, este poderá ser o ano de união, reorganização e ultrapassagem de obstáculos.

E, surpreendendo a todas as previsões, o sol surgiu para alegrar o primeiro dia do ano, num prenúncio de coisas boas e iluminadas.
Como no início de 2009, não me perdi em "balanço" do ano que terminava, nem senti que houve interrupção em nada na minha vida. Foi apenas um dia de festa, de brilho e sorrisos. Não fui à praia, imaginando que fosse chover, mas descarreguei todo o tipo de pensamento negativo, apenas deixando-me tomar pela alegria e gratidão por estar viva por mais um ano, por poder abraçar meus filhos mais uma vez, sentindo seu amor e confiança, e por ainda ter minha mãe comigo, mesmo que com todas as restrições que a idade lhe impõe.

Agradeci, ainda, o novo amor que entrou na minha vida, que é minha futura nora, atenciosa, carinhosa e que vem contribuindo para a felicidade de meu primogênito, e a minha, por tabela.

Sem que eu tivesse provocado, fui invadida por um gostoso sentimento de plenitude, de satisfação pela capacidade de administrar as intempéries que sempre surgem sem aviso, além da inesgotável fonte interior de amor e alegria com os valores mais simples.

Apesar de todas as mazelas nacionais, senti um imenso orgulho de ser brasileira, de pertencer a esse povo forte, resistente, bem-humorado e feliz. Orgulho de nos superarmos nos esportes, mesmo sem grandes incentivos e patrocínios. Orgulho por termos conseguido superar a crise mundial, se não como uma lagoa de águas plácidas, ao menos como um mar de ondas pouco assanhadas. Orgulho por termos sido escolhidos para sediar as Olimpíadas de 2016, após já termos sido agraciados como sede da Copa de 2014. Um orgulho danado de ter visto o presidente do meu país, a despeito de toda a algazarra acerca de seu pouco estudo, ter superado em carisma e eloqüência, nas reuniões em Copenhague, para a defesa do meio-ambiente e combate ao aquecimento global, o próprio presidente dos EUA – tão aclamado como esperança pelo mundo.

Sei que 2010 será um ano de luta, de aperto financeiro para o crescimento necessário, de combate à corrupção e ao tráfico de drogas, de união para fazer valer nossa voz nas conquistas sociais e na busca tão propalada pela paz.

 Mas nada disso poderá ser realizado, se não começarmos a nos organizar dentro de casa, na criação dos filhos, com valores justos, no nosso prédio, na nossa rua, no bairro, na cidade. É preciso que tenhamos consciência de que “uma andorinha só não faz verão”, ou melhor, o individualismo não nos leva adiante.

Este é o momento de tomarmos iniciativas e partirmos para atitudes e ações. Os planos já tiveram muito tempo. É hora de agir. Para isso, temos que nos dar as mãos, porque somente a união será capaz de gerar frutos. Até a natureza sabe disso!

Este ano, ainda não passei a minha agenda a limpo. É uma tortura necessária, que adio o mais que posso, porque sei que vou encontrar aqueles nomes que eu deveria ter visto mais, aqueles que deveria esquecer, e alguns que sei que me esqueceram, além daqueles que terei de apagar, por não estarem mais entre nós. No entanto, passei a computar com mais alegria os novos nomes, aqueles que não estavam na agenda do ano passado e, certamente, deixarei bastante espaço para os nomes de quem ainda conhecerei.  

Em 2009, tive a oportunidade de viajar bastante, a trabalho, e travar muitas novas amizades com meus alunos. Foi uma dádiva, que pretendo continuar em 2010, preenchendo a agenda com nomes de todos os cantos do país, que tem um povo maravilhoso, tão rico em semelhanças e diferenças.

Nesse momento, vou até minha varanda, cheia de plantas e flores, e verifico que quase não há pessoas nas ruas. Todos em suas casas, em suas vidas, em suas letras, num retiro voluntário. É quando meu pensamento se volta para os plantonistas, que deixam suas famílias e seus lares, para que outras famílias tenham o alento de alguém que cuide de seus amados. São médicos, enfermeiros, auxiliares, recepcionistas, bombeiros, policiais, farmacêuticos, cozinheiros, garçons, repórteres, fotógrafos e tantos outros profissionais dedicados, que cuidam dos doentes, dos desabrigados, das vítimas de incêndios e desabamentos, além daqueles que trabalham para que tenhamos lazer.

Meu pensamento também voa para junto dos idosos em asilos, dos doentes em instituições, dos presidiários arrependidos, dos órfãos, dos pacientes terminais, dos deprimidos, dos solitários. Talvez eles não tenham sorrisos, e eu tenho tantos...

Mais uma vez percebo que, apesar do calendário e da tecnologia me dizerem o contrário, nada realmente mudou, no mundo, em mais de dois mil anos, a não ser os ponteiros da balança, depois das festas...
Feliz 2010 para todos nós, com amor e generosidade!
 
**************************************************

Publicado por Lílian Maial em 01/01/2010 às 20h49



Site do Escritor criado por Recanto das Letras
 
Tweet